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 | Foto: Marcos Santos/ USP Imagens/Fotos Públicas
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O Brasil dos desempregados já tem quase a mesma população de Portugal: beira os 10 milhões de habitantes. Por hora, 282 brasileiros passam a fazer parte desse contingente, segundo cálculos do economista Alexandre Cabral.

A estimativa é de que, até o fim do ano, serão 12 milhões de pessoas no país. Vai ser cada vez mais difícil não conhecer alguém que esteja desempregado. E, para quem já está sem emprego, a dificuldade será encontrar portas onde bater. “Isso é muito grave, porque com exceção da agricultura, não há mais nenhum setor livre do fantasma do desemprego”, diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados. “E não se trata de uma crise conjuntural, com uma queda temporária. O problema é estrutural.”

A nova onda de retração no mercado de trabalho ficou evidente a partir do segundo semestre do ano passado, quando os setores de comércio e serviços – grandes empregadores de mão de obra – começaram a demitir com mais força. A piora se somou aos desligamentos na construção civil e na indústria, em crise há mais tempo.

Em 2015, o comércio fechou 208 mil postos de trabalho, depois de mais de dez anos de criação de vagas. “Para este ano, estamos esperando o corte de 220 mil postos, já que o ajuste começou mais tarde no setor e muitos seguraram as demissões por causa dos custos”, afirma Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio. No comércio, diz Bentes, contratação é sinônimo de crescimento nas vendas - o que não está acontecendo. Em 2015, as vendas recuaram 8,6% e, neste ano, devem cair 8,3%.

O que ajuda a explicar a forte piora nos setores de comércio e serviços é a queda da renda do Brasil. Em 2015, o recuo real, quando descontada a inflação, foi de 3,7%. A última queda havia sido observada em 2004, de 1,4%. Neste ano, deve chegar a 2,5%. “Se existiam sinais de que poderia haver uma melhora das condições do mercado de trabalho, os últimos dados mostram que todas as fontes fecharam”, diz Claudio Dedecca, professor da Unicamp.

“Em menos de dois anos, o Brasil deixou a condição de pleno emprego”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada. A velocidade com que o mercado de trabalho se deteriorou tem impressionado economistas. “Até o início de 2014, os empresários esperavam uma recuperação e eles seguraram o quanto puderam para não demitir”, diz Mendonça de Barros. “Quando eles perderam a esperança, foi uma correria para ajustar a estrutura.”

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