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O consultor Raphael Cordeiro: quem não poupa tem dificuldade em realizar sonhos de consumo, e corre mais riscos de se endividar | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
O consultor Raphael Cordeiro: quem não poupa tem dificuldade em realizar sonhos de consumo, e corre mais riscos de se endividar| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Fragilidade

Baixo nível de poupança limita o crescimento - Os baixos níveis de poupança não afetam apenas a saúde econômica das famílias brasileiras. Prejudicam, também, a capacidade de crescimento do país. Comparada ao Produto Interno Bruto (PIB), a taxa de poupança no Brasil é de aproximadamente 15%, um nível considerado baixo para os padrões internacionais.

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Mesmo com o aumento da renda nos últimos anos, o brasileiro ainda não adquiriu o hábito de poupar. Levantamento da Paraná Pesquisas, exclusivo para a Gazeta do Povo, mostra que 61% dos moradores de Curitiba não economizam um centavo sequer do seu salário. Desse total, 89% terão que recorrer a familiares e fazer bicos se perderem o emprego e ficarem sem rendimento algum.Salários baixos, despesas elevadas e endividamento são apontados pelos entrevistados como as principais razões para as dificuldades em fazer uma poupança. "A pesquisa comprova que poupar não é um traço cultural do brasileiro, que não tem uma tradição de prudência", diz Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, diretor da Paraná Pesquisas.O levantamento, realizado em Curitiba com 585 pessoas entre os dias 19 e 21 de outubro, revela ainda que a maior parte dos entrevistados pretende passar a economizar nos próximos meses. Comprar a casa própria, ter uma reserva para algum imprevisto ou para o caso de perder o emprego são, pela ordem, os principais objetivos de quem quer poupar. Investir em educação e aderir a um plano de previdência, por outro lado, ainda estão em segundo plano para a maioria.O comportamento pouco poupador também tem razões sociais, segundo analistas. A capacidade real de poupança está concentrada em 30% da população, já que a riqueza ainda está nas mãos de poucos. O brasileiro médio ainda tem sede de conquistas básicas, como alimentos, eletrodomésticos, o primeiro carro. Quando percebe uma melhora da renda e passa a ter acesso a crédito, ele quer realizar rapidamente sonhos de consumo reprimidos."É preciso lembrar que o brasileiro não partiu do zero, ele partiu do ‘menos’", diz Alexandre Assaf Neto, professor de finanças pessoais da Universidade de São Paulo (USP). "Por isso que o consumidor prefere comprar um carro em 60 meses a economizar para comprar à vista. Mesmo com medo de perder o emprego, ele se arrisca", completa Oliveira, da Paraná Pesquisas.

Embora a maior parte dos entrevistados admita que já tenha passado por algum tipo de dificuldade por não ter uma reserva financeira, ainda são minoria (39%) os que conseguem estabelecer uma rotina de economia. "A maior parte das pessoas ainda não consegue se organizar e ter disciplina para guardar dinheiro", diz o consultor em finanças pessoais Raphael Cordeiro. Porém, salário baixo, na opinião do especialista, não é desculpa para não economizar. "A equação, embora exija esforço, é simples: não gastar tudo o que se ganha e buscar formas de aumentar seu rendimento."

Segundo Cordeiro, quem não poupa, além de ter mais dificuldade em realizar seus grandes sonhos de consumo, pode facilmente se endividar em uma situação de perda de renda. Ele cita, por exemplo, o caso de pessoa com uma remuneração de R$ 3 mil e que gaste tudo o que ganha. "Suponhamos que essa pessoa fique três meses sem rendimento e tenha que sobreviver com empréstimos do cheque especial ou crédito pessoal, cujas taxas mensais de juros chegam a 10%. Em três meses, ela terá que ter emprestado R$ 8 mil, R$ 9 mil, e pagará juros de R$ 900. Na prática, significa que essa pessoa não somente se endividou como aumentou suas despesas mensais em 30%. É um caminho para a falência econômica", acrescenta.

Sem o hábito de poupar, a revisora Elisângela Pereira Brito, de 32 anos, sabe bem o que é isso. Formada em Letras, ela se viu em apuros quando o marido, professor de Física, perdeu o emprego. "Na época, há dois anos, ele recebeu indenização, mas admito que esbanjamos um pouco e hoje temos que nos virar para pagar as despesas", diz ela, que trabalha em uma instituição de ensino.

Para fechar as contas no fim do mês, Elisângela apela para ajuda de familiares e busca trabalhos temporários. Quando não consegue fazer os extras, sua renda fica em R$ 1,2 mil, para uma despesa fixa de R$ 900, sem contar com os gastos com alimentação e com o filho, de dois anos. Agora, como o emprego novo do marido, ela quer virar o jogo. "Nosso objetivo é pagar as dívidas e economizar para sair do aluguel e comprar um imóvel", afirma.

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