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Dilma Rousseff assumiu em janeiro de 2011 com o juro real em mais de 6% e a meta de levá-lo a 2%. A taxa hoje está na casa dos 4% | Ueslei Marcelino/Reuters
Dilma Rousseff assumiu em janeiro de 2011 com o juro real em mais de 6% e a meta de levá-lo a 2%. A taxa hoje está na casa dos 4%| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Reflexos

Retirada de estímulos dos EUA pressionam juros no Brasil

Além da inflação, um outro fator deve pressionar os juros. Especialistas dizem que a provável retirada dos estímulos pelos Estados Unidos, ainda que gradual, deve mudar o cenário de investimentos e de juros no mundo.

Uma eventual subida dos juros americanos, como forma de combater a sua inflação, pode provocar migração de investidores para aquele país. "Nós estamos com juros de dois dígitos em um cenário de relativa folga externa. Isso pode piorar bastante dependendo de que mudanças os EUA farão", diz Marcelo Curado, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O Brasil, com a piora nas suas contas fiscais, encontrará mais dificuldade para atrair investimentos, o que pode forçar a manutenção de taxas de juros elevadas. Para Lucas Dezordi, da Universidade Positivo, esse cenário pode ficar ainda mais difícil se o Brasil não conseguir arrumar sua situação fiscal. "Uma eventual perda do grau de investimento poderia gerar uma fuga de capitais para outros países", diz.

A alta da taxa de juros anunciada na semana passada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), para 10% ao ano, parece ter colocado fim à breve era dos juros baixos no país. Depois de atingir a mínima histórica de 7,25% de outubro de 2012 a março desse ano e permanecer em um dígito por quase dois anos, a taxa voltou a subir e bater a casa dos dois dígitos. E, ao que tudo indica, vai continuar a aumentar em 2014.

INFOGRÁFICO: Confira a evolução da taxa básica de de juros (Selic)

Pelo menos três fatores pressionam os juros para o próximo ano. A alta dos preços, que apesar da alta das Selic, ainda não cedeu como o esperado, a tentativa do Banco Central recuperar a credibilidade em relação ao compromisso com o regime de metas de inflação e, por último, uma mudança de cenário global, com a recuperação dos Estados Unidos. Estimativas de mercado apontam para uma Selic de até 12% no fim de 2014.

Para Lucas Dezordi, pro­­­fessor da Universidade Positivo (UP), os juros devem permanecer elevados até 2015. "Não vejo a taxa Selic cedendo antes disso. A inflação permanece como desafio e o Banco Central deverá continuar a esfriar o consumo", diz.

Para 2014, novos fatores de pressão inflacionária devem surgir, como o aumento dos combustíveis e o reajuste dos preços administrados, além da influência do setor de serviços, cuja alta de preços continua acima dos demais.

Após ficar seis meses na mínima histórica de 7,25% ao ano, a Selic começou a ser ajustada em abril. Juros baixos eram uma das principais bandeiras políticas da presidente Dilma Rousseff, que assumiu em janeiro de 2011 com a ideia de levar o juro real para patamares civilizados de 2% até o fim do seu mandato. Com a alta para 10%, o Brasil volta a ter um dos maiores juros do mundo – com taxa real de 4%.

Para Marcelo Curado, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o país teria poucas chances de sustentar taxas de juros de primeiro mundo por muito tempo. "A queda de juros foi feita na marra, sem que a economia estivesse preparada para isso", afirma.

A alta dos juros obedece principalmente, segundo ele, a estratégia do Banco Central de recuperar a credibilidade em relação ao controle da inflação.

Nos últimos tempos, o Banco Central tem sido acusado, por membros do mercado financeiro e também por economistas, de ser leniente em relação ao regime de metas de inflação. "A meta de inflação subiu claramente do centro, de 4,5%, para 6,5%. E agora o BC tenta voltar a ganhar respeito do mercado", diz.

Para Dezordi, a economia brasileira dificilmente escapará da sina dos juros altos para combater a inflação se não fizer reformas importantes, como a redução da burocracia, o incentivo ao aumento da produtividade das empresas e melhorias de infraestrutura.

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