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Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita). | Divulgação
Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita).| Foto: Divulgação

Como diretor de um projeto que pretende levar alta tecnologia para o mundo em desenvolvimento, Nicholas Negroponte se habituou a receber críticas. Ao longo dos últimos dois anos, a organização One Laptop per Child (OLPC) – ou "Um Laptop para cada Criança" –, cujo objetivo é produzir computadores educacionais de baixo custo para as nações mais pobres, recebeu diversos ataques. Entre seus detratores estão empresas de tecnologia, ONGs e políticos da África. No mês passado, Negroponte abandonou a tranqüilidade com que enfrentava os rivais e disparou contra a Intel. De acordo com ele, a fabricante de processadores estaria adotando práticas "predatórias para acabar com uma iniciativa sem fins lucrativos". Os alvos da fúria do cientista são o Classmate PC e o Eee PC, laptops da Intel que devem competir diretamente com o produto da OLPC.

Negroponte acusa a Intel de se aproveitar do trabalho e da idéia de outros e de subfaturar o Classmate PC. "A Intel deveria se envergonhar", disse o pesquisador ao noticiário da rede de televisão americana CBS. "Eles são... Eles são descarados", completou, perdendo de vez a usual compostura. O equipamento da OLPC, o XO-1, é freqüentemente chamado de "O laptop de US$ 100". No momento, ele custa US$ 175, mas Negroponte acredita que o preço pode cair para US$ 100 na medida em que sua fabricação se escala. O sistema de economia de energia do XO-1 é realmente inovador, assim como sua capacidade de se interconectar com aparelhos similares – wireless e em grandes distâncias. Além disso, roda o sistema operacional de código aberto Linux.

O Classmate PC não têm características revolucionárias, mas seu processador é mais rápido e ele pode vir com Linux ou com Windows XP Embedded, uma versão bastante simplificada do sistema operacional da Microsoft. Seu custo está em torno dos US$ 285, mas o Eee PC – uma variação do Classmate a ser fabricada pela taiwanesa Asus em parceria com a Intel – já foi anunciado por US$ 199.

A competição entre os dois laptops já tem uma conseqüência: países que até agora apoiavam fortemente a OLPC começam a considerar a opção da Intel. O governo do Brasil já demonstrou interesse em comprar milhões de XO-1, mas recentemente começou a estudar o Classmate. A Nigéria, o Paquistão e a Tailândia estão seguindo o exemplo.

O produto da OLPC é tecnicamente superior e melhor intencionado. Mesmo com este consenso, existe no mercado o receio de que os gigantes da tecnologia estejam usando seu poderio para impedir o sucesso do XO-1. "Temos o melhor controle de energia, a melhor conectividade wi-fi, uma tela que é quatro vezes melhor que os displays dos laptops atuais. Mesmo assim, temos trabalhado muito para que os governos cumpram a promessa de adquirir o XO, pelo menos na quantidade que garanta a sustentabilidade do projeto", conta o presidente de software e conteúdo da OLPC, Walter Bender.

A Intel nega que esteja deliberadamente prejudicando a OLPC. Não deixa de ser irônico, entretanto, que a companhia tenha sido uma das principais críticas do projeto no passado. É verdade que o tiroteio vinha de todas os lados, inclusive de Bill Gates, que chegou a sugerir aos potenciais clientes da organização a "comprar um computador decente" em vez do laptop popular. Mas foi o presidente da Intel, Craig Barrett, que foi mais sarcástico, em 2005: "O senhor Negroponte chama seu aparelho de laptop de US$ 100. Um nome mais realista seria o gadget de US$ 100". O ceticismo de Barrett beirava a ridicularização. "Gadgets assim não serão bem sucedidos porque as pessoas procuram equipamentos que tenham todas as funções de um PC. Queremos produzir PCs mais baratos e acessíveis, mas que sejam computadores de verdade."

A Intel, com esse histórico de descaso, tem toda a chance de ser chamada de oportunista ao ofertar um aparelho muito semelhante ao XO. O selo de hipocrisia foi evitado, até agora, com declarações como a de Agnes Kwan, porta-voz da empresa: "As referências de Craig Barrett à OLPC foram feitas em 2005, quando o equipamento deles tinha baixa performance. Mas eles têm feito um ótimo trabalho e compartilhamos a mesma visão". Agnes também nega a acusação de subfaturamento no Classmate. "Nos esforçamos para estabelecer um modelo sustentável."

Essa não é a primeira vez que a Intel é acusada de práticas anticoncorrencias – a Comissão Européia investiga neste momento tais alegações contra a empresa. A AMD, fornecedora dos chips que integram o XO, não perdeu a oportunidade de espinafrar a concorrente gigante. O porta-voz postou na internet a seguinte mensagem: "O que estamos testemunhando é uma empresa que quase detém um monopólio tentando quebrar as pernas de uma iniciativa que não visa ao lucro, simplesmente porque ela ‘não entra em sua linha’". É esperar para ver no que esse imbróglio resultará.

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