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O gerente da Ascar Multimarcas, no São Braz: vendas caíram a um quinto do que eram antes da crise |
O gerente da Ascar Multimarcas, no São Braz: vendas caíram a um quinto do que eram antes da crise| Foto:

Antes complacência; agora, bancos recusam crédito

Banqueiros e autoridades andam dizendo que o crédito praticamente voltou ao normal. É verdade, desde que o comprador esteja disposto a pagar juros ainda próximos de 2% ao mês e tenha um histórico absolutamente impecável, carteira assinada, renda de pelo menos quatro vezes o valor da parcela e até comprovante de residência e telefone fixo em seu nome. É isso que os bancos e financeiras – que em dois anos de "boom" automotivo exibiam uma generosidade próxima da complacência – querem dizer quando afirmam ter ficado "mais seletivos".

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Revendedores apontam reação em fevereiro

A maioria dos revendedores visitados pela Gazeta do Povo afirma que as vendas começaram a reagir em fevereiro, ainda que não tenham voltado aos patamares da época de bonança do segmento – que cresceu no embalo da expansão do crédito.

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  • Veja que depois de vender 700 mil carros em julho, o mercado se retraiu em janeiro

A Avenida Vereador Toaldo Túlio, que corta os bairros São Braz e Santa Felicidade, na região oeste de Curitiba, tem pouco mais de cinco quilômetros – e pelo menos 30 revendedoras de veículos usados. A cada mil metros existem, em média, seis lojas do gênero disputando a atenção dos clientes que transitam pela via. Na maioria dos casos, basta espiar por cima do muro ou observar o outro lado da rua para conferir como anda o movimento nas concorrentes. Ou, ultimamente, como não anda.

Os efeitos do colapso no centro financeiro mundial, há cinco meses, chegaram aos pátios de varejistas instalados bem longe do centro da capital paranaense – e está sobrando loja para tão pouco comprador. Até setembro, as vendas acumuladas de usados tinham alta de mais de 6% no país, segundo a Fenabrave, federação dos varejistas de veículos; mas, com a retração do último trimestre, o ano fechou com avanço de apenas 2% sobre 2007. Para muita gente, as linhas de crédito anunciadas pelo governo e pelo banco Nossa Caixa na semana passada chegaram tarde demais, uma vez que, entre os estragos provocados pela crise, já se contabilizavam demissões e portas fechadas.

Não é preciso recorrer a números oficiais nem percorrer toda a extensão da Toaldo Túlio para se ter noção do tombo sofrido pelo varejo de carros seminovos e usados. Basta ver o que se passa com duas lojas que ficam num dos extremos da avenida, no São Braz, a uma quadra da BR-277. Na Ascar Multimarcas, as vendas caíram a um quinto do que eram antes da crise. A vizinha Marsil, que vendia 20 automóveis por mês, agora vende 7 ou 8. "O que aqueceu em janeiro foi a venda de carros mais velhos, de R$ 10 mil, R$ 7 mil. Isso porque o comprador desse tipo de carro normalmente não financia. Dá um carrinho de R$ 4 mil de entrada e paga o resto à vista", explica Mauro Marcos Golemba, da Marsil.

Na média nacional, a situação parece um pouco melhor. Mesmo assim, assusta. Depois de uma leve reação em dezembro, as vendas de usados despencaram 20% no mês seguinte, ou 23% se comparadas a igual período de 2008. Com 484 mil carros vendidos em todo o país, o segmento teve em janeiro seu pior mês em quase dois anos. A queda impressiona até gente que está há 20 anos nesse mercado, como o gerente da Ascar, Hilton Pories Júnior. "Nunca tinha visto nada assim. Não tem fluxo de clientes. Os preços caíram uns 20%, mas nem o preço mais baixo está atraindo comprador."

Oferta demais

Em Santa Felicidade, o gerente da Auto Classe Veículos, Guilherme Vaz, conta que as vendas da loja resistiram bem até dezembro, embora a taxa média de juros tenha disparado para 2,4% ao mês. Por outro lado, nem o recuo das taxas impediu uma queda de 80% nos negócios em janeiro. "Fevereiro está melhor, conseguimos fechar alguns negócios. Mas, sendo otimista, vai levar uns 90 dias para recuperar o nível normal", prevê. "Tem muita oferta no mercado, e os preços caíram. Mas o cliente vem, dá uma olhada nos carros, e, como sabe que a oferta está grande em todas as revendedoras, fica indeciso e vai embora."

As dificuldades não se limitam aos bairros mais distantes. Na Stelle Veículos, instalada na Avenida Presidente Arthur Bernardes, no Seminário, a dita "acomodação do mercado" fez com que as vendas mensais caíssem de até 35 veículos para apenas 16 em janeiro. Algo muito semelhante ocorreu na Holanda Veículos, no Boa Vista. Na Auto Laser Veículos, do Alto da XV, em outubro, novembro e dezembro as quedas variaram de 15% a 30% em relação aos mesmos meses de 2007.

"Ainda temos um déficit para cobrir", reconhece Lidacir Antônio Rigon, presidente da Assovepar, que reúne 180 empresas do segmento. "Mas os preços já se ajustaram à realidade, os prazos voltaram ao normal, os juros estão quase no mesmo patamar de antes da crise. Fizemos o que podia ser feito, e acho que depois do Carnaval teremos uma evolução."

Desova

Vendedores relatam que, embora a recuperação das vendas de automóveis novos costume ser uma premissa para a reação dos usados, em janeiro as ofertas "irresistíveis" das montadoras e concessionárias atrapalharam. "Além disso, as concessionárias de novos liquidaram seus estoques de seminovos, e não houve como concorrer", diz Cristine Stelle, proprietária da Stelle Veículos.

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