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Mitnick, na palestra de São Paulo: lábia pode valer mais do que conhecimentos técnicos | Cristiano Sant’Anna/Indicefoto
Mitnick, na palestra de São Paulo: lábia pode valer mais do que conhecimentos técnicos| Foto: Cristiano Sant’Anna/Indicefoto

Em sua recente participação na Campus Party, o consultor Kevin Mitnick – cuja fama vem mais de sua prisão como hacker, em 1995, do que por qualquer trabalho de sua empresa de segurança – foi polêmico. Ele colocou boa parte do sucesso dos hackers na conta das vítimas. "Muitos ataques de hackers não necessitam de grande conhecimento técnico, mas sim de poder de convencimento para que a própria vítima forneça as informações desejadas", disse. O método é conhecido como "engenharia social", e Mitnick é realmente um mestre nisso. Não por outra razão, o título da palestra do ex-hacker era "A Arte de Enganar". Consta que sua primeira contravenção, aos 12 anos de idade, foi usar o sistema público de transporte de Los Angeles com bilhetes adulterados, e que ele aprendeu como fazê-lo devido à ajuda de um motorista de ôonibus. Depois disso ele passou a aproprar-se de senhas, números de telefone e outros itens usando excelentes conhecimentos de computação e tirando proveito de pessoas descuidadas. "Não dá para pedir à Microsoft um patch contra burrice", diz – patches ("remendos", em bom português) é como a MS chama as atualizações de segurança feitas no Windows periodicamente.

Para Mitnick, a principal brecha de segurança está nas pessoas: uma simples entrevista para descobrir hábitos de consumo pode esconder iscas que ajudam o hacker a formar um perfil da vítima. Informações como o nome do cachorro dão dicas sobre senhas – certamente alguns dos leitores terão escolhido o nome do cachorro como senha em algum dos sistemas a que tem acesso. Ou não?

Em sua palestra, ele também alertou sobre coisas que nunca deveriam ser feitas, para evitar que alguém tenha acesso a informações sigilosas. Isso inclui medidas a serem tomadas no mundo virtual e também no ambiente real: não digitar senhas em computadores públicos, não confiar em redes sem fio "abertas" – ou seja, sem a proteção de senhas –, não publicar informações pessoais em redes sociais (sim, isso inclui fazer parte da comunidade do seu condomínio no Orkut) e não descuidar do seu lixo no mundo real. Números de documentos, cartões de crédito, contas bancárias e outros dados vitais podem estar dando sopa na sua lixeira, o que facilitaria bastante a vida dos criminosos.

Mitnick está, como diriam alguns, "regenerado". Ainda não aceita a maneira como foi seu processo. "Não que eu não devesse ser processado", comenta, "mas virei bode expiatório. A solitária, a demora no julgamento, esse circo foi armado para aumentar a verba para lidar com ameaças digitais". Hoje, vive de sua empresa de consultoria, das palestras que dá e dos royalties de seus livros. E defende sua atividade. "Hackear é como construir uma casa usando um martelo. A mesma ferramenta pode ser usada para atacar alguém", argumenta.

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