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André Fabiani, pesquisador do Lactec, e o modelo reduzido da hidrelétrica de Ituango, na Colômbia: instituto é procurado por empreendedores de todo o mundo | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
André Fabiani, pesquisador do Lactec, e o modelo reduzido da hidrelétrica de Ituango, na Colômbia: instituto é procurado por empreendedores de todo o mundo| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Currículo

Instituto desponta como referência mundial

O Departamento de Hidráulica e Hidrologia do Lactec é considerado uma referência mundial quando o assunto é modelo reduzido de hidrelétrica. As dezenas de miniaturas que o Lactec carrega no currículo e lotam as paredes de fotografias são prova do sucesso. "O Brasil é uma referência no mundo e o mais bem preparado na América Latina. O Lactec tem fama no setor, o que faz que sejamos bastante procurados", diz o pesquisador André Fabiani.

Desmonte

Além da experiência, o que ajuda o Lactec na concorrência pelos projetos é o fato de os Estados Unidos e os países da Europa estarem desmontando seus laboratórios do gênero.

Segundo Fabiani, não existe mais obra a ser realizada nessas regiões. "Eles não têm mais mercado consumidor. Isso abriu mercado para os as nações em desenvolvimento", afirma o pesquisador.

Concorrência

No caso específico do modelo reduzido de Belo Monte, o Lactec foi escolhido após participar de uma concorrência com o laboratório da Universidade de São Paulo (USP). Além dos dois, Furnas, no Rio de Janeiro, também tem capacidade técnica, mas estava com saturação no número de projetos e não participou da disputa. (CGF)

Quem quiser conhecer a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), ou a de Colíder, no Teles Pires (MT), poderá saciar sua curiosidade – ou ao menos parte dela – sem precisar se deslocar até a Amazônia. Basta visitar, daqui a alguns meses, os galpões do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), localizado dentro do Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. O lugar é um permanente canteiro de obras, especializado na construção de hidrelétricas em miniatura.

Atualmente, além das usinas já citadas, o Lactec abriga modelos reduzidos das hidrelétricas de Ituango, na Colômbia, Cam­bembe, na Angola, e Gibe 3, na Etiópia. Nas últimas décadas, o Lactec foi responsável pelos testes de dezenas de hidrelétricas, inclusive de Itaipu, em 1986. O galpão que hoje recebe a construção do protótipo de Belo Monte, considerado o maior projeto da história do Departamento de Hidráulica e Hidrologia do Lactec, é o mesmo que abrigou o modelo reduzido de Itaipu, produzido mais de duas décadas atrás.

Para abrir espaço à "mini-Belo Monte", que terá cerca de 3 mil metros quadrados, foi preciso destruir 13 projetos que ocupavam o local. "É uma obra muito grande. Foi preciso reconstruir o rio com base em plantas topográficas do revelo. Tudo é feito de forma manual", explica André Fabiani, pesquisador do Lactec e um dos engenheiros envolvidos no projeto.

Na verdade, a mini-Belo Monte irá ocupar mais que o galpão principal do Instituto. Um modelo seccional, outro da topografia da casa de força e o da topografia do canal de fuga ocupam espaços em outros pavilhões. "Não coube tudo no mesmo lugar. Também tivemos de encolher a proporção. A escala geométrica será 1:110; geralmente, a proporção é 1:100", diz Fabiani, funcionário do Lactec há 25 anos.

Cerca de 25 pessoas, entre engenheiros, mecânicos, marceneiros e pedreiros, trabalham para finalizar a obra, que está atrasada um mês e meio. O trabalho artesanal de reconstituição da topografia do rio Xingu – leito, fundo, margens e paredes – deve terminar em meados de abril. Quando isso ocorrer, o modelo receberá centenas de litros de água para testes durante 18 meses. O objetivo é identificar interferências, ou seja, estudar o movimento da água e como ela força ou é forçada pela natureza.

"Durante os testes é possível verificar falhas que serão corrigidas. O nosso trabalho é descobrir as interferências e, se necessário, sugerir mudanças no projeto. Detectar problema quando a usina começar a funcionar é a pior coisa que pode ocorrer e sinal de que o projeto não foi bem estudado", explica Fabiani. O contrato do Lactec com o consórcio Norte Energia, vencedor da licitação, gira em torno de R$ 6,8 milhões.

A usina de Belo Monte terá 20 comportas, nas quais a vazão máxima pode alcançar 72 mil metros cúbicos de água por segundo – a título de comparação, o projeto de Itaipu prevê 62 mil metros cúbicos de água por segundo.

Outros projetos

A previsão é que o modelo reduzido de Colíder, usina que a Copel vai construir no norte de Mato Grosso, fique pronto em maio. O orçamento da obra é de R$ 1,8 milhão. No caso da hidrelétrica de Cambembe, principal obra do setor em Angola, o projeto original é da década de 50, a construção foi realizada na década seguinte e interrompida por conta da guerra.

Desde então, faltando cerca de 30 metros para a conclusão – hoje a barragem está a 102 metros acima do nível do mar, e o projeto previa 132 metros –, a usina opera de forma precária. "O governo local resolveu concluir a obra e nos contratou para atualizar o projeto. Acabamos sugerindo diminuir o vertedouro da barragem e construir outros na encosta", conta Fabiani.

Outro desafio é a usina de Gibe 3, na Etiópia, onde o salto d’água é muito grande, o que poderá resultar na destruição de rochas e interferir no funcionamento da casa de força. O Lactec realiza os estudos para minimizar a "agressão". "Somos uma espécie de consultor da obra. Para sugerir algo, precisamos estar amparados em coisas concretas", afirma o pesquisador.

Lactec recusa projetos por falta de espaço

A falta de espaço dentro do Centro Politécnico da UFPR tem obrigado o Lactec a recusar novos projetos. "Recentemente, preparamos três novos orçamentos. Mas avisamos aos clientes que só poderíamos começar os projetos em outubro de 2013", explica o engenheiro André Fabiani. Diante da situação, o novo diretor-superintendente do Lactec, Omar Sabbag Filho, afirma que aumentar a estrutura do Lactec é uma das prioridades. "A demanda é maior que o espaço disponível", diz.

O plano não é deixar o Centro Politécnico, e sim ocupar mais áreas, fora dos limites do câmpus. "Estar dentro da universidade é muito importante, pela proximidade com o meio acadêmico. Mas a expansão está na pauta e vamos verificar qual o posicionamento dos associados", complementa Sabbag. O Lactec tem como sócios a Companhia Para­naense de Energia (Copel), a UFPR, a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), a Associação Comercial do Paraná (ACP) e o Instituto de Engenharia do Paraná (IEP).

O número de colaboradores também deve crescer. Hoje são 470 funcionários. "Poderemos chamar profissionais para atuar por tempo determinado em projetos novos", diz Sabbag.

Em relação aos recursos financeiros, o diretor ressalta que o instituto precisa ser autossuficiente, mas não descarta buscar verbas federais, através do Ministério de Ciência e Tec­nologia, para investir nos laboratórios. "Emendas parlamentares são bem vindas. Pretendo ter contato permanente com a bancada paranaense", diz.

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