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O casal de representantes comerciais Marilsa Kulcheski Pereira, 41 anos, e Luís Carlos Pereira, 45, mora com os quatro filhos adolescentes em um sobrado na Cidade Industrial de Curitiba. A família numerosa coleciona em casa uma bela quantidade de aparelhos de tevê e rádios adquiridos ao longo de anos, além de duas geladeiras e duas máquinas de lavar roupas. Longe dali (e bem mais perto do Centro), no Alto da XV, o gerente de execução industrial Leandro de Almeida, 29 anos, mora sozinho em um bom apartamento, com varanda, lareira e churrasqueira individual, mas com poucos eletrodomésticos. Leandro, que ganha o equivalente ao que o casal da CIC recebe junto, dispensou a máquina de lavar e optou pela lavanderia. Ele tem um único e moderno equipamento de imagem e som e se vira muito bem só com um refrigerador simples, com freezer interno. Qual deles pertence à classe A: os Pereira ou Almeida?

Na matemática utilizada para definir classes econômicas no Brasil, muitos eletrodomésticos em casa podem valer mais que uma bela renda individual. O Critério Brasil – padrão adotado pelas pesquisas de mercado para classificação de público consumidor – leva em consideração os itens que uma família possui em casa e o nível de instrução, mas não contabiliza a renda.

Resultado: na soma de pontos que diferenciam as classes A, B, C, D e E, a família de Marilsa ganha com folga. Os Pereira somam 37 pontos contra 22 de Almeida. Com isso, eles são rotulados como A2 e o gerente, como C1. Só a falta de um freezer externo na geladeira (um modelo duplex, por exemplo) faz com que o gerente de execução industrial deixe de somar dois pontos na classificação econômica. Para os levantamentos de mercado, por mais poder de consumo que tenha, Almeida pertence à classe média baixa.

"Realmente, nós consumimos bastante e temos uma boa situação financeira. Mas ricos nós não somos", afirma Marilsa. Por mais que a segmentação classe A dê a idéia de um produto requintado, não é isso necessariamente o que a divisão pretende representar. "O que esta classificação avalia é o potencial de consumo da família, não o quanto ela ganha ou gasta por mês", explica Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, diretor da Paraná Pesquisas. "Uma família com vários filhos tende a comprar mais itens, mesmo que não tenha uma capacidade grande de gastos. Um solteiro, mesmo que compre produtos caros, não tem motivos paraencher a casa de produtos que, morando sozinho, não vai usar."

No topo

Para estar no topo da classificação econômica do Critério Brasil (alcançando a pontuação máxima, de 46 pontos), a família deve ter pelo menos três carros, morar em um imóvel com quatro banheiros (não importa se é próprio ou alugado), somar quatro tevês, mais de três rádios e contratar os serviços de duas empregadas mensalistas. Os itens geladeira, máquina de lavar, freezer e DVD (ou videocassete) também são indispensáveis, além de um curso superior completo para o chefe da família.

Tudo isso, mesmo que não exija uma renda anual milionária, certamente não é padrão de vida para qualquer um. A Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), que elabora o critério de classificação, estima que somente 0,1% da população alcança o potencial máximo de consumo nas mais importantes regiões metropolitanas do Brasil. O porcentual se baseia em um levantamento feito pelo Ibope Mídia, em 2005, em 11 mil domicílios de Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Brasília.

No outro extremo da classificação, dentro da classe E, também 0,1% da população têm apenas um ponto de toda a relação de itens da avaliação. Isso significa que nem banheiro a família em questão tem em casa. "É preciso ser realmente miserável e analfabeto para ser classificado na classe E. Se a pessoa tiver um banheiro em casa, o máximo que ela vai poder ter dos outros itens é uma televisão e um rádio", diz Oliveira, da Paraná Pesquisas. Só com um banheiro e uma geladeira e sem qualquer instrução, a família já se classifica na classe D.

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