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Dificuldades

Clima político afeta imagem, diz assessor

Arkady Dvorkovich, assessor econômico de Dmitri Medvedev, reconhece que a condenação, no mês passado, de Mikhail Khodorkovsky, ex-proprietário de uma companhia petrolífera, prejudicou a capacidade da Rússia de atrair investimentos estrangeiros, e que o caso certamente seria lembrado em Davos. Foi uma declaração de franqueza incomum para um alto funcionário. "Acho que uma parte significativa da comunidade internacional terá graves objeções, e a avaliação sobre os riscos de fazer negócios na Rússia vai aumentar", afirmou Dvorkovich.

Outrora o homem mais rico da Rússia, Khodorkovsky irritou Putin por se meter em política e ter negociado a venda de uma parcela de sua empresa de petróleo, a Yukos, à Exxon Mobil sem as bençãos do Kremlin. Após a segunda condenação, anunciada no mês passado enquanto a polícia batia em manifestantes numa rua próxima ao tribunal, Khodorkovsky permanecerá atrás das grades até 2017.

Ainda assim, mais uma demonstração da atitude acolhedora do governo russo com os executivos estrangeiros ocorreu neste mês, na mais recente reviravolta envolvendo os ativos da empresa de Khodorkosvky. A Yukos foi à falência e acabou vendida, em grande parte, à Rosneft, que agora fechou acordo de parceria com a British Petroleum. As duas empresas concordaram numa fusão para buscar petróleo conjuntamente no litoral norte da Rússia.

Há alguns anos, quando era presidente, Vladimir Putin comparou a riqueza energética da Sibéria a um doce que a Rússia segurava firme, "apertado nos punhos suados". Não importava quanto os investidores a desejassem: estava fora de seu alcance. Mas, no mês passado, Putin, agora primeiro-ministro, disse que as autoridades russas "entendem que precisamos de investimento estrangeiro". E, apesar da bomba de segunda-feira no aeroporto de Moscou, o atual presidente, Dmitri Medvedev, foi ao Fórum Econômico Mundial também para atrair capital estrangeiro. O que aconteceu para a Rússia passar do punho cerrado para a mão aberta? Para falar de maneira simples, o país precisa de dinheiro.

O lucro extra das exportações de petróleo, que antes da recessão global era poupado para cobrir o excesso de gastos, está prestes a secar. O Fundo de Reserva está abaixo dos US$ 26 bilhões e não é suficiente para sanar sequer metade do déficit orçamentário projetado para 2011. Assim, pela primeira vez desde a crise financeira de 1998, este ano a Rússia será obrigada a recorrer a bancos internacionais e fundos de pensão nos Estados Unidos e na Europa para financiar de tudo um pouco, da modernização das Forças Armadas ao pagamento dos altos salários do setor público.

O governo também prepara o lançamento de um novo lote de ativos. Manteve o Bank of America Merrill Lynch como seu consultor para a venda planejada de uma participação no banco estatal VTB. Ações de companhias de petróleo e de navegação e de hidrelétricas também serão negociadas.

Privatização

Autoridades russas, até nos altos escalões do Kremlin, também estão claramente tentando atrair outros investidores estrangeiros. Mas a necessidade premente de fazer entrar dinheiro no país permanecerá. Para compensar carências em seu orçamento, o governo tem planos de emitir US$ 50 bilhões em títulos denominados em rublos e privatizar US$ 10 bilhões em ativos estatais a cada ano pelo menos até 2014. Potencialmente, na mesma leva do VTB, entrariam participações na Rosneft, companhia estatal de petróleo; na RusHydro, complexo hidrelétrico nacional; e na Sovcomflot, uma frota de navios mercantes de propriedade estatal.

Os bancos nacionais russos, que ainda estão relativamente saudáveis financeiramente, muito provavelmente comprarão cerca de três quartos da dívida recém-emitida pelo governo, explica Ivan Tchakarov, economista-chefe do Bank of America Merrill Lynch em Moscou. Mas o Kremlin vai depender de investidores estrangeiros para comprar o resto. "Estamos entrando num jogo totalmente diferente", disse Tchakarov em entrevista. Desde que uma queda nos preços do petróleo, em meados da década de 80, abalou as finanças soviéticas, não se via as autoridades de Moscou empenhadas em uma captação de recursos tão ampla. O empréstimo dos anos 80 levou a uma dívida externa de mais de US$ 100 bilhões.

Desconfiança

Um grande desafio será superar a desconfiança das empresas multinacionais em relação à Rússia. Este mês, a Maplecroft, consultoria britânica especializada em risco político para empresas, classificou a Rússia em 186.º lugar entre 196 países – abaixo do Paquistão. Índia e China se saíram muito melhor, ranqueadas em 26.º e 62.º respectivamente. Enquanto isso, o índice de percepção da corrupção elaborado pela Transparência Internacional classificou a Rússia como a mais corrupta entre as grandes potências econômicas do mundo em 2010 – próxima à parte inferior da lista geral, na 154.ª posição entre 178 países.

Para fazer com que a Rússia pareça mais atraente aos investidores estrangeiros, uma ala reformista do governo delineou uma série de regras. O país baixou o imposto para ganhos de capital, por exemplo, enquanto seu principal pregão, o Micex, eliminou a exigência de que não residentes tivessem de negociar ações por meio de corretoras locais. Em 2010, após a questão se arrastar por anos, os negociadores russos desataram nós complicados para a entrada do país na Organização Mundial do Comércio. E, em setembro, Medvedev diminuiu a lista dos chamados ativos estratégicos, que estavam fora do alcance de estrangeiros (as grandes reservas de petróleo e metais "apertadas nos punhos suados" do país), a cerca de 50 itens – o total original era de mais de 200.

Tradução: Christian Schwartz

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