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Vídeo| Foto: Reprodução/TV Globo

Gates e Jobs trocam elogios

Bill Gates, da Microsoft, e Steve Jobs, da Apple, deixaram para trás sua histórica rivalidade e trocaram elogios na quarta-feira passada, quando dividiram o palco na conferência "D: All Things Digital". O melhor momento do debate foi quando um dos organizadores do evento, o colunista do Wall Street Journal, Walt Mossberg, perguntou sobre os inúmeros desentendimentos que marcaram a relação entre os dois. "Serviu para manter nosso casamento em segredo durante mais de uma década", respondeu Jobs, provocando risos do público.

Os executivos, que sempre encararam a indústria do computador pessoal de maneira bastante distinta, conversaram como velhos amigos sobre a revolução digital. "Bill é o responsável pela primeira companhia de software do mundo e seu modelo de negócio funcionou muito bem. Ele apostou em programas quando ninguém sabia que rumo seguir", lembrou o presidente da Apple. Gates, por sua vez, elogiou a tenacidade de Jobs e sua idéia de que o computador podia se transformar num produto de massas. O encontro foi repleto de momentos de bom humor, como nos comentários sobre uma campanha publicitária da Apple que compara Macs a PCs, representados por um sujeito jovial e divertido diante de outro aborrecido e insosso.

Horas antes, a Microsoft havia mostrado o Surface (veja ao lado), seu projeto futurista de computador plano. Enquanto isso, Jobs anunciava que o Apple TV poderá reproduzir vídeos do YouTube.

A Microsoft deu o pontapé inicial em uma nova categoria da computação na semana passada. Ao apresentar o Surface (superfície, em inglês) – um computador em forma de mesa de café, sem teclado, sem mouse e sem joystick –, a gigante de Seattle lançou comercialmente algo que se aproxima muito de um sonho antigo entre programadores e cientistas da informática: uma máquina digital que seja tão fácil de operar quanto uma geladeira. Essa idéia tem um quê de utopia, mas é em direção a ela que a indústria de software e hardware vem caminhando nos últimos 15 anos.

O Surface, à primeira vista, não tem nada de revolucionário. Por fora, trata-se de um pedestal com 60 centímetros de altura e equipado com uma tela horizontal, sensível ao toque. O aparelho roda, como era de se esperar, o Windows Vista, sistema operacional recém-lançado pela Microsoft. Uma rede de cinco câmeras ao redor do conjunto, posicionada logo abaixo da superfície de acrílico, percebe os movimentos dos usuários e permite que os toques dos dedos na mesa sejam interpretados como ações de clicar, selecionar e arrastar objetos. Além disso, dispositivos capazes de transmitir dados sem fios, por meio de tecnologias como o bluetooth ou o wi-fi – como celulares, câmeras e MP3 players –, "conversam" com o Surface simplesmente sendo colocados sobre a sua tela. A partir daí, as aplicações abrem automaticamente de acordo com a função do aparelho.

Um exemplo prático: o sujeito coloca a câmera fotográfica sobre o Surface, que imediatamente reconhece o acessório. Com um simples toque na tela do equipamento, o usuário fará o download de suas fotos e vídeos. Melhor ainda, ele poderá manipular e editar esses arquivos usando as próprias mãos. Uma imagem, dessa maneira, será esticada, arrastada, redimensionada, cortada e apagada a partir de gestos sobre a tela do Surface. Da mesma maneira, crianças poderão pintar usando os dedos e turistas visualizarão mapas mais facilmente, com movimentos físicos. Tudo isso sem a necessidade de conhecimento prévio do software utilizado no Surface.

O equipamento custará entre US$ 5 mil e US$ 10 mil, por isso antes de introduzir o Surface para o mercado de consumo, a Microsoft vai testá-lo em alguns segmentos, como em bares, restaurantes, hotéis, hospitais e lojas de celulares. O produto não será oferecido em escala até o próximo ano, mas a rede de cassinos Harrah’s, o grupo de hotéis Starwood (que controla as bandeiras Sheraton e Four Points), e a operadora T-Mobile devem implementar os primeiros aparelhos a partir de outubro nos Estados Unidos.

"Enxergamos no Surface uma nova categoria de produtos, um mercado de muitos bilhões de dólares. Vemos no uso da superfície como central de comandos o início da era da computação pervasiva, que irá equipar desde o PC até o espelho da sala", disse o executivo-chefe da Microsoft, Steve Ballmer. Qualquer semelhança da descrição de Ballmer com o mundo retratado por Steven Spielberg no filme Minority Report não é mera coincidência. Tanto o filme estrelado por Tom Cruise quanto a "computação de superfície", propalada agora por Bill Gates e companhia, baseiam-se na teoria da informática onipresente.

Onipresença

O termo foi usado pela primeira vez em 1991 por Mark Weiser, ex-diretor do Centro de Pesquisas de Palo Alto (referência em alta tecnologia que criou, entre outras coisas, a impressão a laser e o sistema Ethernet para redes locais), para se referir aos aparelhos que surgirão a partir do princípio de que "as melhores e mais profundas tecnologias são as que não aparecem". O cientista, morto em 1999, acreditava que "o melhor computador será um servo quieto e invisível" e era fã do criador de Minority Report, Philip K. Dick (1928-1982). Ao contrário do escritor de ficção científica, que retratava um futuro distópico resultante da evolução dos computadores, entretanto, Weiser ponderava que a tecnologia deve gerar calma e tranqüilidade, na medida em que ela irá se basear mais na intuição e menos na técnica.

Mas enquanto tarefas que deveriam ser simples, como instalar um jogo ou conectar-se a uma rede sem fio, exigirem um conhecimento básico da informática – ou enquanto o "usuário" continuar se sentindo um "usuário" –, a calma e a tranqüilidade continuarão sendo dois sentimentos a léguas de distância de um computador. Tomara mesmo que o Microsoft Surface comece a mudar essa realidade.

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