Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Proposta de Emenda Constitucional

Acuado por roubo no INSS, Lula abraça diminuição da jornada de trabalho

Lula promete empenho para diminuir jornada de trabalho no país
Lula promete empenho para diminuir jornada de trabalho no país (Foto: Reprodução / YouTube CanalGov)

Ouça este conteúdo

Desgastado pelo escândalo do roubo bilionário contra aposentados e pensionistas do INSS, e pela recusa em demitir o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta em uma nova “bondade” para reverter os baixos índices de aprovação de seu governo.

Ao saudar o Dia do Trabalho em cadeia nacional de rádio e televisão, Lula prometeu empenho para diminuir a jornada de trabalho no país. "Está na hora de dar esse passo", disse ele, sem fazer menção direta à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que estabelece uma jornada de trabalho de 4x3 – quatro dias de trabalho e três de descanso. Atualmente, a Constituição permite jornada 6x1, ou seja, até 8 horas diárias e 44 semanais, o que equivale a seis dias de trabalho e um dia de folga por semana. A maioria dos brasileiros, contudo, já trabalha no sistema 5x2.

“Nós vamos aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho vigente no país, em que o trabalhador e a trabalhadora passam seis dias no serviço e têm apenas um dia de descanso. A chamada jornada 6x1. Está na hora de o Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade, para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras”, afirmou Lula.

"Sonho que não vai se realizar", diz Motta

A PEC que sugere a diminuição da jornada de trabalho no país está parada na Câmara dos Deputados há dois meses e enfrenta resistências. Inclusive do presidente da casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou durante o J. Safra Macro Day 2025, em São Paulo, que “não dá para ficar vendendo sonho, sabendo que esse sonho não vai se realizar”. “Eu acho que isso é uma falta de compromisso com o eleitor”, sublinhou, acrescentando que pretende tratar de assuntos polêmicos com cautela em ano pré-eleitoral.

"Eu penso que essa matéria deverá chegar para dialogarmos sobre ela nos próximos dias. E nós vamos dar o tratamento institucional que tem que ser dado a toda e qualquer matéria", afirmou Motta.

A mais recente proposta sobre a redução da jornada foi apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), mas outros projetos semelhantes já tramitavam no Congresso anteriormente. Dentro do “pacote de bondades” do governo Lula para tentar estancar a perda acentuada de popularidade, estão ainda a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês e a redução do preço dos alimentos, por meio de medidas intervencionistas.

Para maioria dos trabalhadores, jornada é de 5x2

A jornada 4x3 é vista, contudo, como inviável na conjuntura atual dentro do próprio Partido dos Trabalhadores. Uma outra proposta intermediária seria apensar o texto ao projeto do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Segundo a proposta de Lopes, a escala 4x3 seria atingida somente daqui a dez anos.

"Para 89% dos trabalhadores a escala já é 5x2. Apenas para 11% dos trabalhadores, que é um contingente de dezenas de milhões de pessoas e que ganham a menor renda per capita, é que temos a escala 6x1. Não há possibilidade de crescimento econômico, de políticas sociais e políticas públicas sem colocar mais dinheiro no bolso do ‘andar de baixo’", defendeu Lopes. 

Por seu lado, a autora da PEC da jornada 6x1, deputada Erika Hilton (PSOL-SP), admitiu que se houver a aprovação da jornada 5x2 para todos os brasileiros, já seria uma vitória. “A gente deixa uma gordura para que possa ser trabalhada. Se a proposta chega exatamente da maneira como a gente imagina que seria viável, a gente não tem espaço de negociação. Se conseguirmos a 5×2, para nós já vai ser um grande avanço”, disse Hilton, em entrevista à CNN Brasil.

VEJA TAMBÉM:

Sem aumento de produtividade, redução da jornada de trabalho traria prejuízos

Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia (FEA-USP) e coordenador do Salariômetro da Fipe, diz que a PEC ignora a realidade. “Ela menospreza a negociação coletiva, que leva em conta as necessidades de ambos os lados, trabalhadores e empresas”.

Zylberstajn falou à jornalista Rose Amantéa, da Gazeta do Povo, quando o projeto ainda não havia sido protocolado. Ele disse que o populismo está em ignorar o aspecto principal para a negociação, que é a produtividade. "Os trabalhadores querem trabalhar menos e as empresas resistem a aceitar menos trabalho pelo mesmo preço", afirma o economista. “Deve haver uma conciliação de interesses entre patrões e empregados", salienta.

Para isso, primeiro deve-se resolver a equação da produtividade. Se isso não acontecer, no entanto, os resultados vão penalizar o trabalhador e a sociedade. “O problema é que quando você reduz a jornada, os trabalhadores não aceitam uma redução do salário proporcional”, diz Zylberstajn. “Eles querem manter o salário e reduzir a jornada. Isso significa que a hora de trabalho ficou mais cara, embora o salário mensal fique igual”.

Na prática, significa que o empregador estará pagando mais por menos produção. “As grandes empresas poderão até compensar esta redução com modernização e tecnologia para aumentar a produtividade”, diz o economista. "Mas as pequenas e médias, que têm baixa margem de lucro, terão muita dificuldade de adaptação", explica.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros