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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja nesta sexta-feira (30) para os Estados Unidos para encontrar-se com o norte-americano George W. Bush com dois assuntos principais na bagagem: a formação de um mercado internacional de etanol e a retomada das negociações sobre o fim de subsídios e taxas sobre produtos agrícolas na Organização Mundial do Comércio (OMC).

As discussões sobre o mercado de etanol foram um dos principais temas tratados durante a visita de Bush a São Paulo, no início deste mês, com ênfase na produção de álcool de cana-de-açúcar na América Central.

O que os presidentes devem fazer, segundo fontes do Ministério das Relações Exteriores, é mostrar vontade política de avançar em ambos os temas - embora as duas iniciativas não possam ser resolvidas no curto prazo e sem a colaboração de outras nações.

O assunto mais espinhoso é a rodada de Doha. Segundo especialistas em comércio exterior, as negociações de livre comércio iniciadas em 2001 estão literalmente na UTI: depois de dois anos de atraso na conclusão - a rodada deveria ter sido encerrada no fim de 2004 - e de um cancelamento total das negociações, as conversas foram retomadas, mas há pouca chance de acordo.

Além dos temas principais, os dois presidentes devem tratar também da reforma na Organização das Nações Unidas (ONU), da cooperação para o desenvolvimento do Haiti e de países da África e do estabelecimento de um foro de altos executivos dos dois países.

Segundo o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB), Mário Presser, a chance de o encontro de Lula e Bush ajudar a resolver as negociações da rodada de Doha, na OMC, é mínima. Segundo o especialista, a posição de ambos os países é oposta: os EUA e a Europa querem a liberalização de indústrias e serviços e o Brasil bate o pé na questão agrícola.

Essa diferença de posições - que foi marcada pela formação do G-20, grupo de países em desenvolvimento do qual o Brasil é visto como líder - causou o impasse nas negociações na OMC e o cancelamento das conversas em 2006. "Antes, os países desenvolvidos faziam o que queriam na OMC, sem oposição", resume. Recentemente, várias nações declararam a intenção de retomar Doha, mas o cenário não mudou muito: o mundo continuou dividido em dois.

Segundo o especialista, o comércio internacional virou um "cada um por si", em que as nações se protegem umas das outras - e a OMC não está conseguindo vender o conceito de globalização, em que o comércio internacional é visto como lucrativo para todos os países, para nenhuma das partes. Para que a situação mude, diz o professor, alguma das partes terá de ceder.

Embora a questão do etanol também esbarre na imposição de tarifas ao produto brasileiro - o álcool nacional paga US$ 0,14 por litro para entrar no mercado americano, o que acaba com a competitividade do etanol de cana-de-açúcar na América do Norte -, Brasil e EUA já chegaram a um consenso sobre um tema: é preciso formar um mercado mundial para o produto. E este mercado deve começar a crescer com a produção de álcool de cana-de-açúcar na América Central.

O diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca, disse ao G1 que o país pode ganhar de duas maneiras com a formação de um mercado de etanol na América Central: com a venda de equipamentos e a instalação de usinas nessa região e com a reexportação de álcool produzido no Brasil.

A reexportação, explica Gianetti da Fonseca, ocorre depois que o álcool passa por uma parte do processo produtivo - a desidratação - nestes países. Entretanto, ele lembra que a reexportação a partir da América Central - região que não paga tarifas para vender para os EUA - é limitada a 7% do consumo total americano. "É uma brecha pequena", ressalta.

Para a definição de um mercado mundial, segundo o diretor da Fiesp, não existe fórmula mágica. "Será preciso mais de um encontro para aprimorar a legislação dos dois países para que isso se torne realidade. Vai levar tempo", comenta.

Sérgio Leme dos Santos, vice-presidente executivo da fabricante de equipamentos para usinas de cana Dedini, que já montou alguns projetos de desidratação de álcool na América Central, concorda: "Não vai haver um ‘boom’ do mercado de uma hora para outra".

Entretanto, algumas ações mais concretas sobre a definição de um mercado para o produto começam a aparecer. Na segunda-feira (2), o ex-governador da Flórida, Jeb Bush, irmão do presidente George W. Bush, e o ex-ministro brasileiro da Agricultura Roberto Rodrigues discutem, na sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, as chances de investimento abertas em etanol abertas pelo acordo entre Brasil e Estados Unidos e pela criação do mercado na América Central e no Caribe.

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