• Carregando...
Em Curitiba, a falta de mão de obra aumentou em 15,9% o preço do serviço de estofaria | Andre Rodrigues / Gazeta do Povo
Em Curitiba, a falta de mão de obra aumentou em 15,9% o preço do serviço de estofaria| Foto: Andre Rodrigues / Gazeta do Povo

Previsão

Copa do Mundo deve elevar preços, mas por período restrito

Apesar de reajustes serem esperados nos serviços das cidades-sedes, economistas são cautelosos ao citar uma possível escalada da inflação do setor durante a Copa do Mundo. "Não prejudica [o resto do ano] porque a situação não é sustentável no médio prazo", acredita André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ele avalia que os preços devem subir um pouco antes do evento, entre junho e julho, à medida que a demanda for alterada pela chegada de turistas estrangeiros. Mas devem amainar depois do evento porque o mercado doméstico não está para tanto. "Não há perspectiva de o salário mínimo subir acima da inflação e o aumento dele é sempre um empurrão para setores se mobilizarem para reajustes."

Para Hildete Pereira de Melo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), isso não significa que a população terá de pagar sem pestanejar. Ela defende que o consumidor é apenas "em parte" refém dos preços de prestadores de serviços. "Se o serviço de que se precisa é urgente, vai-se com o preço; se não, pode esperar um pouco para ver o que vai acontecer", afirma.

Consumidores que viram o preço da maçã subir 18% no último ano tiraram a fruta do cardápio. Os que perceberam aumento de 9,37% no ensino médio do filho, no entanto, dificilmente trocaram de escola. A lógica de que serviços são muitas vezes insubstituíveis e têm preço conforme a demanda faz com que o setor seja considerado há alguns anos o carro-chefe da inflação brasileira. Situação que deve continuar em 2014, mesmo com as tentativas do governo federal em frear o inchaço de preços.

Confira os ramos de serviços que tiveram reajuste

O setor registra nos últimos 12 meses reajustes bem acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do período (5,45%). Clínicas, médicos e dentistas subiram preços em 8,67%. A alimentação fora de casa foi reajustada em 9,34% – em parte por causa do custo dos alimentos, também em ascensão. Serviços pessoais (manicure ou cabeleireiro, por exemplo) ficaram 8,42% mais caros no país.

Dois fatores devem manter alta a inflação do setor. Um deles é a demanda crescente depois que serviços passaram a ser contratados por mais classes sociais. A receita do setor expandiu 8,5% no ano passado. No Paraná, foi 7,3%. Outro aspecto é mercado de ocupação aquecido, que em muitas capitais tem permitido ao trabalhador escolher o emprego. A estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que a mede a inflação, é de que o desemprego tenha afetado apenas 4,8% da população ativa em janeiro – são avaliadas quatro capitais, sem Curitiba. No mesmo mês de 2013, eram 5,4%.

Segundo a economista Maria Andreia Lameiras, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a única forma de o setor de serviços aumentar a produtividade para dar conta da demanda é contratando, e isso não tem sido fácil. "Funcionários qualificados ficam muito caros", diz. "Assim, ou você contrata para treinar o funcionário ou emprega alguém sem qualificação. E nos dois casos trata-se de mão de obra pouco produtiva. Fica um ciclo vicioso – demanda alta e custo alto – que é repassado ao consumidor."

Dificuldade

A estofaria da qual Sandro César Gantzel dos Santos é sócio em Curitiba passa por isso. Trabalho não falta, mas a dificuldade em contratar faz com que os donos abram o bolso para não perder oportunidades. "Tem que pagar mais para manter a mão de obra qualificada." A dificuldade é achar um empregado que saiba das duas funções do ofício: estofar e costurar. "Empresas contratam duas equipes porque só acham gente que faz uma tarefa", explica Sandro.

A particularidade ajuda a explicar por que o serviço foi um dos que mais aumentou de preço entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014. No país, o reajuste foi de 12,8%; em Curitiba, de 15,9%.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]