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As condições econômicas nacionais e internacionais não dão espaço, pelo menos por enquanto, para um corte da Selic acima de 0,5 ponto porcentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em outubro. É o que julgam analistas consultados pela Agência Estado. Internamente, as expectativas e a inflação corrente apontam para um IPCA acima do teto da meta no acumulado em 12 meses. No que diz respeito à atividade, se os números da produção industrial são fracos, o setor de serviços continua exibindo números muito fortes. No exterior, o grande foco de atenção continua sendo a Grécia. Mas nem a possível confirmação de um calote na dívida grega convence esses economistas de que o Banco Central precisará elevar o ritmo de corte da taxa básica de juros para 1 ponto, como discute parte do mercado.

Com base na ata da última reunião do Copom, dizem os analistas, a taxa de juros não deveria ser reduzida no encontro de outubro nem deveria ter sido cortada em agosto de 12,5% para 12% ao ano. Para o sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, quando reduziu a taxa de juros no mês passado, o Copom previa o agravamento da crise internacional e um processo de desinflação, com queda dos preços das commodities no mercado internacional. "Isso não ocorreu. Se os preços das commodities não subiram, também não caíram a ponto de provocar desinflação", avalia. "A inflação no Brasil é persistente. Há vários anos, com exceção de 2009, não conseguimos entregar a inflação na meta", lembra.

Para o economista-sênior do Besi Investimento, Flávio Serrano, a dinâmica inflacionária não mostra uma inflação compatível com a meta. "O resultado efetivo é preço. Busca-se controle da inflação e ela não está controlada. Tem alguma coisa errada aí." Serrano diz não ver possibilidade de um colapso da economia mundial. "Vamos supor que o BC esteja certo e nós errados. Ele (o BC) não tem como prever qual será o impacto de um default da dívida grega sobre a economia brasileira", afirma.

Para Serrano, o BC está usando um cenário alternativo para justificar decisões de política monetária quando deveria usar este cenário para responder aos fatos caso o cenário alternativo se torne o cenário básico. "Não se pode reduzir juros com base nos impactos na economia brasileira de uma crise internacional que não aconteceu ainda. É claro que política monetária é forward-looking, mas o BC está tomando como base o que não ocorreu", critica. O economista do Besi Investimento lembra que até o Chile, que tem uma dependência maior do mercado externo que o Brasil, preferiu manter a taxa de juros e esperar os acontecimentos da economia internacional.

No Banco ABC Brasil, o economista-chefe Luís Otávio de Souza Leal, avalia que não haverá correção das expectativas para a taxa de juros no Copom de outubro por uma simples questão: "Essas expectativas estão baseadas em coisas ditas e desejos ocultos do presidente do BC. Ele foi perguntado no FMI se as coisas tinham mudado e ele disse que estão como ele esperava. Na ata, o BC não indicou que, se esse cenário se concretizasse, ele teria de acelerar o ritmo de queda dos juros."

Souza Leal afirma que, nas reuniões privadas com dirigentes de economias estrangeiras durante a reunião anual do FMI nos Estados Unidos, Tombini pode ter ouvido coisas que o fizeram sair de lá com um sentimento de maior urgência. "Mas pelo que tenho lido nos documentos do próprio BC acho que ele não tem motivos para cortar a Selic, e muito menos acima de 0,5 ponto", afirmou.

Para o economista-chefe do ABC Brasil, a política monetária no Brasil hoje é uma questão de gosto. "O BC até deve ter uma ideia de onde quer chegar, deve ter um plano de voo, mas a gente não sabe se ele quer chegar ao objetivo mais ou menos rápido. O Paul Volcker ,quando assumiu o Federal Reserve (em 1979), elevou a taxa de juros de uma só vez e quase quebrou o mundo. O Greenspan (Alan Greenspan) pegou a taxa de juro norte-americana e foi elevando-a de 0,25 ponto em 0,25 ponto. Aqui eu não consigo ver mudanças que justifiquem uma aceleração no ritmo de corte da Selic", explica o economista do ABC Brasil.

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