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O decreto do governo boliviano que nacionaliza o gás e o petróleo venho depois de uma decisão similar adotada na Venezuela pelo presidente Hugo Chávez, mas analistas dizem que Evo Morales terá dificuldades em usar os recursos energéticos para promover um movimento de esquerda, como faz Chávez em seu país.Enquanto o avançado setor petrolífero venezuelano permitiu a Chávez consolidar seu apoio popular e formar alianças de esquerda mundo afora, o gás boliviano dará menos sustentação política e econômica a Morales, segundo analistas.

"A Venezuela tem uma particularidade, a de que os recursos obtidos com o petróleo são tão grandes que Chávez basicamente governa o país com base no petróleo", disse Roger Tissot, analista da consultoria PFC Energy em Washington. "Mas a Bolívia não pode fazer isso com o setor do gás. As opções para Morales são mais limitadas."

A gigante estatal venezuelana PDVSA faturou, em 2005, 83 bilhões de dólares, graças ao aumento da cotação do petróleo, e entregou aos cofres públicos 22 bilhões de dólares em impostos e "royalties", segundo a imprensa local.

Chávez retomou o controle da PDVSA de seus adversários políticos em 2003, após uma longa greve, e com isso pôde direcionar os lucros da empresa para programas sociais.

A Bolívia, por outro lado, exportou apenas 1,3 bilhão de dólares em produtos energéticos no ano passado, e a estatal YPFB foi reduzida na década de 1990 a pouco mais do que uma unidade administrativa que supervisiona as operações de empresas privadas.

Estima-se que a Venezuela tenha 78 bilhões de barris de reservas de petróleo. Já a Bolívia conta com apenas 1,48 trilhão de metros cúbicos de gás natural, que é menos valioso e mais difícil de transportar do que o petróleo bruto convencional.

"Evo e seu governo terão uma vantagem consideravelmente menor do que a Venezuela", disse Patrick Esteruelas, da consultoria Eurasia Group, de Nova York.

Chávez, um modelo

Chávez, um ex-pára-quedista do Exército eleito em 1998, tornou-se um modelo para políticos de esquerda na região. Ele se auto-intitula revolucionário socialista e promove enormes campanhas sociais, que incluem saúde e educação grátis para a maioria pobre da população.

O presidente venezuelano apela a um crescente antiamericanismo na região, com críticas freqüentes ao capitalismo e ao "imperialismo" dos EUA.

O governo diz que vai gastar 4,5 bilhões de dólares neste ano com programas sociais --chamados de "missões"-- que são cruciais para que Chávez e seus aliados vençam seguidas eleições.

Mas a Bolívia terá dificuldades para realizar os mesmos gastos sociais, mesmo com os 400 milhões de dólares extras que devem surgir devido à nacionalização.

"Se começarem a criar programas do tipo 'missões', o dinheiro vai embora rapidinho", disse Tissot.

O bem desenvolvido sistema venezuelano de venda de combustíveis permite que Chávez fortaleça as relações com aliados regionais --especialmente a comunista Cuba-- oferecendo gasolina barata para nações que não têm como arcar com os gastos de energia.

Este tipo de cooperação energética será mais difícil para a Bolívia, que, sem acesso ao mar, terá menos flexibilidade para distribuir o gás.

E, embora Chávez tenha obrigado empresas como a Royal Dutch Shell e Chevron a reverem seus contratos, Morales enfrentará negociações mais duras com empresas como a britânica BP e a francesa Total em torno de campos de gás menos cobiçados, segundo analistas. "A força da Bolívia é o gás", disse Esteruelas. "E gás, evidentemente, não é petróleo bruto."

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