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O proprietário da Montanna Veículos, Guaracy Marinho, com o único vendedor que não foi demitido, Ricardo Miceli: eram seis antes da crise | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
O proprietário da Montanna Veículos, Guaracy Marinho, com o único vendedor que não foi demitido, Ricardo Miceli: eram seis antes da crise| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Em todo o setor automotivo, o segmento mais afetado pela crise foi o de veículos usados. Essa foi a conclusão a que chegou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, meses depois de o governo reduzir impostos de carros novos e liberar dinheiro para montadoras. Na quarta-feira passada, Lupi anunciou que o Banco do Brasil abriu uma linha especial de crédito de R$ 200 milhões para o capital de giro das revendedoras – cada uma pode pegar emprestado até R$ 200 mil –, com juros de 17,5% ao ano. Como o dinheiro sairá do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), a concessão de crédito estará condicionada à manutenção do emprego nas lojas.

Para a Assovepar, representante do varejo de usados no Paraná, a medida "vai dar novo fôlego para o mercado de seminovos e garantir os postos de trabalho". Segundo a associação, "só no Paraná são cerca de 5 mil revendas de veículos usados, que empregam no total 25 mil trabalhadores". Mas, para muitos lojistas e funcionários, a medida tardou demais a aparecer. Boa parte dos empresários já dispensou trabalhadores, e alguns tiveram de abandonar o negócio.

"Depois de ficarmos quatro meses aguentando a bronca sem qualquer apoio, o governo impõe a condição de não dispensarmos trabalhadores, o que é impossível", aponta o revendedor Guaracy Marinho, dono da Montanna Veículos, que trabalha no segmento há dez anos. Na última terça-feira, véspera do anúncio do ministro, ele esbravejava contra a lentidão governamental. "Atenderam apenas ao lobby das grandes montadoras, que aqui em Curitiba têm 50 ou 60 concessionárias que pertencem a cinco grandes grupos empresariais. E esqueceram as revendedoras de usados, que são mais de mil. Além disso, com o barateamento dos carros novos, o cliente de seminovos migrou para os novos."

Marinho conta que, desde a crise, teve de demitir cinco pessoas. Para atender aos clientes que entram na loja, no bairro Santa Felicidade, sobraram apenas ele e o vendedor Ricardo Miceli. O número de carros no pátio também foi reduzido. "Carro parado gera despesa", lembra Marinho, que agora aposta suas fichas em um serviço de "cosmética automotiva" que vai inaugurar em março, aproveitando o espaço deixado pela baixa do estoque.

Portas fechadas

Um levantamento feito pela Assovepar mostrou que pelo menos 80 revendedoras, das 1,2 mil lojas que existem na faixa leste do Paraná, entre Ponta Grossa e o litoral, fecharam as portas por causa da crise. "Mais lojas vão fechar, porque nos últimos anos a expansão do mercado atraiu muitas pessoas que se aventuraram, sem capital, sem condições de manter a loja. Gente que trabalhava quase que só com carros consignados, enquanto na média a maioria das lojas têm cerca de 80% de veículos próprios", diz Lidacir Antônio Rigon, presidente da associação. O número ideal para que o mercado seja saudável, segundo ele, seria de 700 lojas.

"Apenas nas quadras próximas daqui, cinco lojas fecharam", conta Jorge Cardoso, vendedor da Nicarágua Veículos, no Bacacheri. Ricardo Miceli, vendedor da Montanna, diz que em poucos meses vinte revendedoras "sumiram" do cadastro do site curitibano que ele usa para monitorar o mercado. A poucas quadras dali, na mesma rua Saturnino Miranda, um empresário chegou a preparar toda a fachada para uma nova revendedora de veículos. Mas o empreendimento, que seria aberto no último trimestre de 2008, parece ter sido atropelado pela crise – nem sequer foi inaugurado.

Mas a retração do mercado não afetou apenas os ditos "aventureiros", e nem se limitou aos bairros. No início do ano, o empresário Wanderley Ferreira fechou a Wandeco Automóveis, que por 28 anos ocupou o mesmo ponto na Rua Mariano Torres, entre a Nilo Cairo e a Visconde de Guarapuava, bem no centro da capital. No início de dezembro, em entrevista à Gazeta do Povo, ele havia dito que daria férias coletivas aos funcionários e, em janeiro, decidiria se continuaria ou não com o negócio. "O Wandeco cansou de se incomodar. Como tem outras fontes de renda, pôde abrir mão da loja", conta um empresário do segmento.

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