Berlusconi renuncia formalmente e encerra um dos períodos mais escandalosos da história recente italiana| Foto: Reuters

O astuto magnata que seduziu e dividiu a Itália por 17 anos

Uma das figuras mais controvertidas e carismáticas da Itália, dono de um enorme poder econômico e político, Berlusconi foi eleito por três vezes primeiro-ministro.

No poder desde 2001, com uma interrupção de dois anos de 2006 a 2008, o multimilionário entrou para a política em 1993, como um rosto novo, após os escândalos de corrupção vividos pela Itália anteriormente, chamados de "Tangentopoli" o "Mãos Limpas", que arrasaram com a classe política da época.

Em seus anos no poder público, Berlusconi ficou caracterizado por ataques e provocações a seus inimigos políticos e um forte anticomunismo. Ao deixar o governo, neste sábado, sua popularidade situava-se em torno de 22%, segundo pesquisas, seu mínimo histórico.

O fator culminante para a queda de Berlusconi após sua sobrevivência a escândalos anteriores foi sem dúvida a desastrosa gestão da grave crise econômica que atravessa a Itália e a Europa.

Nascido em 29 de setembro de 1936 em uma família de Milão, Berlusconi mostrou sua vocação para os negócios desde a adolescência, quando estudava no colégio dos Salesianos.

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Queda de Berlusconi traz duro golpe para seu império da comunicação

A queda de Silvio Berlusconi, oficializada neste sábado (12) pela presidência da Itália, representa um duro golpe para o seu império de mídia, Mediaset, que tem se beneficiado muito por ter tido seu fundador no cargo de primeiro-ministro da Itália por oito dos últimos dez anos.

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Silvio Berlusconi renunciou oficialmente ao seu cargo de primeiro-ministro da Itália, na noite deste sábado (12). O anúncio foi feito pelo gabinete de imprensa da presidência da República. Berlusconi, de 75 anos, foi recebido entre vaias no Palácio do Quirinal, onde tornou oficial sua demissão ante o presidente Giorgio Napolitano. A renúncia de Berlusconi colocará fim a uma das épocas mais controversas da história da Itália, permeada de escândalos judiciais e sexuais, que minaram a imagem do país e tiraram toda a credibilidade da classe governante.

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Protagonista dos últimos 17 anos da vida política da Itália, Berlusconi havia prometido renunciar a seu cargo após a adoção definitiva neste mesmo sábado das medidas anticrise tomadas sob a pressão dos mercados e encerrando assim uma era marcada por escândalos.

>>> Câmara aprova pacote de reformas

>>> Multidão se reuniu em Roma para aguardar renúncia

>>> Sarkozy quer viajar a Roma com Merkel para apoiar Mario Monti

Berlusconi chegou em meio a um comboio de carros oficiais ao palácio presidencial, e foi recebido por uma multidão que gritava "palhaço" e erguia cartazes que diziam "Bye, bye, Berlusconi".

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Pouco antes, o maganata havia dito a um grupo de jornalistas que ficou sentido pelas vaias que recebeu após a votação do Parlamento neste sábado, que abriu as portas para sua renúncia.

"Foi algo que me doeu profundamente", disse ele, cercado por dirigentes de seu partido, o Povo da Liberdade, pouco antes de se dirigir ao Palácio do Qurinal, sede da presidência da República.

"Hoje se encerra uma longa e dolorosa página de nossa história", disse Dario Franceschini, deputado da maior formação de esquerda, o Partido Democrático (PD). "Amanhã se inicia uma nova era, começaremos do zero. Temos que reconstruir das cinzas nossa economia, a justiça, a lei eleitoral", disse.

Fabrizio Cicchitto, porta-voz do partido de Berlusconi, Povo da Liberdade (PdL), defendeu o primeiro-ministro por seu gesto de responsabilidade.

A Itália teve que acelerar o ritmo esta semana para aprovar o pacote de medidas exigidas pela União Europeia (UE), ante o risco de que a crise derrube o país, que é a terceira economia da Eurozona, com uma dívida de 1,9 trilhão de euros (120% do PIB).

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A expectativa é que Il Cavaliere seja substituído por um tecnocrata, o economista Mario Monti, de 68 anos, um especialista em assuntos europeus e por dez anos comissário europeu, que conta com o apoio de quase todos os partidos políticos, entre eles o Partido Democrático (PD, de esquerda), assim como dos industriais.

Contudo, existe a expectativa de que Berlusconi e uma parte de sua formação de direita se oponham de última hora a essa designação, criando um clima de incertezas em relação à implantação do tão esperado governo "técnico".

Segundo a imprensa italiana, o multimilionário político se lamenta por não ter sido consultado sobre seu sucessor e exige garantias para o futuro de seu império da comunicação, que seria gravemente afetado por novas leis de fixação dos limites da publicidade.

Além disso, o polêmico movimento popular, Liga Norte, aliado chave de Berlusconi, disse que se opõe a um governo que não seja eleito com o voto popular e anunciou sua total oposição.

Apesar das controvérsias, a aprovação das medidas e a eventual designação de Monti para salvar a Itália do abismo foram bem recebidas pelos mercados de ações, que reagiram positivamente na quinta e sexta-feira, após uma queda brutal na quarta-feira.

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Também as obrigações da dívida italiana à dez anos, que haviam superado nesta semana o alarmante patamar de 7%, recuaram para baixo dos 6,5%.

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, felicitou neste sábado os "progressos significativos" realizados sobre a situação política tanto na Itália quanto na Grécia, países submersos na crise da dívida.

"O que desejamos no FMI é a estabilidade política e a clareza política nestes dois países. Acredito que ambos realizaram progressos significativos", disse Lagarde em Tóquio.

Câmara aprova pacote de reformas

A Câmara de Deputados italiana adotou neste sábado as medidas de ajuste exigidas pela União Europeia (UE) para solucionar a crise econômica, condições colocada pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi para apresentar sua renúncia ao cargo.

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O pacote foi adotado definitivamente pelo Parlamento, depois do que o multimilionário político prometeu apresentar sua demissão ante o presidente da República, Giorgio Napolitano, para ser substituído por um governo de emergência que se comprometa em reduzir a colossal dívida pública do país.

A opção política mais cotada neste momento para a Itália é a formação de um governo tecnocrata, liderado por uma personalidade que coloque em acordo todas as forças políticas para tirar a Itália da difícil situação atual.

Para liderar esse governo tecnocrata, o nome especulado é o do economista e ex-comissário europeu Mario Monti, de 68 anos, que conta com grande apoio entre as forças parlamentares e que, na quarta-feira, foi nomeado senador vitalício pelo presidente da Itália, Giorgio Napolitano, o que foi interpretado pelos analistas como um sinal de que ele seria indicado ao cargo.

A saída de Berlusconi do poderá abrir caminho para um governo de emergência e encerrando uma das eras mais escandalosas da história italiana pós-Segunda Guerra. A legislatura, marcada pelos escândalos de índole sexual que envolveram o líder na Justiça italiana, chega ao fim dois anos antes do fim natural, pois o mandato terminaria em 2013.

Sua saída causará uma série de reações durante o fim de semana. Elas devem se encerrar na noite de domingo ou na segunda pela manhã, com a formação de um novo governo. Monti, que atualmente chefia a prestigiada Universidade Bocconi, em Milão, deve comandar um governo altamente tecnocrático para aprovar reformas em uma tentativa de evitar uma crise ainda mais perigosa.

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O ex-comissário da União EuropeiaMario Monti, citado como seu potencial substituto, almoçou com Silvio Berlusconi neste sábado.

A maioria dos partidos italianos apoia Monti para assumir o posto de chefe do governo de unidade nacional. Ele é visto como um líder capaz de fechar as fendas em relação à crise do endividamento soberano que elevou o prêmio de risco do país. Mas Berlusconi e seu partido, a Liga Norte, ainda têm dúvidas sobre o apoio a Monti.

Multidão se reuniu em Roma para aguardar renúncia

Uma multidão formada por italianos e turistas se reuniu neste sábado (12) na frente das sedes do Parlamento e da Presidência, ambas em Roma, para acompanhar a esperada renúncia de Silvio Berlusconi.

Ao longo do dia, as pessoas, que vieram de diversas regiões da Itália e de outros países, foram se concentrando nos arredores do Palácio de Montecitorio e do Palácio Chigi para manifestarem suas opiniões sobre a complicada situação política italiana.

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Entre a multidão era possível visualizar cartazes que traziam mensagens como: "Graças, Giorgio", dedicado ao presidente Giorgio Napolitano, e "Finalmente!", em relação à renúncia de Berlusconi. Gritos de "Demissões, demissões" também eram direcionados à classe política em geral.

Entre as pessoas concentradas, uma em específico roubava a cena. Trata-se de Anarella, uma senhora de 85 anos que virou assunto na Itália por ter enfrentado o ministro e líder da Liga Norte, Umberto Bossi, na televisão.

Descontraída, Anarella queria oferecer um charuto para Umberto Bossi, "o último que fumará como ministro", além de ter prometido se embriagar publicamente caso Silvio Berlusconi não declarasse sua renúncia.

Sarkozy quer viajar a Roma com Merkel para apoiar Mario Monti

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediu o aval do chefe de Estado italiano, Giorgio Napolitano, para viajar a Roma junto à chanceler alemã, Angela Merkel, com o objetivo de apoiar o economista Mario Monti, provável sucessor do governo de Roma, informa neste sábado a edição online do jornal "Le Monde".

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Napolitano, por sua vez, indicou a Sarkozy que confia no voto positivo no Parlamento para que, nos próximos dias, o ex-comissário europeu possa formar um novo Executivo que substitua o primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

Sarkozy expressou ao presidente italiano seu desejo de que o novo Governo dure e não haja eleições nos próximos meses, a fim de garantir a salvação da zona do euro. O francês se ofereceu para entrar em contato com responsáveis políticos italianos a fim de apoiar a formação de um Governo durável.

"Após ter impulsionado a saída de Berlusconi, o eixo franco-alemão deve cuidar para não dar a sensação de se intrometer nos assuntos internos italianos", assinala o "Le Monde", justificando a cautela de Sarkozy em solicitar o aval de Napolitano para viajar a Roma e apoiar um nome ainda não definido.