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As perspectivas para o desempenho da indústria estão em queda. Instituições financeiras e corretoras ouvidas pelo Banco Central no relatório Focus apontaram nesta semana que a indústria crescerá 2,9% neste ano. As expectativas já foram melhores: há menos de três meses, projetava-se um crescimento de 3,3%. 

 O setor está apostando suas fichas na aprovação da reforma previdenciária para poder deslanchar. Mas enfrenta quatro travas que limitam o seu crescimento: a crise na Argentina, o desemprego elevado, a elevada capacidade ociosa e o elevado custo do crédito. 

 O problema de desaquecimento da atividade industrial é generalizado, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Dos 103 segmentos industriais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 61 tiveram crescimento menor em 2018, comparativamente a 2017. 

 E o desempenho da indústria vai estar vinculado ao da economia. O Itaú, por exemplo, projeta um crescimento de 2% no PIB em 2019. “Esse cenário pressupõe que a melhora recente das condições financeiras vai persistir e levar a uma aceleração da atividade, em particular a uma melhora do desempenho da indústria à frente. Essa persistência, por sua vez, depende do avanço das reformas, especialmente a da Previdência”, aponta o banco

 Crise na Argentina 

 Um dos principais fatores que contribui para o pouco vigor do crescimento da produção industrial brasileira é a crise na Argentina, um dos principais clientes dos produtos manufaturados brasileiros. A expectativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que a economia do país vizinho encolha 2,6% neste ano e tenha uma inflação de 31,8%. 

“Isto contribui para desacelerar a produção, já que a Argentina é um grande cliente”, afirma Rafael Cagnin, do Iedi.

 No ano passado, o Brasil exportou US$ 14,95 bilhões, segundo a Secretaria do Comércio Exterior. É uma queda de 15,14% em relação a 2017. E a situação continua neste ano: no primeiro bimestre, as vendas para lá despencaram 64,8%. Foram comercializados US$ 1,54 bilhões. 

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Um dos principais segmentos a ser afetado pela crise foi a indústria automobilística. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta que as exportações de veículos devem permanecer estáveis em 590 mil unidades.

No primeiro bimestre do ano, as vendas de automóveis de passageiros caíram 68,2%; as de veículos de transporte de mercadorias, 83,3% e de autopeças, 62,3%, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). 

 A crise na segunda maior economia da América do Sul também contribuiu para o fraco crescimento da economia brasileira no ano passado - 1,1% de expansão, igual ao de 2017. “Foi mais um fator a travar o crescimento, ao lado de greve dos caminhoneiros, do processo eleitoral polarizado e de escândalos como o da JBS”, diz Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais. 

 Desemprego elevado 

 Outra trava para o crescimento da produção industrial é a elevada taxa de desemprego. Isto, segundo Cagnin, inibe a expansão da indústria de bens de consumo. Atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela está em 12,0%, o que corresponde a 12,7 milhões de desempregados. 

 O surgimento de postos de trabalho também não vem animando. A abertura de postos de trabalho com carteira assinada caiu 55,9% em janeiro, comparativamente a igual mês de 2018, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). “E no ano passado, criaram-se mais postos de trabalho informais, que têm tradicionalmente uma remuneração menor”, destacai. 

 Este cenário se reflete diretamente no desempenho de setores fortemente dependentes do consumo, como o alimentício e o de confecções. O primeiro se retraiu 5,1% no ano passado e o segundo, 3,3%; 

Grande capacidade ociosa 

A grande capacidade ociosa é um fator que inibe uma maior reação da indústria. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor encerrou o ano com utilização de 75,6% da capacidade instalada, número similar ao do encerramento de 2015. “Isto dificulta a realização de investimentos em expansão”, destaca o economista-chefe do Iedi, Rafael Cagnin. 

Ele destaca que os investimentos no ano passado foram em projetos localizados ou por aplicações de recursos por empresas que não investiam há algum tempo. No ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o investimento cresceu 4,1%, a primeira expansão desde 2013. Os dados foram inflados pela incorporação contábil de plataformas de petróleo 

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Nem mesmo a tendência à manutenção da taxa básica da economia - a Selic - em 6,5% ano e o melhor humor dos empresários, que segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) está nos maiores níveis em oito anos e meio, contribuirão para intensificar o ritmo dos investimentos . “Está todo mundo em stand-by por causa da reforma da previdência”, diz Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos. 

 Custo elevado no crédito 

 O elevado custo de crédito é outro fator que dificulta a expansão da produção industrial. Segundo dados do Banco Central (BC), a taxa de juro cobrada das empresas não acompanhou o ritmo de queda da Selic. 

 De agosto de 2016, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou o processo de redução, até dezembro, a Selic caiu 54,3%. No mesmo período, a taxa média cobrada das empresas pelas instituições financeiras teve uma retração de 38,3%, passando para 18,8% ao ano. 

 Outro problema, de acordo com Cagnin, é a escassez de recursos para as empresas. “É muito caro e muito pouco.” O BNDES também vem reduzindo sua participação nos financiamentos. Em dezembro, o saldo da carteira de crédito das empresas era de R$ 1,47 trilhão, 1,3% a mais do que no mesmo mês de 2018. No mesmo período, o PIB cresceu 1,1%. 

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