• Carregando...
Argentinos se reuniram ontem em Buenos Aires para manifestações a favor do governo e contra os “fundos abutres” | Marcos Brindicci/Reuters
Argentinos se reuniram ontem em Buenos Aires para manifestações a favor do governo e contra os “fundos abutres”| Foto: Marcos Brindicci/Reuters

Alternativa

Kicillof não descarta que bancos privados assumam dívida

O ministro da economia da Argentina, Axel Kicillof, afirmou na noite de ontem que não se pode descartar que bancos privados argentinos façam uma oferta pelos bônus dos fundos dos Estados Unidos, ficando assim com a dívida dos chamados holdouts. Assim, as negociações passariam a ser entre a Casa Rosada e este grupo de bancos. "Não se pode descartar soluções entre terceiros, porque se gerou um problema privado", afirmou o ministro, em uma entrevista coletiva.

Ontem, a imprensa argentina noticiou que um grupo de bancos privados argentinos e os fundos litigantes teriam chegado a um acordo para comprar 100% dos títulos destes últimos, o que evitaria o calote. Em troca, os credores concordariam em interceder pela suspensão da execução da sentença ante a Justiça americana. A associação de bancos privados do país, no entanto, negou a informação.

Efeito cascata

O ministro afirmou ainda que a sentença, conforme determinada pelo juiz Thomas Griesa, faria a dívida de US$ 1,3 bilhão com os holdouts se transformar em US$ 15 bilhões, com outros fundos reclamando os mesmos benefícios, e no limite chegar a US$ 120 bilhões, com todos os credores da dívida do país entrando com ações.

Questionado sobre a decisão da Standard & Poor’s (S&P), que rebaixou a nota do país para "default seletivo", Kicillof disse que ninguém mais acredita nas agências de classificação de risco, que não alertaram para os riscos das hipotecas na época da crise de 2008.

  • Para ministro argentino, situção é

A Argentina não conseguiu fechar um acordo ontem com os fundos credores dos Estados Unidos, que a Casa Rosada chama de "abutres". Com isso, o país entra em "default iminente", de acordo com um comunicado do advogado Daniel Pollack, o mediador designado pelo juiz Thomas Griesa para as negociações entre a Casa Rosada e os fundos.

No comunicado, Pollack disse que o default "não é uma mera condição ‘técnica’, mas um evento real e doloroso que prejudica pessoas reais", inclusive cidadãos argentinos, detentores dos bônus reestruturados e os investidores holdouts. "Todas as consequências do default não são previsíveis, mas certamente não são positivas", reforçou o mediador.

O ministro da economia da Argentina, Axel Kicillof, que participou ontem da reunião de seis horas em Nova York, nega que o país tenha dado o calote. Em entrevista a jornalistas após as negociações, ele afirmou em vários momentos que o país vem pagando e vai continuar pagando seus compromissos financeiros. Recentemente, disse, a Argentina desembolsou US$ 650 milhões para o Clube de Paris. Além disso ele destacou outros recursos depositados em bancos e que o juiz Thomas Griesa impediu a distribuição aos credores. "Me surpreendeu negativamente (o comunicado de Pollack)", afirmou o ministro.

Kicillof afirmou que os fundos dos EUA não aceitaram as propostas feitas pelo governo, que buscavam adiar a execução da sentença dada em 16 de junho, que determinava o pagamento de US$ 1,3 bilhão aos fundos dos EUA até ontem. Kicillof afirmou que o país fez outra proposta, de uma troca ("swap") que daria aos "abutres" um lucro de 300%, segundo o ministro. "Mas eles não aceitaram, porque querem mais", afirmou.

Sem pagar esta dívida, o país foi impedido por Griesa de pagar cerca de US$ 830 milhões aos fundos que aderiram às reestruturações da dívida de 2005 e 2010. O país depositou, por exemplo, US$ 540 milhões no Bank of New York e o dinheiro ainda está retido na instituição. Kicillof classificou na entrevista a situação de "insólita e inédita".

Conversas frustradas

Nos últimos dias, os credores e advogados correram contra o tempo para tentar evitar o calote da Argentina. Ontem, credores com bônus denominados em euro do país entraram com um pedido de emergência para a suspensão da sentença que determina o pagamento aos holdouts. Além disso, estes fundos abriram mão da chamada cláusula Rufo, que exige os mesmos benefícios aos credores da dívida reestruturada dos oferecidos aos holdouts.

A cláusula Rufo, que vence em dezembro deste ano, foi constantemente citada pela Argentina nas conversas como o principal empecilho para o avanço das negociações.

Nota rebaixada

A agência Standard & Poor’s, que analisa o risco de potenciais calotes de títulos, rebaixou a nota da Argentina no fim da tarde de ontem. A nota de risco caiu de CCC- para SD (default seletivo). A notícia foi divulgada enquanto o ministro da Economia, Axel Kicillof, estava reunido com o negociador apontado pela Justiça dos EUA. Antes do rebaixamento da S&P, no mercado financeiro os ativos atrelados à negociação da dívida tiveram altas. Foi o caso da cotação dos títulos que poderiam entrar em default: passaram a valer 10,7% a mais. O principal índice da Bolsa de Buenos Aires, o Merval, subiu 6,94%.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]