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O Banco Central (BC) deve adotar um tom mais "duro" na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), a ser divulgada amanhã, na avaliação é do ex-presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria Gustavo Loyola. "A base institucional do regime de metas de inflação e a linguagem do relatório [de inflação] não devem variar substancialmente, mas pode haver mudanças em função da conjuntura, já que estamos no início de um processo de alta de taxa de juros. Por isso, o tom deve ser mais duro, mais hawkish", avalia.

Para Loyola, três questões devem ganhar destaque na ata do Copom: avanço das expectativas de inflação, questão fiscal e a situação atual da economia internacional. "Existe uma grande curiosidade [do mercado] em relação à ata por se tratar da nova gestão do Banco Central, mas acredito que há mais pontos em comum do que divergentes entre as duas gestões", afirma Loyola, referindo-se ao comando do atual presidente, Alexandre Tombini, e a do ex-presidente Henrique Meirelles.

Apesar de considerar que a inflação não deve convergir para o centro da meta em 2011, que é 4,5% ao ano, Loyola acredita que o IPCA feche dentro da margem de tolerância estipulada de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. "É possível manter o índice oficial dentro do teto de dois pontos porcentuais e o indicador encerrar o ano em torno de 5,5%, convergindo a meta para 2012", diz.

Para Loyola, o setor de serviços deve ser o que mais continuará pressionando os preços este ano, seguido pelo avanço dos alimentos. "O fato de a demanda estar aquecida e o setor não sofrer influência externa, já que não podemos importar serviços do exterior, vai pesar bastante na inflação", explica. Nesse cenário, o sócio da Tendências Consultoria diz esperar mais duas ou três altas da taxa básica de juros da economia brasileira, que, segundo ele, pode encerrar 2011 em 12,75% ao ano. "Es­­peramos um aumento em torno de 150 pontos-base. E o BC poderia estacionar os juros num patamar ‘adequado’ para lidar com as pressões inflacionárias no curto prazo", avalia.

Para Loyola, um dos maiores desafios da atual gestão do BC é saber lidar com a política do Ministério da Fazenda de evitar a apreciação da moeda brasileira ante o dólar norte-americano, sugerindo ao novo comando da instituição que não abuse das medidas macroprudenciais. "No caso do crédito, pode se criar um sistema paralelo financeiro, que não estaria sob os olhos do BC, gerando riscos não percebíveis pela autoridade. As medidas tiram o impacto da política monetária e exigem até um aumento maior dos juros, o que acaba tendo efeito contrário", explica.

Do lado do câmbio, Loyola avalia que a eficácia das medidas ainda não está comprovada; por isso, "é preciso cuidado ao adotá-las". Para Loyola, não há um piso ideal para o câmbio. O que ele considera negativo nesse cenário é a volatilidade excessiva da moeda, mas ressalta que o país tem condições de se adaptar a diferentes taxas de câmbio.

Loyola, que se autointitula "otimista moderado" com o novo governo, avalia como positivos os primeiros passos dados pela presidente Dilma Rousseff em relação à política econômica, inclusive a indicação de Tombini para o Banco Central. "Sinaliza a confiança [da presidente Dilma] num profissional de caráter mais técnico para o Banco Central", diz.

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