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Comerciante expõe grande diversidade de mercadorias em sua loja, em Hong Kong: economia chinesa, símbolo e líder dos emergentes asiáticos, deve crescer 9% em 2010 | AFP / Ed Jones
Comerciante expõe grande diversidade de mercadorias em sua loja, em Hong Kong: economia chinesa, símbolo e líder dos emergentes asiáticos, deve crescer 9% em 2010| Foto: AFP / Ed Jones

O prodígio chinês tem seus riscos

Os chineses estão determinados em formar a maior economia do mundo. E conseguirão isso dentro de 20 ou 25 anos, dependendo de quem faz a projeção.

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Índia tenta vencer a pobreza

A Índia guarda algumas semelhanças com a China. Passa por um processo de abertura econômica recente, tem uma população na casa do bilhão e um intenso fluxo migratório do campo para a cidade. É, porém, um país em um estágio de desenvolvimento mais atrasado. Tem uma renda per capita que é a metade da chinesa e índices de pobreza mais elevados. Outra diferença fundamental é que a Índia se apresenta como a maior democracia do mundo, o que pode ser uma vantagem institucional no longo prazo. O governo indiano lançou dois pacotes de estímulos para a economia, baseados principalmente na redução de impostos e subsídios para o consumo. Eles ajudaram a fazer com que o ritmo de crescimento, que ameaçava cair abaixo de 6%, voltasse para 8% ao ano no terceiro trimestre. O principal efeito colateral da retomada é a explosão nos gastos do setor público, que terá um déficit perto de 10%. Há também uma preocupação crescente com a inflação, que disparou com a alta nos preços dos alimentos provocada por chuvas acima da média. O peso do mercado indiano no comércio internacional já começa a se fazer sentir. A disparada no preço do açúcar neste ano devido a uma quebra na safra da Índia, que é também o maior consumidor mundial do produto. Sozinho, esse fator fez com que o país, que não é um parceiro comercial tradicional do Brasil, assumisse o posto de décimo maior destino das exportações brasileiras, com embarques de US$ 2,6 bilhões, sendo US$ 1 bilhão em açúcar. (GO)

Vem da China um dos fenômenos mais esquisitos de um ano de crise global: a "inflação do alho". O preço do produto quadruplicou de preço em um ano, após ter virado alvo de especuladores, que aproveitaram uma quebra na produção para lucrar com a preferência culinária dos chineses. A alta é típica de países emergentes, onde a demanda cresce com a entrada de novos consumidores. São economias assim, concentradas na Ásia, que tomaram a dianteira no resgate da economia global da crise.

A liderança asiática estava em fase de incubação até o estouro da crise. Países como China, Índia, Malásia, Indonésia e Vietnã já cresciam com força. Eles fazem parte de um grupo apelidado de "Ásia emergente" e que tem em comum um modelo de expansão amplamente baseado na exportação. Assim, o crescimento mundial dependia do aumento do consumo dos países ricos, notadamente dos Estados Unidos, que deram força para a industrialização dos emergentes asiáticos.

Agora, esses países terão de provar que são capazes de crescer em um ambiente novo. Os consumidores dos países desenvolvidos estão endividados até o pescoço e tendem a elevar sua poupança pelos próximos anos. A resposta inicial à crise na Ásia emergente veio na forma de redução de juros, aumento do crédito e pacotes de estímulo – sendo o maior de quase US$ 600 bilhões, na China. Essas medidas surtiram efeito. O grupo de emergentes asiáticos deve crescer 6,2% em 2009 e 7,3% em 2010, segundo uma previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI). A boa perspectiva, porém, tem seus riscos. A região ainda tem vulnerabilidades macroeconômicas e está sujeita a bolhas que podem roubar crescimento – como o pitoresco caso do alho chinês.

Dentro da Ásia emergente chama a atenção o desempenho da China, Índia, Indonésia e Vietnã. A economia chinesa surpreendeu analistas ao manter um ritmo de expansão de 8,5% no ano – e a projeção para 2010 é de 9% –, quando muita gente previa um número entre 6% e 7%. A Índia deve crescer 5,4% em 2009 e 6,4% em 2010, números que têm tudo para serem revistos para cima. Vietnã e Indonésia terão resultados na faixa dos 4% neste ano e 5% em 2010.

Sustentável?

Em todos os casos, uma parte importante do crescimento foi garantida por estímulos fiscais. A dúvida entre os analistas está na capacidade da região continuar bem nos próximos anos, conforme os governos retirarem o suporte ao investimento e ao consumo. A análise mais pessimista diz que a região ainda depende muito dos Estados Unidos e que ela perderá fôlego se os americanos não voltarem a consumir – é o que diz por exemplo a consultoria Roubini Global Economics. Os principais problemas estão nos déficits fiscais em alguns dos países da região que não permitem maior atuação dos governos e no risco de inflação. De fato, Vietnã e Índia já enfrentam déficits e inflação perigosamente altos.

Há quem argumente que a dinâmica econômica da região é muito mais complexa do que a simples dependência da economia americana. A área concentra uma população enorme que ainda está passando pelo processo de urbanização, que é em si uma fonte de crescimento ao mudar a mão de obra de atividades de subsistência rural para a produção industrial e prestação de serviços. Somente na China, 220 milhões de pessoas devem migrar do campo para as cidades no período de 2010 a 2025. Outros 230 milhões de indianos seguirão o mesmo caminho.

A Ásia emergente também está ligada a outras economias que fornecem capital e tecnologia para o desenvolvimento. O Japão, apesar de ter praticamente estagnado após uma bolha imobiliária no início dos anos 90, é a maior fonte de investimentos estrangeiros na região. Suas empresas têm interesse em abrir fábricas e transferir tecnologia para países como Tailândia e China, o que acelera o crescimento. "O Sudeste e o Leste da Ásia têm um grau de integração muito grande. Empresas do Japão e Coreia investem em várias partes do continente, o que gera um comércio que dinamiza toda a região", diz o economista Silvio Miyazaki, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

O comércio é, no entanto, apenas um instrumento que pode acelerar o "descolamento" da Ásia das economias dos Estados Unidos e Europa. Para ele se completar, é necessário que os investimentos e as trocas comerciais sejam seguidas pelo consumo. "A exportação serviu como alavanca inicial de crescimento na região. Agora esses países procurarão outros mercados e terão de continuar no caminho de criar uma classe média", afirma o especialista em economia asiática André Moreira Cunha, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A transição do investimento para o consumo vai demorar. Em 2009, a Ásia emergente investiu 42% do PIB – o dobro da média mundial –, cinco pontos porcentuais acima do nível de 2006. Mas os sinais de que isso vai acontecer são claros. A China se tornou o maior mercado mundial de veículos, com vendas de 13 milhões de unidades, ultrapassando os Estados Unidos abalados pela crise. O país é também o maior consumidor de celulares e tem um mercado imobiliário em ebulição. No último trimestre, o consumo na Índia cresceu 5,6%, em uma demonstração de recuperação forte. O mundo torce para que não seja um alarme falso.

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