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Dois anúncios recentes deram uma amostra de como o ano de 2006 foi positivo para as montadoras brasileiras. General Motors e Volkswagen, duas das maiores do país, informaram que vão fechar a temporada no azul, depois de nove anos seguidos de prejuízos – o último lucro de ambas foi justamente em 1997, quando o setor bateu todos os recordes. Ao menos no mercado interno, Fiat e Ford vêm comemorando bons resultados há pelo menos dois anos. Das quatro grandes, somente a Ford registra crescimento inferior a 12% nos primeiros 11 meses do ano. Entre as fábricas mais novas, Peugeot/Citröen, Honda e Toyota comemoram expansão de 19,5%, 17,3% e 15,6%. respectivamente. Na lanterna, estão a Mitsubishi, instalada em Goiás, com aumento de 2,9% nas vendas, e a "paranaense" Renault/Nissan, com 0,4% (leia mais nesta página).

Quase todas essas notícias têm sido muito bem recebidas pelas matrizes dessas montadoras, especialmente pelas norte-americanas Ford e General Motors, afundadas em uma crise que fica mais evidente a cada balanço trimestral. "A GM e a Ford estão desesperadas por gerar notícias boas para seus credores norte-americanos. Mesmo que o peso da América do Sul seja muito reduzido eu seus balanços, uma notícia positiva daqui dá uma sensação de otimismo", diz uma fonte próxima aos principais executivos do setor.

Para ela, parte do êxito das filiais brasileiras está no fato de que finalmente pararam de brigar por fatia de mercado – acabando com a guerra de preços – e passaram a se concentrar no lucro. "Apesar de os descontos ao consumidor terem diminuído, o ano acabou sendo muito bom em volume de vendas e em margem de lucro."

Isso significa que a choradeira das montadoras brasileiras está próxima de acabar? Não necessariamente, já que as perdas com o mercado externo foram consideráveis em 2006, principalmente para quem exportava pelo menos 40% de sua produção, caso da Volks e da Ford. Segundo a Anfavea, o faturamento do setor com as exportações vai aumentar 8%, atingindo US$ 12,1 bilhões. O crescimento é superior ao esperado mas, segundo especialistas, o dado está longe de ser positivo.

Em unidades vendidas, haverá queda de 5,2% até o fim do ano – o que mostra que, em moeda americana, as montadoras estão ganhando mais por veículo vendido. O problema está na conversão para reais, moeda com que elas pagam mão-de-obra e matérias-primas. "Desde 2005, o custo da mão-de-obra subiu 8%, o aço 5%, vidros 5%, e a energia elétrica também ficou mais cara. No mercado interno, as montadoras até conseguem repassar esses aumentos, que superaram qualquer índice de inflação. Mas nas exportações isso é impossível", diz David Wong, vice-presidente da consultoria Kaiser Associates.

Mas as empresas parecem ter percebido que reclamar do câmbio não vai melhorar a situação. A primeira atitude foi reajustar os preços em dólar, para não ter prejuízo lá fora. A conseqüência natural foi a perda de boa parte dos clientes, mas ao menos as margens de lucro foram, em parte, recuperadas.

Depois de anos faturando alto com o mercado internacional, a intenção agora é se concentrar cada vez mais no doméstico – tanto que, para os próximos quatro anos, já estão previstos investimentos de pelo menos US$ 8 bilhões nas filiais brasileiras. "É um setor que depende muito do produto. O consumidor quer lançamentos, e quem ofertá-los obviamente levará vantagem", diz Wong. Esse valor não inclui o da esperada nova fábrica da Toyota, que estaria disposta a produzir um carro pequeno no país e precisaria de mais espaço – sua unidade em Indaiatuba (SP), onde é feito o Corolla, não suporta mais que 45 mil veículos por ano. Especula-se que a nova unidade ficaria em São Paulo ou em um dos três estados da Região Sul.

Para José Rinaldo Caporal Filho, diretor da consultoria Megadealer Automanagement, o que as montadoras estão fazendo é nada mais que recuperar quase uma década de "tempo perdido". "Quem depende de exportação fica parado no tempo."

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