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 | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

O Brasil é o principal culpado pelo baixo crescimento da sua economia, mesmo que o cenário econômico internacional não tenha sido dos melhores depois da crise financeira mundial de 2009. O Brasil cresce pouco porque adotou um modelo de desenvolvimento baseado em um estado centralizador, que abusa de desonerações e de protecionismo e não fez reformas necessárias. A opinião é do pesquisador Samuel Pessoa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que na última quinta-feira participou do 19.º Encontro dos Economistas da Região Sul (Enesul) na Universidade Positivo (UP). O senhor diz que o cenário internacional adverso teve pouco peso no desempenho econômico do Brasil nos últimos anos. Por quê?

O que determinou o resultado positivo do governo Lula foram muito mais as reformas que começaram no governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) e que foram mantidas por ele, do que efeito do cenário externo. O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo. Num ranking de 150 países, ele provavelmente está entre as cinco mais fechadas. Então, se no governo Lula a situação externa não ajudou tanto, agora também não está atrapalhando tanto assim. Então o que deu errado?

O governo Lula provou que é possível ser um governo de esquerda fiscalmente responsável e que pode fazer reformas. Na minha opinião, o governo Dilma acabou abandonando avanços importantes e deu uma guinada rumo a um modelo de desenvolvimento baseado no estado protecionista e desonerador, muitas vezes sem ter espaço fiscal para isso. Há uma corrente respeitada que defende esse modelo, mas na minha opinião ele é equivocado. Houve piora no superávit primário, a inflação bate o teto da meta há quatro anos e, do ponto de vista microeconômico, o governo hipertrofiou o BNDES, que passou a financiar os chamados "campeões nacionais". Qual o principal resultado dessa combinação?

Não concordo com desonerações para apenas alguns setores. Tem que ser para todo mundo. Por outro lado, a produtividade é um problema. Se tivemos um crescimento de 1,5% da produtividade no governo Lula, na gestão Dilma ela despencou e não cresceu mais. O pressuposto do modelo atual é que o crescimento gera ganhos de produtividade. Mas na verdade o investimento em educação e produtividade leva ao crescimento. Foi o que a Coreia fez e hoje o país tem uma renda per capita três vezes maior que a nossa. Em termos de investimento, o desempenho dos governos Lula e Dilma foi semelhante. O senhor defende que essa taxa teria que chegar a 24% – hoje está em 18%. Por que os empresários estão cautelosos em investir?

Porque as expectativas são ruins. E para que o investimento crescesse também era necessário aumentar a poupança interna. Uma coisa não depende necessariamente da outra, mas estão ligadas. De qualquer forma, o investimento não vai deslanchar até as eleições. Os empresários vão esperar para ver os resultados e aguardam uma definição sobre os rumos da economia. O ano que vem é considerado por muitos como um ano de ajuste. Teremos um ano ainda pior do que 2014, cujas projeções para o PIB se deterioram a cada semana?

Será um ano para arrumar a casa, mas melhor que 2014. Para esse ano, projetamos um aumento de 0,3% para o PIB e para o próximo estimamos 1,5%. A tendência é que questões que vêm incomodando, como a piora da situação fiscal e a inflação [com o reajuste de preços que vêm sendo controlados] sejam enfrentadas. Essa bagunça toda terá que ser arrumada. Isso quer dizer que teremos um ciclo mais longo de alta dos juros?

É provável, mas ele não é necessário. Mas é claro que a inflação não cai sozinha. Teremos que resolver a questão do superávit primário, que tem que ser alcançado com receitas recorrentes. Isso pode vir por meio de aumento de impostos. Mas eu prefiro aumento da carga tributária do que aumento da inflação.

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