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O esforço para reorganizar a casa após a prisão de André Esteves pode fazer com que o BTG Pactual perca o posto de maior banco de investimento do país. Enquanto precisa reforçar o caixa para lidar com a crise de credibilidade, os demais concorrentes encontram espaço para crescer entre os clientes. A disputa maior nesse “rouba monte” deve ocorrer nas operações de fusões e aquisições, justamente o segmento em que o BTG lidera não só no Brasil, mas também na América Latina.

Dados da consultoria Dealogic mostram que a receita de todos os bancos de investimento no Brasil soma US$ 381 milhões no ano, um recuo de 48,5% em relação a 2014. A liderança é do BTG, que passou a ocupar a posição que era do Itaú BBA com uma receita de US$ 50 milhões, proveniente, principalmente, das operações de fusões e aquisições.

Além de estruturar essas operações, muitas vezes os bancos precisam entrar com suporte financeiro ao cliente. Isso ocorre, por exemplo, quando o banco faz um empréstimo a uma empresa enquanto a emissão de títulos da dívida (debêntures, notas promissórias) não é concluída. Em outros casos, a instituição financeira compra esses papéis caso não encontre investidores no mercado, chamado de garantia firme. Nos dois casos, é preciso capital, que no caso do BTG está sendo utilizado para outros fins: reforçar o caixa para mostrar aos clientes que tem como honrar todos os compromissos.

“Claro que temos esse capital, mas neste momento não estamos fazendo novas operações de garantia firme e empréstimo ponte para as empresas” afirmou uma fonte do banco.

Sem esse benefício, ficará mais fácil para os bancos de investimento e assessorias financeiras conquistarem os clientes que hoje estão com o BTG. A disputa maior, hoje, se dá na área de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês). No início de 2016, no entanto, essa competição deve envolver também as operações de emissão de dívida, uma vez que as empresas, já com os orçamentos de 2016 fechados, buscarão recursos para investimentos e rolagem de dívida.

“A agressividade maior vai ocorrer nas operações de M&A. Isso já começou. A partir de 2016, os bancos estão se preparando para buscar clientes que pretendem fazer emissões de dívida para cumprir as necessidades do orçamento”, disse o diretor de um banco de investimento.

Segundo o sócio de um escritório de advocacia especializado em consultoria jurídica de fusões e aquisições, a redução da atividade do BTG nesse segmento abre oportunidades para outros. “Na nossa visão, quem tem uma chave de ouro para atuar é o Bradesco. Ele é pouco expressivo nesse segmento, não aparece muito nas transações. Com o BTG menor nesse mercado, o Bradesco pode se aproveitar inclusive de profissionais especializados em fusões e aquisições, que deixarão de ver o BTG como o melhor lugar para atuar.”

Disputa

Profissionais do mercado financeiro avaliam que a atuação do BTG por meio dos fundos de private equity, que compram participação em outras empresas, será praticamente nula enquanto a crise persistir, o que abre espaço para instituições de menor porte.

Daniel Damiani, sócio da JK Capital, assessoria especializada em venda e compra de empresas com faturamento entre R$ 70 milhões e R$ 400 milhões, explica que, este ano, os bancos de investimento locais passaram a procurar também mandatos de fusões e aquisições envolvendo companhias de médio porte. Agora, com um grande competidor voltado para sua reorganização interna, ele acredita que poderá conquistar novos clientes.

“Essa situação do BTG abre espaço para uma maior competição. Como o mercado estava ruim, alguns grandes bancos estavam batendo na porta das mesmas empresas que nós. A saída de um competidor acaba sendo positiva para as assessorias mais voltadas para esse nicho”, afirmou Damiani.

Além das operações no mercado de capitais, o BTG também vem sofrendo concorrência na área da gestão e administração de fundos. Desde o dia 25, têm sido grandes os pedidos de resgate dos clientes que possuem cotas nas carteiras da instituição. E, como ninguém vai deixar dinheiro parado, esses recursos estão indo para as mãos de outros gestores.

“Já foram bilhões que saíram, e esse dinheiro vai para algum lugar. Todas as grandes gestoras de recursos estão de olho nesses clientes”, afirmou um profissional da unidade de asset de um grande banco.

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