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Angela Merkel discursa no parlamento alemão: reunião tensa  levou a Alemanha a fazer concessões a Espanha e Itália | Thomas Peter/Reuters
Angela Merkel discursa no parlamento alemão: reunião tensa levou a Alemanha a fazer concessões a Espanha e Itália| Foto: Thomas Peter/Reuters

Para economistas, resultado é positivo

Agência O Globo

Na avaliação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, o resultado da cúpula de líderes da zona do euro é positivo. Ele afirma, no entanto, que o acordo para capitalização direta dos bancos terá impacto apenas no curto prazo e que a crise no continente ainda segue sem uma solução definitiva. "A crise parece até uma novela, todo dia tem um capítulo. O capítulo de ontem foi positivo", afirmou. Para Goldfajn, toda discussão hoje na Europa pode ser resumida ao embate entre a socialização das perdas e a resistência de alguns países em perder autonomia com uma união fiscal bancária.

O diretor da Standard & Poor Moritz Kraemer também avaliou de forma positiva o resultado da reunião da UE já que, segundo ele, aumenta a possibilidade de uma boa resolução para a crise da dívida na zona do euro. Kraemer, no entanto, lembra que há muito por ser feito. "O que vimos ontem foi muito positivo, mas é muito cedo para cantar vitória. Quase todos os países estão com perspectiva negativa e devemos ter ainda uma piora na situação antes do início da recuperação. De qualquer maneira, vemos que os governos estão posicionando bem seus navios de guerra", afirmou.

Apesar de também ter exaltado a decisão da cúpula europeia, Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas, disse que o resultado é apenas um passo no complexo quebra-cabeça que se tornou a situação do continente. "Acredito que a Europa está no caminho correto, mas ainda será uma evolução lenta até a união bancária, que depois deverá se tornar uma união fiscal. A Europa deverá ter uma década perdida com a estagnação, mas é melhor que uma ruptura", afirmou.

100 milhões de euros

É o teto do socorro financeiro a ser entregue aos bancos espanhóis. O valor exato, assim como as condições de pagamento e as taxas de juros, só será definido numa próxima reunião, marcada para 9 de julho.

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A zona do euro aprovou a recapitalização direta dos bancos espanhóis, em troca de um rigoroso controle sobre o setor. O anúncio foi feito depois de uma reunião tensa, na qual a Alemanha cedeu à pressão de Espanha e Itália para encontrar soluções imediatas à crise da dívida. "Foi uma reunião muito difícil, muito dura, mas obtivemos resultados, disse o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. "Tomamos decisões inimagináveis um mês atrás", disse por sua vez o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.

Com isso, a injeção de capital diretamente aos bancos espanhóis (que possui um teto de 100 bilhões de euros) será feita pelo fundo de resgate europeu, sem passar pelo governo do país, mas com a condição de que o BCE passe a ser o supervisor único do setor bancário na Eurozona, como queria a Alemanha. "Creio que obteremos algo importante, mas ao mesmo tempo nos manteremos fieis aos nossos princípios: nenhuma ajuda será dada sem condições e sem contrapartidas", disse a chanceler alemã, Angela Merkel.

Uma vez que esta supervisão reforçada entre em vigor, possivelmente antes do final do ano, segundo estimou a UE, a ajuda deixará de contabilizar como dívida pública. Essa é uma grande notícia para a Espanha, um país que tem se comprometido com Bruxelas a reduzir seu déficit público dos 8,9% do PIB registrados em 2011 para 5,3% neste ano. O país está em meio a uma grave recessão e a um desemprego que afeta quase 25% da população.

As bolsas europeias encerraram a sexta-feira com fortes altas, lideradas por Madri e Milão, e os juros pagos pela emissão da dívida de Espanha e Itália recuaram significativamente, reagindo com euforia às decisões. Milão terminou com alta de 6,59%, enquanto que Madri subiu 5,66%. Paris obteve alta de 4,75% e Frankfurt, de 4,33%. Nos mercados da dívida, as taxas de juros pagas pelos títulos da dívida de Espanha e Itália para dez anos – que chegaram a superar os 7% nas últimas emissões – recuaram respectivamente 6,461% e 5,888%.

Angela Merkel afirmou que permaneceu fiel a seus princípios ao pedir condições em troca das medidas cruciais para ajudar esses países, que nos últimos meses têm sido fortemente castigados pelos mercados, pagando taxas exorbitantes para financiar-se.

Sem detalhes

A Espanha deverá cumprir com "uma condição adequada", conforme afirmou em nota o Eurogrupo. As instituições envolvidas não deram mais detalhes sobre o resgate bancário, cujas condições – montante exato, prazos de devolução, períodos de carência, taxas de juros – devem ser definidos na próxima reunião, em 9 de julho. A Espanha pediu oficialmente esta semana ajuda à zona do euro para sanear e injetar capital em seus bancos, fragilizados após o estouro da bolha imobiliária de 2008.

O resgate da Espanha será feito primeiramente através do fundo temporário de estabilidade financeira e, depois, pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade, que entrará em vigor em julho. Ele não será credor preferencial, o que é uma notícia muito positiva para os investidores privados, que temem ficar desprotegidos em caso de moratória. "São soluções muito positivas", avaliou o presidente italiano, Mario Monti.

Bolsa brasileira aderiu ao entusiasmo

Agência O Globo

A Bolsa de Valores de São Paulo aproveitou o bom humor dos investidores, recobrado com o acordo europeu. O Ibovespa, índice de referência do mercado brasileiro, fechou em alta de 3,23%, aos 54.354 pontos, na máxima do dia. Os líderes europeus concordaram que os bancos podem ser recapitalizados sem acrescentar dívida aos governos. "A bolsa se recuperou porque a cúpula da Europa surpreendeu um pouco, flexibilizando o pacote de ajuda aos bancos espanhois", resume Rogério Freitas, sócio-gestor da Teórica Investimentos.

Com o alívio momentâneo na Europa, o dólar comercial também teve forte queda em relação ao real, recuando 3,17%, a R$ 2,008 para compra e R$ 2,010 para venda. Uma nova medida que facilita o financiamento de exportações e a entrada de dólares contribuiu para a queda da moeda americana, segundo operadores. Também ajudou o leilão de swap cambial (operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro) realizado pelo Banco Central nesta manhã, em que foram vendidos US$ 3 bilhões ao mercado. "Com essa flutuação do dólar, grandes bancos não estão apostando na alta da moeda americana e com a nova medida para exportação vai acabar entrando mais recursos no país", diz José Roberto Carreira, operador de câmbio da Fair Corretora.

As ações de bancos, prejudicadas pelo rebaixamento da nota de classificação de risco pela Moody’s, na véspera, exibiram recuperação.

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