Brasília - O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, reafirmou ontem que o regime de câmbio no Brasil é e continuará a ser flutuante. "Seria uma loucura mexer com o nosso regime que funciona bem e colocar uma banda de câmbio", respondeu, rechaçando a hipótese de que a instituição está operando no mercado de câmbio para, por exemplo, estabelecer uma banda de variação da moeda. "Não há questão de banda", ressaltou, durante audiência no Senado.
Tombini explicou que o BC decide atuar no mercado de câmbio para manter condições adequadas nos negócios. "Olhamos a velocidade, a funcionalidade, peculiaridades do mercado. Se não existe provedor de recurso, se não há liquidez, atuamos porque estamos preparados para restabelecer o nível de funcionalidade", disse. No começo da semana, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) pediu ao governo que estabelecesse um piso para a cotação da moeda norte-americana, seguindo medida semelhante tomada pelo Banco Central da Suíça. Segundo a Fiep, a recente alta do dólar daria ao governo o momento ideal para estabelecer uma cotação mínima que fosse benéfica à indústria brasileira, prejudicada pelo dólar baixo.
Tombini estimou que a volatilidade do câmbio continuará enquanto os problemas dos países da Europa não forem resolvidos. Ele acrescentou que o BC está pronto para garantir o funcionamento do mercado de câmbio no Brasil com liquidez. "A volatilidade depende do movimento internacional do dólar. Houve um aumento do dólar contra todas as moedas. Não foi diferente em relação ao real. A diferença do Brasil é que temos capacidade de atuar e fazer com o que o mercado funcione de forma adequada para enfrentar a volatilidade natural nesse período", avaliou.
"Enquanto as questões maiores do cenário internacional, como a crise soberana da Europa, não forem resolvidas de forma mais definitiva, podemos esperar à frente volatilidade das moedas e dos mercados", disse. Para Tombini, esse é um movimento internacional e não só no Brasil.
Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo brasileiro não está planejando nenhuma medida adicional para influenciar o câmbio. "As medidas prudenciais já foram tomadas. Por isso, não vamos mudar nada no IOF [sobre derivativos cambiais]", completou. Segundo Mantega, as distorções na taxa de câmbio que ocorreram nas últimas semanas já estariam corrigidas, sem a necessidade de ações adicionais por parte do governo, no momento. Tombini comentou as declarações do ministro: "Nós estamos de acordo, obviamente. O Banco Central tem dito que, em relação ao mercado de câmbio, irá atuar sempre que encontrar uma disfuncionalidade. Temos instrumento e nos preparamos para isso. E é assim que atuaremos nesse momento de maior turbulência no mercado internacional", avisou.
Tombini disse ainda que a instituição poderá voltar a oferecer financiamento ao exportador se houver falta de oferta desse crédito no mercado. Na crise de 2008 e 2009, o BC agiu nesse segmento. "Na semana passada, atuamos no mercado futuro e estamos prontos para fazer com que os mercados funcionem de maneira adequada. Se falta linha de financiamento de comércio exterior, por exemplo, temos condição de dar liquidez a esse mercado", disse.