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| Foto: Jonathan Ernst/Reuters

Ao fim de dois dias de reuniões, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) anunciou nesta quinta-feira (17) a manutenção da taxa básica de juros – que não é elevada desde 2006 – praticamente zerada.

As expectativas sobre o momento da alta vinham se concentrando para setembro, mas um adiamento até dezembro começou a ser cada vez mais apontado pelos analistas nas últimas semanas, uma vez que a inflação americana está abaixo da meta, os preços das commodities vêm recuando e a desaceleração do crescimento da China esfriou a economia global. E já não se descarta que os juros só subam em 2016.

A decisão foi recebida com alívio no Brasil, onde a alta das taxas poderia deixar ainda mais conturbada a situação econômica do país. A expectativa era de que principal impacto por aqui fosse uma alta do dólar, devido a uma fuga de capitais para os EUA. A moeda americana, no entanto, já acumula forte alta frente ao real devido à crise no país. Com isso, a inflação, que deve fechar o ano acima de 9%, também acabaria sendo impactada.

Muitos economistas apostavam na manutenção dos juros pelo Fed devido às recentes perdas no mercado financeiro chinês, que aumentaram as preocupações com as perspectivas de crescimento da segunda maior economia do mundo. A desaceleração da demanda da China também ajudou a reduzir o preço das commodities, exercendo pressão para baixo sobre os preços nos EUA.

Como a taxa afeta o brasil

A alta dos juros nos EUA geraria uma fuga de capitais dos mercados emergentes, não apenas do Brasil. Isso porque a elevação da taxa básica norte-americana aumenta a atratividade dos títulos do governo dos Estados Unidos, que são de baixíssimo risco, provocando uma saída de dólares do país para investimento lá. Mas não seria uma migração total. O Brasil, por exemplo, paga juros muito alto e isso mantém o capital especulativo. Apesar disso, com a menor oferta de dólares aqui o real tenderia a se desvalorizar. Consequentemente, a alta da moeda americana refletiria na inflação, uma vez que os custos de importação e de uma série itens da cadeia produtiva serão elevados.

Pé no chão

Desde dezembro de 2008, a taxa básica americana está no menor patamar histórico, entre zero e 0,25% – ao manter o patamar atual dos juros, os tomadores de decisão mostraram que ainda não estão convencidos de que a inflação vai se mover para a meta atual de 2%, apesar dos avanços no mercado de trabalho. A taxa de desemprego caiu para 5,1% em agosto, o menor nível desde abril de 2008.

A presidente do Fed, Janet Yellen, disse em pronunciamento após o anúncio da decisão, que a importância do momento em que será iniciado o ciclo de alta dos juros não deve ser superestimado. A apreciação do dólar e a queda do petróleo, avisou, vão adiar mais o início da alta.

Sobre os que pedem que os juros americanos não sejam elevados, pois o mercado ainda não está realmente fortalecido, Yellen diz que recebe sugestões de muitos economistas e grupos com diferentes perspectivas. Mas, no fim das contas, é trabalho do Fomc avaliar os dados econômicos e determinar o caminho da política econômica.

“Estamos focados em fazer tudo que possível para reavivar a economia. E, após levar as taxas de juros a zero, criamos outros mecanismos, como compra de títulos”, afirmou Yellen.

Por que aumentar os juros

A última vez que o Fed adotou uma política de elevação dos juros foi em 2004, quando a inflação estava em 2,8%. Hoje, o cenário é bem diferente: o índice de preços está em 0,3% – o objetivo do Fed é que se aproxime dos 2% no médio prazo, um nível considerado saudável para a economia. Em vez de lutar contra a inflação, como no passado, uma alta dos juros permitirá uma antecipação contra pressões sobre os preços e evitar bolhas de ativos depois de mais de seis anos de dinheiro fácil.

Em Wall Street, analistas veem cenário caótico no Brasil

O Brasil acabou sendo um dos principais destaques de um seminário em Wall Street, com economistas e gestores de bancos como Morgan Stanley e Citigroup, para discutir o impacto de uma alta de juros nos Estados Unidos em países emergentes. A avaliação da economia brasileira mostrada no evento não foi das melhores: foi descrita pelos executivos do setor financeiro como “caótica”, “extremamente complicada” e com uma crise política vista como “muito séria”.

O país, juntamente com outros emergentes, como a Turquia e a Rússia, foi apontado como vulnerável e, portanto, mais propenso a sentir os efeitos de uma alta de juros nos Estados Unidos, amplamente esperada pelo mercado, mas ainda indefinida.

“A situação no Brasil é extremamente complicada”, resumiu o diretor executivo e chefe da área econômica para emergentes do Citigroup, Guillermo Mondino, mencionando a crise política, a deterioração acelerada do Produto Interno Bruto (PIB) e a falta de clareza e consenso do governo sobre o que fazer para tentar “achar uma luz no fim do túnel”.

Mesmo gestoras de Wall Street especializadas em ativos de maior risco nos emergentes, como a Greylock Capital Management, que administra US$ 2 bilhões, mostram cautela com o Brasil. O diretor da gestora, Christopher Tackney, também ressaltou que a situação no país está complicada e diz que a deterioração da economia ajuda a aumentar o movimento de diferenciação mesmo dentro da América Latina.

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