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A alta dos preços dos serviços, como cabeleireiro e manicure, é uma das principais fontes de pressão sobre a inflação | Marcos André Lima/Gazeta do Povo
A alta dos preços dos serviços, como cabeleireiro e manicure, é uma das principais fontes de pressão sobre a inflação| Foto: Marcos André Lima/Gazeta do Povo

PROJEÇÃO

Taxa só volta a 4,5% após a Copa, prevê ex-diretor do Banco Central

O economista Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central, foi sabatinado ontem por jornalistas do mundo todo durante palestra e entrevista sobre o impacto da Copa do Mundo de 2014 na economia do país. No centro de convenções da Marina da Glória, ele disse que projeta um crescimento adicional de 1,5% do PIB brasileiro em função do evento, além da geração de 250 mil empregos formais no Brasil por causa do Mundial. Para Ilan, a Copa vai ter o potencial de aumentar em 25% o turismo nacional e ainda exercer papel fundamental para o incremento das exportações. Esses investimentos, no entanto, podem ter impacto sobre a inflação. Para Ilan, somente após a Copa o Brasil voltará a ter uma inflação anual em torno de 4,5%. Ou seja, a convergência para o centro da meta pode ocorrer só daqui a quatro anos.

O Banco Central interrompeu o ciclo de alta dos juros e adiou para 2013 a entrega da inflação em 4,5% para não sacrificar o crescimento da economia brasileira. Foi assim que economistas interpretaram a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Co­­pom), divulgada ontem. O entendimento se deu não pelo que a autoridade monetária disse, mas pelo que deixou de dizer.

Os diretores do BC eliminaram do documento o trecho que mencionava a intenção de elevar os juros por um período "suficientemente prolongado" como parte da estratégia para fazer a inflação cair no fim do ano que vem. A indicação, na ata, que as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação, estão acima da meta em 2011 e 2012, também contribuiu para a interpretação dos economistas.

Fontes do governo, entretanto, consideraram exagerada a avaliação feita por boa parte do mercado. Para eles, o BC vai continuar monitorando a economia para cumprir o objetivo de entregar no próximo ano a inflação no centro da meta. No ano, o Copom já subiu a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 12,50%.

De acordo com a ata, a inflação no Brasil está controlada, mas permanecerá em patamares superiores ao desejável durante metade do mandato de Dilma Rousseff. O tipo de pressão que os índices de preços têm sofrido exigiria, segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, "uma recessãozinha" para que a inflação voltasse a rodar em 4,5% no ano que vem.

O IPCA acumulado no período de 12 meses encerrados em junho bateu em 6,71%, alimentado principalmente pelo setor de serviços, que responde por um terço do índice. Estes preços subiram 8,75% no mesmo período.

O Copom enfatizou que a economia deve sentir de forma mais acentuada nos próximos meses o impacto das medidas tomadas pelo governo para controlar os preços. Ao mesmo tempo, frisou que o ambiente econômico internacional está cercado de "incertezas elevadas e crescentes" – que, even­tualmente, podem contribuir para segurar os preços no Brasil.

A instituição, no entanto, fez ressalvas. Avalia que as incertezas, principalmente fora do país, não permitem identificar "com clareza’’ a persistência de pressões inflacionárias recentes. A expansão da oferta de crédito, por exemplo, tende a perdurar, apesar das indicações de que houve "certo arrefecimento’’. O mercado de trabalho também preocupa, por causa dos reajustes salariais.

A mensagem da ata, segundo André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, não é de leniência com a inflação, mas mudança tática. "Pararam de aumentar os juros mas não estão de mãos atadas. Pretendem usar outro instrumento", afirmou. "Não fico muito preocupado porque vejo como dores de crescimento, preocupação seria se houvesse um descontrole inflacionário."

O entendimento de que o ciclo de aperto dos juros acabou não foi unânime. "Apesar de ter considerado que o cenário prospectivo para a inflação mostra sinais mais favoráveis, o Copom deverá elevar pela última vez no ano a taxa Selic na reunião de agosto", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets.

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