Opinião
Banco Central testa sua tese sobre inflação
Guido Orgis, editor executivo de Economia
Por mais que o Banco Central suavize o discurso e diga que é hora de esperar para ver os efeitos do aumento da taxa básica de juros, há um bom tanto de ceticismo no mercado a respeito da capacidade da autoridade monetária em trazer a inflação para a meta em um período razoável. É comum a tese de que a pausa nos juros vai até o próximo ano, quando terão de passar dos 12% ao ano.
O BC continuará desconfortável por um bom tempo porque os preços de serviços continuam subindo acima da meta, os choques vindos dos alimentos estão se tornando permanentes e há uma conta salgada na área de energia para ser repassada ao consumidor.
Fora isso, o BC ficou isolado, usando a arma dos juros quando seria importante haver mais disciplina fiscal do governo. No fundo, a autoridade monetária não quer esfriar ainda mais a atividade, entendendo que a desaceleração atual já foi suficiente para segurar preços. É uma tese que, se correta, pode poupar o país de um ajuste duro demais. Se errada, nos levará a um período mais longo de inflação alta e confiança baixa.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem manter a taxa básica de juros, a Selic, em 11% ao ano. A decisão foi unânime e interrompe o ciclo de aperto monetário a seis meses da eleição presidencial. A taxa serve de base para o custo dos empréstimos a empresas e consumidores.
INFOGRÁFICO: Veja como está a taxa básica de juros
A estabilidade da Selic era esperada pela maior parte dos analistas financeiros. Um grupo entende, porém, que a inflação não desacelerou o suficiente, o que forçará o início de um novo ciclo de altas depois de outubro. Isso será necessário, especialmente, porque o governo segurou os preços administrados, como combustíveis e energia, para não acelerar ainda mais a inflação.
Com a decisão, o mais recente esforço do BC para conter os preços durou um ano e nove altas consecutivas. Em abril de 2013, o início do ciclo de altas foi motivado pela alta da inflação, mesmo diante do crescimento ainda fraco da economia.
Dessa vez, o fraco desempenho da economia brasileira foi preponderante para o fim dos aumentos da Selic. Para os economistas, uma nova alta na Selic neste momento deixaria o país próximo de uma recessão, o que poderia prejudicar a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. O próprio BC estima que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá apenas 2% neste ano.
Houve também uma desaceleração, pelo menos momentânea, na inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de maio desacelerou a 0,58% ante 0,78% em abril. Além de argumentar que o choque de alimentos é passageiro, o BC diz que os efeitos das nove altas seguidas é defasado e cumulativo. Ou seja, ainda não foi totalmente sentido na economia.
De toda forma, a inflação ainda ronda o teto da meta do governo. O indicador de 12 meses acumula até abril alta de 6,28%. Pelas projeções de uma centena de economistas ouvidos pelo BC, a inflação fechará o ano em 6,47%, bem próxima do teto, superior ao do ano passado (6,91%). O BC é um pouco mais otimista e acredita que a inflação fechará este ano em 6,1%.
"A economia desacelerou, o mercado de trabalho está mais fraco, a inflação na margem desacelerou, a taxa cambial está menos volátil. O quadro permite a manutenção dos juros básicos", avalia Antonio Madeira, economista da LCA Consultores.
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o Banco Central perdeu mais uma chance de aumentar a credibilidade da instituição. Ele acreditava que o Copom decidiria por mais um aumento de 0,25 ponto na taxa como forma de ancorar as expectativas para a inflação futura.
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