Banco Central admite que política fiscal vai gerar aumento de gastos
Criticado pelos economistas por não cobrar, em seus comunicados oficiais, um controle maior dos gastos para ajudar no combate à inflação, o Banco Central admitiu ontem, pela primeira vez, que a política fiscal do governo será expansionista em 2014. Em outras palavras, vai gerar aumento das despesas.
O BC mudou a sua avaliação e reconheceu, no relatório trimestral de inflação, que o governo não conta mais com uma política fiscal neutra neste ano. E, portanto, não conseguirá cumprir a meta de economizar 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para pagar juros da dívida, o chamado superávit primário das contas públicas. Esse é o mesmo tamanho do superávit primário obtido no ano passado, com receitas extraordinárias e postergação de gastos para este ano. Dessa forma, o superávit de 2014 será menor do que gerado no ano passado, admite o BC.
Até junho, o BC via o superávit primário acumulado no primeiro quadrimestre como "consistente com a meta de 1,9%" do PIB. Agora, o BC entende que, devido à fragilidade econômica, e às desonerações tributárias, o superávit primário acumulado nos sete primeiros meses apresenta uma retração.
A poucos dias das eleições, o Banco Central traçou um cenário turbulento para a economia nos primeiros anos do próximo governo. Nas palavras do BC, o cenário "realista" conta com inflação elevada e atividade econômica em queda, em especial na indústria e nos investimentos, que terão forte retração.
A deterioração do ambiente doméstico deve desembocar na piora do único indicador ainda positivo de economia até agora: o emprego. Diante disso, o BC deixou claro que está muito presente em seu radar a possibilidade de voltar a elevar os juros básicos da economia (Selic).
Pelas projeções do BC, a presidente Dilma vai entregar o país, no último ano do seu governo, com inflação mais alta e crescimento menor do que o recebido de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Em nenhum ano de seu mandato, Dilma conseguiu manter o índice oficial de inflação (IPCA) próximo do centro da meta de 4,5% ao ano.
O último ano de Dilma terá inflação de 6,3%, colado no limite fixado pelo governo, segundo cálculos do BC. Para 2015, primeiro ano do próximo governo, o BC espera um IPCA de 5,8%. O índice só arrefecerá, no acumulado de 12 meses, a partir de meados de 2016. Espera-se uma inflação anualizada de 5% neste período.
A alta da inflação será estimulada por uma série de fatores, afirmou ontem o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton: a aproximação dos preços domésticos em relação aos externos, o ajuste entre os preços livres e os administrados pelo governo, as pressões salariais e as expectativas de inflação em alta.
PIB
A nova projeção da instituição para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano ficou em 0,7%. Embora mais baixa que a previsão anterior de 1,6%, a aposta está acima do esperado por analistas do mercado financeiro (0,29%). Numa primeira comparação, a previsão do BC soa otimista. Hamilton, porém, negou. "A visão do BC sobre o PIB é bastante realista. Não consigo traduzir projeção de 0,7% como otimista", afirmou.
Para os 12 meses até o primeiro semestre de 2015, a estimativa é de crescimento de 1,2%, com a indústria encolhendo 1,6% neste ano e ficando estável nesse período do próximo ano.
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