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Carlos Hamilton, do BC: “nossa visão é bastante realista” | Antôno More/ Gazeta do Povo
Carlos Hamilton, do BC: “nossa visão é bastante realista”| Foto: Antôno More/ Gazeta do Povo

Banco Central admite que política fiscal vai gerar aumento de gastos

Criticado pelos economistas por não cobrar, em seus comunicados oficiais, um controle maior dos gastos para ajudar no combate à inflação, o Banco Central admitiu ontem, pela primeira vez, que a política fiscal do governo será expansionista em 2014. Em outras palavras, vai gerar aumento das despesas.

O BC mudou a sua avaliação e reconheceu, no relatório trimestral de inflação, que o governo não conta mais com uma política fiscal neutra neste ano. E, portanto, não conseguirá cumprir a meta de economizar 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para pagar juros da dívida, o chamado superávit primário das contas públicas. Esse é o mesmo tamanho do superávit primário obtido no ano passado, com receitas extraordinárias e postergação de gastos para este ano. Dessa forma, o superávit de 2014 será menor do que gerado no ano passado, admite o BC.

Até junho, o BC via o superávit primário acumulado no primeiro quadrimestre como "consistente com a meta de 1,9%" do PIB. Agora, o BC entende que, devido à fragilidade econômica, e às desonerações tributárias, o superávit primário acumulado nos sete primeiros meses apresenta uma retração.

A poucos dias das eleições, o Banco Central traçou um cenário turbulento para a economia nos primeiros anos do próximo governo. Nas palavras do BC, o cenário "realista" conta com inflação elevada e atividade econômica em queda, em especial na indústria e nos investimentos, que terão forte retração.

A deterioração do ambiente doméstico deve desembocar na piora do único indicador ainda positivo de economia até agora: o emprego. Diante disso, o BC deixou claro que está muito presente em seu radar a possibilidade de voltar a elevar os juros básicos da economia (Selic).

Pelas projeções do BC, a presidente Dilma vai entregar o país, no último ano do seu governo, com inflação mais alta e crescimento menor do que o recebido de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Em nenhum ano de seu mandato, Dilma conseguiu manter o índice oficial de inflação (IPCA) próximo do centro da meta de 4,5% ao ano.

O último ano de Dilma terá inflação de 6,3%, colado no limite fixado pelo governo, segundo cálculos do BC. Para 2015, primeiro ano do próximo governo, o BC espera um IPCA de 5,8%. O índice só arrefecerá, no acumulado de 12 meses, a partir de meados de 2016. Espera-se uma inflação anualizada de 5% neste período.

A alta da inflação será estimulada por uma série de fatores, afirmou ontem o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton: a aproximação dos preços domésticos em relação aos externos, o ajuste entre os preços livres e os administrados pelo governo, as pressões salariais e as expectativas de inflação em alta.

PIB

A nova projeção da instituição para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano ficou em 0,7%. Embora mais baixa que a previsão anterior de 1,6%, a aposta está acima do esperado por analistas do mercado financeiro (0,29%). Numa primeira comparação, a previsão do BC soa otimista. Hamilton, porém, negou. "A visão do BC sobre o PIB é bastante realista. Não consigo traduzir projeção de 0,7% como otimista", afirmou.

Para os 12 meses até o primeiro semestre de 2015, a estimativa é de crescimento de 1,2%, com a indústria encolhendo 1,6% neste ano e ficando estável nesse período do próximo ano.

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