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Posto de gasolina da BR, subsidiária da Petrobras: técnicos do governo avaliam entre 25% e 30% o aumento necessário | Antônio More/ Gazeta do Povo
Posto de gasolina da BR, subsidiária da Petrobras: técnicos do governo avaliam entre 25% e 30% o aumento necessário| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Febeapá

Valorização estimula declarações desencontradas no governo

Se Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista Sérgio Porto, estivesse vivo e pudesse ouvir as recentes declarações das autoridades brasileiras sobre a escalada do dólar, certamente teria ficado perplexo: que material perfeito para o seu "Febeapá"! Para quem não se lembra, o "Festival de Besteira que Assola o País" era uma série de livros em que Porto narrava, em forma de notícias sérias, os disparates da vida pública brasileira. E, na última semana, diante do avanço da moeda americana frente ao real, as declarações de ministros e membros do alto escalão do governo sobre o câmbio revelaram incertezas e divergências de percepções.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que há pressões inflacionárias, mas não conseguiu estimar o seu impacto. "Não sabemos onde isso vai parar", disse, na terça-feira. "Alguma influência (na taxa de inflação) deverá ter, mas ainda não teve."

Já o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, foi categórico: "Quando o dólar estava barato, todo mundo reclamava que a indústria estava mal. Agora vão continuar reclamando? O dólar está ótimo. Estamos chegando no ponto próximo ao ideal."

Palavras o vento leva. E, enquanto isso, a moeda americana já se valorizou em relação ao real este ano cerca de 19%, em meio à fuga de capital estrangeiro do país, o que vem castigando também a Bolsa de Valores de São Paulo. Economistas alertam para os risco de pressões inflacionárias, o que obrigaria ao Banco Central (BC) elevar ainda mais os juros, afetando a recuperação econômica do país, abalado pela crise global.

Agência O Globo

R$ 2,4320 por dólar

...foi a cotação de fechamento do mercado ontem. O preço recuou 0,78%, principalmente em reação às intervenções feitas pelo Banco central, já prometidas desde o fim da tarde de quarta-feira. Durante o dia, a queda chegou a ser mais intensa, acima de 1%. O real tem sofrido o impacto dos sinais de mudança da política monetária dos Estados Unidos e também com certa desconfiança em relação à economia brasileira.

O governo federal mudou ontem a estratégia para tentar conter a crescente escalada do dólar. Em ação pouco usual, o Banco Central (BC) informou ao mercado que vai oferecer, de hoje até o fim do ano, no mínimo US$ 60 bilhões em contratos de proteção contra a flutuação da moeda norte-americana, chamados de swap cambial, e linhas de crédito com compromisso de recompra. O objetivo é fornecer um caminho claro ao mercado, tranquilizando investidores e empresas sobre como a autoridade monetária vai atuar.

O BC informou que vai oferecer leilões todos os dias da semana até 31 de dezembro deste ano. Esse caminho, chamado tecnicamente de guidance para o mercado, só foi adotado em duas oportunidades: no fim de 2008, diante da explosão da crise mundial, e em 2002, quando o dólar disparou diante do temor com a eleição de Lula. Nas duas oportunidades, a operação foi apelidada de "ração diária ao mercado".

Desta vez, no entanto, o volume é ainda maior. Os leilões de contratos de swap ocorrerão todos os dias, no mesmo horário. De segunda a quinta-feira, o BC vai ofertar US$ 500 milhões por dia. Às sextas-feiras, a autoridade monetária fará um leilão de venda, com compromisso de recompra, de uma linha de crédito de US$ 1 bilhão. Em nota, o BC avisa que "se julgar apropriado", realizará operações adicionais.

Sinal verde

O objetivo do governo é conter a sangria que abateu o mercado de câmbio brasileiro nas últimas semanas. A operação do BC foi desenhada nesta semana, e recebeu o sinal verde da presidente Dilma Rousseff na quarta-feira. Após sucessivos dias de estresse, em que o dólar chegou a ser cotado a R$ 2,45, a presidente convocou os principais agentes da equipe econômica para encontrar uma forma de "suavizar" esses movimentos, considerados bruscos pelo Planalto. Desde o início da escalada do dólar, em maio, o BC já usou US$ 45 bilhões em suas intervenções.

Governo estuda opções para aumentar preço da gasolina

Técnicos do governo estimam a necessidade de um reajuste entre 25% e 30% nos preços dos combustíveis nas refinarias, caso a área econômica decida cobrir a defasagem entre os valores praticados no exterior – agora inflados pela elevação das cotações do dólar – e no mercado doméstico. Mas qualquer que seja o porcentual, este não seria repassado integralmente ao consumidor. A tendência cada vez mais forte é de o aumento ser parcelado em duas ou até três vezes, tendo em vista que uma alta de dois dígitos poderá ter efeitos desastrosos na inflação. Uma das alternativas em estudo seria autorizar um aumento de até 10% no fim deste ano e o restante em 2014, o que resultaria em uma alta de 5% nos postos revendedores, já que o impacto do reajuste na bomba equivale à metade do que é dado na refinaria.

Como a Petrobras está com sérios problemas financeiros, não se descarta a hipótese de o governo cobrir ao máximo a defasagem enfrentada pela estatal. O que se discute nos bastidores é que a autorização da primeira parcela se daria no fim de dezembro, na semana entre o Natal e o Ano Novo, e o segundo aumento em 2014, na sexta-feira de Carnaval. Isso diminuiria o impacto junto à opinião pública em um ano eleitoral.

Estabilização

Segundo técnicos, o governo vai esperar o dólar se estabilizar em um patamar menor, algo entre R$ 2,30 e R$ 2,35, para autorizar o reajuste. A decisão de autorizar o aumento reivindicado pela Petrobras só no fim do ano também se deve à expectativa de quem será o novo presidente do Fed (o banco central americano) – decisão que se espera para o mês que vem – e o que a instituição fará com a economia dos Estados Unidos, incluindo as taxas de juros.

Outra questão que está sendo avaliada é o impacto que teria um reajuste no diesel antes do período de chuvas, quando o governo está recorrendo às térmicas, que usam o combustível, para suprir a necessidade de energia do país. "Um aumento agora jogaria por terra a redução na tarifa de energia anunciada pela presidente Dilma Rousseff no início deste ano", disse um técnico.

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