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“Estou deixando a presidência porque acredito que está na hora de ela passar a ser conduzida por um executivo profissional. Sempre tive isso em mente. Decidi que estava na hora de passar o bastão.”
Marcel Malczewski, presidente da Bematech | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
“Estou deixando a presidência porque acredito que está na hora de ela passar a ser conduzida por um executivo profissional. Sempre tive isso em mente. Decidi que estava na hora de passar o bastão.” Marcel Malczewski, presidente da Bematech| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

O dia primeiro de janeiro de 2010 vai ser diferente para Marcel Malczewski, presidente da empresa curitibana Bematech. Após vinte anos, ele deixa o cargo de principal executivo para ocupar um assento no conselho de administração da companhia. "Meu reveillon vai ser ótimo, vou curtir a praia", disse, bem-humorado. A alegria pode ser traduzida em números: ele entrega sua empresa com crescimento médio anual na casa de 30% nos últimos três anos, e lucro líquido de R$ 51 milhões em 2008. Após abrir capital na Bovespa em 2007 (quando captou R$ 270 milhões), a Bematech já participa do panteão de empresas de tecnologia cujos papéis se valorizaram mais de 100% nos últimos 12 meses. Esse momento é o ideal para entregar o comando a um executivo profissional.Nascido em Ponta Grossa há 45 anos, Marcel se formou engenheiro eletricista na UFPR, mas se denomina "engenheiro eletrônico" pela ênfase do currículo. Iniciou um mestrado em informática na PUC e concluiu no Cefet, e mais tarde fez uma pós-graduação em gestão na Universidade de Harvard, Estados Unidos. "Foi essa pós que me salvou da parte essencialmente técnica", brinca.

Olhando para trás, ele se orgulha do trajeto percorrido pela primeira empresa desenvolvida na Incubadora Tecnológica de Curitiba (Intec) e que hoje tem 1,4 mil empregados espalhados em três continentes. Sobre o futuro, admite que está aberto a novos projetos. "Nunca trabalhei de verdade fora da minha própria empresa. Neste início de ano, eu começo a levantar a cabeça e olhar para outras coisas."

O que motivou esse afastamento?

No início deste ano reuni o grupo mais próximo de sócios [o co-fundador Wolney Betiol e os seis primeiros investidores] para mostrar as projeções da empresa e dizer que sairia. Claro que tudo amparado por um planejamento de sucessão. Há três anos vínhamos conversando sobre isso. Estou deixando a presidência porque acredito que está na hora de ela passar a ser conduzida por um executivo profissional. Sempre tive isso em mente. Acredito na profissionalização da companhia e nos requisitos da governança corporativa. Sempre buscamos ter uma gestão o mais próximo possível da profissional. Mas decidi que estava na hora de passar o bastão.

Um executivo de multinacional consegue tirar férias?

Para 2010 eu pretendia tirar 90 dias de férias, logo no início do ano, e voltar apenas na assembleia de acionistas, para buscar a minha vaga no conselho. Mas o pessoal decidiu que não deveria haver essa quebra de ritmo. Ao longo destes 20 anos sempre toquei a companhia de forma muito intensa. Parece fácil, mas nem sempre foi. Cheguei a tirar férias em alguns momentos, mas nunca um mês.

E como vai ser a vida agora?

O plano é dividi-la em três áreas. A primeira é a Bematech, afinal, sou o maior acionista da companhia (10,6% das ações). Con­tinuo apostando no negócio, e mais ainda agora, porque como conselheiro vou ter tempo para apostar na estratégia. O segundo terço quero dedicar para a família e para a minha vida pessoal. Nestes 20 anos não pude acompanhar muita coisa dos filhos crescendo, além da esposa. E o terceiro pedaço deve ser ocupado por coisas novas, que devem começar a acontecer a partir do segundo trimestre [de 2010]. Há muitas oportunidades aí fora. Não pretendo empreender como na minha empresa, construir do zero e tocar o negócio. Mas quero investir em algumas áreas, talvez até apoiando o desenvolvimento de novos investimentos.

Sempre na tecnologia?

Não necessariamente, porque buscar coisas diferentes é um desafio maior. Já fui consultado para participar de alguns empreendimentos na área, mas a minha ideia é não olhar só tecnologia. Já recebi algumas ligações, mas por enquanto estou só nos almoços e bate-papos.

Como foi a decisão de colocar um profissional na presidência?

Nunca trabalhei de verdade fora da Bematech. Cheguei a dar aula por um curto período, meu primeiro emprego durou só duas semanas. Não tive uma vivência de executivo que não fosse na própria Bematech. Acho que tenho um lado forte como empreendedor. Na nossa área de automação comercial consigo antecipar coisas, visualizar tendências, saber como as coisas funcionam no mundo. Meu lado bom é esse. Mas não é muito difícil encontrar um executivo melhor do que eu – um cara que realmente execute, tenha as ferramentas e o método. Acho que a Bematech neste momento precisa de um profissional que já tenha vivido isso no passado.

Aparentemente, o senhor está seguro da decisão...Super seguro. Tenho falado que o cara para assumir a Bematech agora é o Carlos [Costa Pinto, atual vice-presidente executivo]. Ele veio para a empresa há um ano e meio e assumiu como vice já como potencial candidato a ocupar o cargo de presidente. Ele tem esse perfil. Foi presidente de outras companhias, foi empreendedor na época das pontocom e é um cara com formação em engenharia mecânica e em administração nos Estados Unidos. Estou relaxado porque acho que encontramos a pessoa certa e estou feliz porque vou poder me dedicar a outras coisas.

A sua experiência de mercado sempre foi muito próxima do varejo. O que o senhor enxerga de tendência neste pós-crise?

Acabei de voltar de Washington e percebo que o norte-americano está mais animado, otimista. Você percebe lojas com clientes e compras sendo feitas. Mesmo nos EUA, que foram o centro da crise, você já percebe uma melhora do clima em comparação ao início do ano ou ao ano passado. Na China também dá pra perceber que continua crescendo forte, apesar de não saber até onde irá esse crescimento. Como China e EUA puxam o trem, são uma boa referência para saber como as coisas estão acontecendo no mundo.

E o Brasil?

Do ponto de vista econômico, o Brasil está em um momento ímpar. Muito destas coisas positivas de hoje tem a ver com o que aconteceu no passado, de economia crescendo ano após ano, de ambiente favorável às empresas.

Favorável às empresas? E a carga tributária?

O que move as empresas no fim do dia é a economia. Se você tem consumo, o ambiente é favorável. Vamos sair do ambiente regulatório, porque isso realmente é uma encrenca. Mas a economia está favorável ao desenvolvimento de negócios. Nenhum empresário está reclamando desse momento. O primeiro semestre aqui no Brasil não foi bom, a indústria ficou de joelhos, o varejo nem tanto. Al­­guns setores se deram mal, mas outros continuam bombando, independentemente da crise.

Qual a perspectiva para o mercado da automação?

Do ponto de vista do nosso negócio, o mercado brasileiro ainda não é suficientemente maduro. Auto­mação é um gasto adicional, um investimento que, em geral, o comerciante deixa por último. Ou seja, este momento de recuperação ainda não se refletiu na automação. Nossa empresa vinha crescendo quase 30% ao ano nos últimos anos. Neste ano vai crescer 5% e, basicamente, só em função das aquisições que fizemos. Não foi um ano bom como os anteriores. Mas no ano que vem voltaremos a crescer, a fazer aquisições e a ser a boa e velha Bematech – por uma série de motivos, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, o momento é bom.

Desde o início a empresa investiu em um conselho de administração. Estar no Novo Mercado (da BM&FBovespa) facilita ou atrapalha a gestão?

Pra mim facilita muito. Antiga­mente era eu quem precisava manter um ritmo forte e convencer a empresa inteira de que ainda não estava bom. ‘Pô, mas eu estou trabalhando pra cacete’, eles falavam. Mas eu sabia que ainda não estava suficientemente bom. Mas, a partir do momento em que a gente abre capital e as pessoas investem, a cada trimestre você tem que mostrar crescimento. Agora é mais fácil fazer a diretoria, os sócios e o conselho entenderem a necessidade de crescer e ganhar espaço. Para um CEO como eu, com perfil empreendedor, facilita a gestão porque tem coisa que eu não preciso mais dizer. O lado ruim é que você fica muito mais exposto. Antes, quando o semestre estava complicado, a gente conversava entre os oito sócios e jogava os investimentos para o futuro. Hoje não tem essa história. Mesmo sabendo que o trimestre está complicado, o investidor cobra. Mas o saldo é extremamente positivo. Para nós, foi uma decisão absurdamente acertada.

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