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Brasília – A Volkswagen só terá acesso ao financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) após concluir a negociação com os empregados da fábrica de São Bernardo do Campo (SP). "Enquanto não for consolidado o acordo, o BNDES vai suspender e aguardar [para liberar os recursos]", disse ontem o ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

O BNDES aprovou um financiamento de R$ 497 milhões para a montadora. O dinheiro, ainda não liberado, deveria ser investido nas áreas de modernização de fábricas, design e produção de modelos mais atualizados. Ao mesmo tempo, a Volks tenta negociar com sindicatos a demissão de no mínimo 3,6 mil trabalhadores no ABC e ameaça até mesmo fechar a fábrica em São Bernardo, o que elevaria os cortes para 6,1 mil.

O banco anunciou apenas ontem a suspensão da liberação do dinheiro. Até a semana passada, o ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan e o presidente do BNDES, Demian Fiocca, afirmavam que o empréstimo não tinha nenhuma relação com as demissões. O primeiro a defender o corte dos recursos foi Marinho, na quinta-feira. Ontem, o BNDES mudou de posição após reunião de Fiocca, Marinho e da ministra chefe da Casa Civil Dilma Rousseff com a diretoria da Volks no Palácio do Planalto. "Nós esperamos que as partes concluam o processo de negociação e o acordo seja bom para as partes e, especialmente, para o Brasil", disse Marinho.

Na semana passada, Marinho disse que as demissões não condizem com o crescimento do mercado interno de veículos (estimado em 7,1% para este ano) e as mudanças nas regras cambiais que devem ajudar as empresas exportadoras – as vendas ao exterior respondem por 42% da produção da Volks no Brasil.

Demian Fiocca lembrou que os empréstimos estão vinculados ao plano de investimento das empresas, mas que como o fechamento da fábrica não foi citado no pedido do empréstimo, o BNDES pode solicitar informações adicionais e ver se o plano de investimento será mantido. "Vamos ver o impacto das negociações [com os trabalhadores] na estratégia de investimento."

De acordo com Fiocca, a montadora compreendeu a solicitação e avisou que já está na fase final do acordo com os sindicatos.

Ameaças

No último dia 21, a Volks ameaçou pela primeira vez fechar a fábrica de São Bernardo, a primeira e maior das cinco unidades da empresa alemã no Brasil. Com 12,4 mil funcionários, a fábrica é considerada pela direção da Volks a "mais problemática" – ou seja, a menos competitiva.

A empresa afirmava que apenas um acordo com o sindicato poderia evitar o fechamento da fábrica. Esse acordo, entretanto, previa a demissão de 3,6 mil e o corte de direitos dos trabalhadores que ficarem. De acordo com o plano, aqueles que saírem terão que aderir a um plano de demissão voluntária. Cada um deles receberá 0,4 salário por ano trabalhado na empresa, valor considerado baixo pelo sindicato.

Já os que permanecerem na Volks terão que aceitar mudanças no banco de horas. A empresa não pagaria nada àqueles que fizessem até 200 horas extras em um ano e só pagaria hora cheia para os que trabalhassem mais de 400 horas acima da jornada.

Funcionários que cometessem erros na produção teriam que trabalhar até oito horas gratuitas por semana para compensar a empresa. Além disso, o desconto no salário para pagamento do plano de saúde subiria de 1% para 3% da renda mensal.

Já os novos contratados teriam redução média de salário de 35% em relação aos vencimentos pagos hoje. Os planos de carreira também se tornariam menos favoráveis aos trabalhadores, que demorariam mais tempo para receber vencimentos correspondentes ao ápice da carreira. Na sexta-feira, os funcionários da Volks decidiram em assembléia não aceitar demissões nem cortes de direitos já adquiridos.

A Volks culpa a desvalorização do dólar pelas demissões. A empresa já havia informado anteriormente que planejava demitir entre 4 mil e 6 mil funcionários até 2008 nas unidades do ABC, Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR). Procurada, a assessoria de imprensa da Volks informou que não iria se manifestar ontem.

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