Bolsa brasileira fecha semestre no vermelho

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Mais da metade de 2011 já se foi e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ainda está longe de alcançar as previsões otimistas feitas por analistas no início do ano. Levantamentos feitos com corretoras mostravam que o mercado apostava em altas entre 18% e 20% para o principal índice brasileiro, o Ibovespa, mas até agora a bolsa não só não está crescendo como vem andando consistentemente no vermelho. No fechamento de sexta-feira, o indicador acumulava perdas de 11,24% no ano, marcando 61.513 pontos.

Especialmente sensível ao humor do investidor estrangeiro, que responde por um terço da movimentação das ações, a Bovespa sentiu o impacto das medidas tomadas pelo governo para frear a entrada de capital, uma tentativa de reverter a valorização do real. "Essa intervenção para aumentar o IOF atrapalhou o fluxo para o Brasil. O investidor estrangeiro não gosta de distorções de mercado, e continuou mal humorado com o país", diz Luiz Eduardo Portella, sócio de renda fixa e câmbio do Banco Modal.

Com isso, a ordem foi de vendas. Segundo estudo da consultoria Economatica, a Bovespa atingiu o maior volume financeiro de sua história no primeiro semestre. Foram U$$ 3,5 bilhões movimentados diariamente, em média, contra US$ 3,2 bilhões no mesmo período de 2010 – um indicador de que os investidores estavam dispostos a liquidar suas ações.

Para Portella, o que aconteceu no Brasil foi apenas um fragmento de um movimento maior que atingiu os principais mercados emergentes. "O investidor ficou com medo de um descontrole inflacionário no mundo. Foi um movimento global. China, Índia e outras bolsas da América Latina também apresentaram desempenho fraco no primeiro semestre. No caso particular do Brasil, ainda houve a troca de governo e a mudança na composição do Banco Central, que geraram incertezas sobre se a política econômica iria priorizar o combate à inflação", afirma o especialista.

Além disso, os ativos que têm maior peso na composição do Ibovespa tiveram desempenho sofrível no semestre, cada um devido a um motivo particular, o que puxou o índice para baixo. As ações da Vale, que têm participação de 10,49% no índice, tiveram problemas devido ao medo do investidor com a ingerência estatal na direção da empresa. Em abril, após pressão do governo, foi anunciada a saída do presidente da companhia, Roger Agnelli, depois substituído por Murilo Ferreira. Em 2011, a Vale acumula perda de 3,08%, mas iniciou um movimento de recuperação após o anúncio de que teve o melhor primeiro trimestre de sua história. Nos últimos 30 dias, as ações da empresa se valorizaram 4,58%.

Petróleo

As outras duas ações com maior participação – a Petrobras (10,2%) e a OGX Petróleo (4,71%) – também contribuíram para a queda da bolsa. Os papéis da estatal brasileira perderam 12,4% do valor desde o início do ano. O desempenho da companhia de Eike Batista foi ainda pior, com desvalorização de 25,90%. O outro carro-chefe da Bovespa, o ItaúUnibanco, com peso de 4,1% no índice, também está pedalando – caiu 10,94% no ano e 1,55% nos últimos 30 dias. "Com as medidas de restrição ao crédito adotadas pelo governo, os bancos tiveram o desempenho afetado", afirma Portella.

O real valorizado prejudicou ainda as siderúrgicas, que perderam competitividade no exterior. As ações das principais empresas dos setor tiveram desempenho bastante fraco no acumulado do ano até agora – Gerdau (-27,46%), Usiminas (-29,34%) e CSN (-24,85%) apresentaram quedas.

Apesar dos problemas pontuais de cada empresa ou setor, Eduardo Dias, analista de investimentos da Omar Camargo Corretora, concorda que o que mais contribuiu para o fraco desempenho da bolsa no semestre foi o cenário externo. "O déficit na Grécia, as degradações de ratings de alguns países europeus e as notícias sobre o desempenho econômico dos EUA, que se recuperam de forma lenta, foram os fatores que mais contribuíram para esse movimento de queda da bolsa", afirma.