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O Brasil está disposto a fazer concessões no comércio de bens industriais e no setor de serviços, se houver chance de acordo até abril nas negociações da Rodada Doha, disse na sexta-feira (26) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para isso os Estados Unidos e a União Européia deverão melhorar suas ofertas para o comércio agrícola. Ele discutiu a rodada com o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e vários dos principais negociadores.

Se americanos e europeus mostrarem disposição para um acordo, o Brasil tentará convencer os parceiros do Grupo dos 20 (G-20) a fazer as concessões necessárias a um entendimento, prometeu o presidente. Serão naturalmente, ressalvou Lula, ofertas proporcionais às possibilidades de cada país.

Logo após a reunião com os ministros do Comércio Exterior, o diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, apoiou a retomada da rodada de Doha e afirmou que os Estados Unidos emitirão uma nova proposta para as negociações de um novo acordo comercial.

"Esta negociação não terá sucesso se insistir com o modelo que provocou a paralisação do processo em julho passado. Deverá haver uma nova proposta americana sobre os subsídios agrícolas, uma nova oferta da União Européia sobre as tarifas agrícolas e uma nova proposta do Brasil e da Índia sobre os bens industriais e os serviços", resumiu Lamy.

A Rodada Doha, afirmou, é um empreendimento político, mais do que econômico. Sua conclusão poderá abrir oportunidades de crescimento nas áreas mais pobres, incluída a África, insistiu o presidente. A conversa sobre as negociações, em reunião fechada, foi parte da programação do Fórum.

Se houver acordo até abril sobre os pontos mais complicados, será politicamente mais fácil concluir a rodada. No fim de junho vence a autorização do Executivo americano para assinar acordos sujeitos apenas a aprovação, mas não a emendas, pelo Congresso.

Se as grandes questões ainda estiverem abertas, será mais difícil obter uma prorrogação ou renovação da autoridade para negociar. Esta é uma suposição corrente entre os negociadores.

Hoje, em Davos, 25 ministros - há quem fale em mais - deverão reunir-se para nova tentativa de levar adiante a rodada. Nenhum resultado notável deverá sair desse encontro, segundo avaliações, mas há quem aposte num avanço importante nos próximos meses. A representante dos Estados Unidos para o Comércio Exterior, Susan Schwab, declarou essa esperança em entrevista publicada ontem pelo Estado.

"Dependerá deles", disse ontem o chanceler Celso Amorim, referindo-se aos americanos. O Brasil continua a cobrar dos Estados Unidos maiores cortes dos subsídios à agricultura.

Lista

Além disso, continua em debate a criação de uma lista de produtos "sensíveis", defendida pelos governos europeus e americanos. O Brasil admite a lista, mas com muita cautela. Uma relação extensa poderia incluir a maior parte dos produtos em que os brasileiros têm vantagem competitiva. Outros governos do Mercosul têm a mesma preocupação.

O comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, também tem dado declarações otimistas, admitindo algum resultado importante nos próximos meses. É uma esperança fantasiosa, diz a ministra do Comércio da França, Christine Lagarde.

Lula defendeu a conclusão da rodada, alegando que os países mais pobres serão beneficiados com a abertura dos grandes mercados a seu produtos agrícolas. Não fez referência aos interesses brasileiros.

Disse mais de uma vez que falava a favor dos pobres, pois a agricultura brasileira, insistiu, é competitiva. Os pobres poderão ser beneficiados, exemplificou, se os europeus comprarem etanol da África e os Estados Unidos, da América Central.

Haverá mais milho para porcos e frangos, argumentou Lula, se os americanos deixarem de usá-lo para produzir álcool. O etanol de cana exportado pelos pobres das Américas e da África, explicou, será produzido com tecnologia transferida pelo Brasil.

Se a Europa comprar etanol da África e os Estados Unidos, da América Central, quem comprará do Brasil: só os asiáticos? A essa pergunta o presidente respondeu com um sorriso, afirmando que a demanda européia será enorme, se adotarem 5% de álcool na gasolina, e o Brasil nesse campo é imbatível.

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