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Quando a Caixa Econômica Federal anunciou, na semana passada, que ampliaria de 20 para 30 anos seu prazo máximo de financiamento da habitação, muita gente se perguntou se o Brasil não estaria colocando um pé no mesmo lamaçal em que os Estados Unidos (EUA) se meteram. O anúncio, feito na última terça-feira, pouco depois do estouro da bolha imobiliária norte-americana, provocou desconfianças. Mas especialistas garantem que o Brasil está muito longe de sofrer os problemas da América do Norte.

Em primeiro lugar, porque a importância do crédito no Brasil é muito pequena perto do que acontece nos Estados Unidos. "Aqui, o crédito acaba de atingir o equivalente a um terço do PIB (Produto Interno Bruto). Lá, o volume equivale a 140% do PIB, e qualquer problema mais sério no setor causa pânico", explica Alcides Leite, professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios.

Outro detalhe: a crise norte-americana surgiu porque bancos e financiadoras, ávidos por lucros maiores, passaram a oferecer crédito a pessoas que não tinham emprego, bens ou patrimônio. Surgia o famigerado "subprime", tipo de empréstimo com altíssimo risco de calote.

Quando a inadimplência chegou a níveis alarmantes, veio o rombo. É pouco provável que isso aconteça no Brasil, onde o crédito ainda é extremamente restrito, como bem sabe qualquer pessoa que já tenha tentado financiar um imóvel.

Mas, nos EUA, o buraco era ainda mais embaixo. Por uma dessas excentricidades do mercado financeiro, as dívidas do subprime foram transformadas em títulos negociáveis em bolsa de valores – e as agências de classificação de risco atribuíram a esses papéis notas bastante generosas, desconsiderando seu alto risco e enganando investidores.

Resultado: uma turbulência que poderia ter ficado restrita ao setor imobiliário se espalhou pelas bolsas de todo o mundo.

O modelo de financiamento seguido nos EUA e no resto do mundo, no entanto, tem uma característica que faria muito bem ao Brasil: o chamado "mercado secundário", que permite o refinanciamento dos empréstimos.

Uma pessoa que já quitou 50% do imóvel, por exemplo, poderia usar a metade que já é dela como garantia para pegar um outro empréstimo. Trata-se da hipoteca, palavra maldita na atual crise mas que, por si só, não significa encrenca.

O que complicou a situação dos bancos norte-americanos foi o fato de terem concedido esse "segundo empréstimo" a pessoas com histórico de calote.

Outro recurso do mercado secundário: se a pessoa conseguiu financiar 70% da casa em determinado banco, pode tentar levantar os 30% restantes em outra instituição – possibilidade que estimula a concorrência e a redução das taxas de juros.

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