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"Nacionalismo econômico"

Ex-assessor de Obama critica medidas brasileiras

Folhapress

O economista americano Larry Summers – ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos e ex-assessor econômico do presidente Barack Obama – criticou ontem o que chamou de "nacionalismo econômico" adotado pelo Brasil, como o aumento de IPI para carros importados. "No curto prazo, essas políticas são tentadoras. Por que não vamos nos ajudar mais que aos outros? Mas, no longo prazo, é como se todos tentassem ficar de pé no estádio de futebol para ver melhor. Um de pé vê melhor. Mas, com todos de pé, ninguém vai ver nada", afirmou o economista, que também foi presidente de Harvard.

Summers não citou diretamente o caso do IPI, mas explicou que se referia a políticas que beneficiam empresas locais em detrimento de empresas globais. No caso do aumento do IPI sobre veículos, a medida vale apenas para os modelos importados ou que tenham menos de 65% das peças produzidas no Brasil. O economista ressaltou que o governo que adota o nacionalismo econômico concede "vantagens por subsídios a setores que são bem relacionados politicamente".

Em 15 de setembro, o governo elevou as alíquotas de IPI para veículos que tenham menos de 65% de conteúdo nacional. Antes, o tributo variava de 7% a 25% e, com a medida, passou para 37% a 55%. Summers deu uma palestra ontem no Encontro Nacional da Indústria, seguida de coletiva de imprensa.

O Brasil é o país do G-20 que mais adotou medidas de restrição comercial nos últimos seis meses. Um levantamento preparado pela ONU, Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que a volta da crise econômica mundial nos últimos meses fez o número de medidas protecionistas ganhar força. Mas, em um recado a Brasília, as entidades alertaram ainda que medidas comerciais para compensar a valorização da moeda não são soluções reais e apenas ameaçam agravar a crise.

Para as organizações, está claro que, nos últimos meses, governos passaram a adotar medidas comerciais nacionalistas e intervir no mercado para favorecer indústrias locais, como resposta a um cenário econômico de incertezas, desemprego, baixo crescimento e volatilidade.

O levantamento será enviado aos líderes do G-20, que se reúnem na semana que vem. Mas o recado é claro: a decisão política dos governos, tomada ainda em 2009, de resistir ao protecionismo está sendo seriamente desafiada e muitos não cumpriram o que prometeram. O protecionismo, em resumo, ganha terreno. Mais de 670 medidas protecionistas já foram tomadas desde 2009, afetando 2% do fluxo comercial. O que preocupa as entidades é que apenas 19% dessas medidas – que deveriam ser apenas temporárias – foram retiradas. As demais continuam.

No total, o documento cita 32 medidas brasileiras confirmadas oficialmente desde maio, além de outras das quais a OMC apenas foi informada extraoficialmente. Desse total, 16 ações tiveram como meta restringir importações ou favorecer indústrias nacionais. Isso significa que uma em cada cinco barreiras criadas no mundo com impacto negativo foi brasileira.

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