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São Paulo – A agência de classificação de risco Standard & Poor’s anunciou ontem a concessão do "investment grade" ("grau de investimento", para países que representam baixo risco de calote) à Índia, o que deixa o Brasil como único dos BRICs (grupo de países emergentes que reúne, além do Brasil e da Índia, a Rússia e a China) a não ter tal classificação.

A nota da agência para o país passou para BBB-/A-3 (contra a nota anterior, BB+/B), com um cenário econômico estável. "A elevação para o grau de investimento reflete perspectivas econômicas e balanços externos sólidos e um mercado de capitais enraizado, que dão apoio a uma posição fiscal fraca, mas em consolidação", diz a agência.

Segundo relatório da agência publicado no último dia 3, a Rússia tem a nota A-/A-2 e é considerada estável (dado de setembro de 2006) e a China tem a nota A/A-1 (dado de julho do ano passado), considerada também estável. O Brasil tem a nota BB+/B, com um cenário considerado positivo (dado de novembro de 2006).

De acordo com Ping Chew, analista da S&P’s, reformas graduais e políticas monetária e fiscal consistentes sustentaram a estabilidade econômica indiana. Chew destacou as reformas fiscais, com implementação de leis de responsabilidade fiscal nos governos estaduais.

"Isso levou a perspectivas de crescimento sólidas e atraiu capitais estrangeiros e de indianos não-residentes", disse. "Essas forças devem permanecer apesar dos déficits em conta corrente, devido à expectativa de sólidas entradas de capital."

A nota B tem "características especulativas significativas", que são atenuadas conforme a ascensão na escala até BBB, mas a partir de A-3 passa a exibir "parâmetros adequados de proteção" contra a inadimplência, segundo a agência.

Para o economista-chefe da Uptrend Consultoria Econômica, Jason Freitas Vieira, o Brasil não tem condições de obter o grau de investimento neste ano e talvez nem no próximo. "O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] não vai dar resultados. O volume de gastos já estava posicionado, a renúncia fiscal foi baixa. O único ponto importante foi o governo ter criado uma forma de ser cobrado pelos resultados", disse. "Nenhuma projeção de crescimento mudou por conta do PAC."

Sem o "investment grade" o Brasil continuará a ter de arcar com taxas de juros mais altas para captar empréstimos externos e fica prejudicado enquanto alvo de investimentos estrangeiros diretos, destacou.

Para o economista, o Brasil, antes de pleitear o grau de investimento, precisa levar a cabo reformas – trabalhista, fiscal, previdenciária, educacional e política –, criar regulamentos claros para investimentos estrangeiros, gerar um crescimento econômico consistente, melhorar as situações da dívida externa em relação às exportações e da dívida pública em relação ao PIB e reforçar suas reservas internacionais.

"O "investment grade’ no Brasil é totalmente factível, porém não no curto prazo (...) Se a maior parte das premissas for cumprida, o upgrade pode vir de 2007 em diante, porém não depende das agências de risco, e sim da capacidade do Brasil de imprimir um "esforço extra’", disse.

Neste mês, a agência de classificação de risco Fitch Ratings já havia informado em um relatório que é "pouco provável" que o Brasil consiga o "investment grade" devido ao "pesado fardo do endividamento".

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