PIB da construção civil amargou uma queda de 8,4% no segundo trimestre: efeito Lava Jato.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Evidente desde o início do ano, a recessão do Brasil foi confirmada e medida em números oficiais nesta sexta-feira (28). Ainda não é visível é a saída da crise. Dados divulgados pelo IBGE apontam um declínio recorde dos investimentos, que prenunciam a retração econômica mais prolongada desde o lançamento do Plano Real, em 1994.

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Medida da produção e da renda do país, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 1,9% no 2.º trimestre do ano, na comparação com o 1.º, que já havia sofrido um recuo de 0,7%, segundo revisão do IBGE –em maio, a queda apontada tinha sido de 0,2%.

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Dois trimestres consecutivos de queda são um sintoma tradicionalmente aceito de recessão – algo que não ocorria desde 2008/2009. Mas esses números não contam toda a história: para a Fundação Getulio Vargas, a recessão já completou cinco trimestres. Afinal, a produção da indústria, agropecuária e serviços segue em patamar inferior ao do início de 2014, assim como vendas no comércio e obras de infraestrutura. O tombo recém-divulgado pelo IBGE é o mais doloroso do período.

Motor da economia ao longo da administração petista, o consumo das famílias teve queda de 2,1%, a maior desde a recessão de 2001, quando o país passava por um racionamento de energia elétrica, e o mundo, pelos atentados terroristas do 11 de setembro.

Mal no Ranking

A queda de 2,6% do PIB no 2º trimestre em relação a igual período de 2014 deixou o Brasil no 33º lugar em um ranking de 35 países, elaborado pela Austin Rating. Pelo 2º trimestre consecutivo, o Brasil só superou as economias da Rússia e da Ucrânia, que amargaram retração de 4,6% e 14,7%, respectivamente.

Há piora entre os diferentes setores e transações da economia, mas não é difícil identificar sua origem: a queda dos investimentos por um período ininterrupto de dois anos, inédito nas estatísticas iniciadas na década de 1990. No período, despencou de 20,7% para 17,8% a parcela do PIB destinada a essas despesas, cujo objetivo é ampliar a capacidade produtiva.

É também o que deixa mais longínqua a recuperação. Nos tempos do real, o PIB nunca caiu mais de dois trimestres consecutivos; agora, uma nova queda no 3.º trimestre do ano é consensual.

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Previsões

O tombo maior que o esperado no 2.º trimestre, aliado à revisão para baixo dos dados de janeiro e março, fez com que economistas de bancos e consultorias de investimentos projetem desempenho econômico ainda pior em 2015.

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As previsões dos analistas ouvidos pela reportagem variam de -2,5% a -3,0%. Antes, ficavam em torno de -2%, em linha com o número apresentado pela pesquisa Focus, do Banco Central, na última segunda-feira (24), de 2,06%.

“A forte revisão da contração no primeiro trimestre e um comportamento negativo do consumo das famílias já no início do ano surpreenderam”, afirmou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, que projeta retração de 2,5%.

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O consumo deve cair ainda mais nos próximos trimestres, prejudicado pela piora no mercado de trabalho e pela queda acentuada na renda do brasileiros.

No terceiro trimestre,o país ainda deve registrar retração econômica, embora de menor intensidade, segundo os analistas do mercado.

Consumo das famílias volta a desacelerar

  • rio de janeiro

Diante da piora do mercado de trabalho, queda da renda, alta da inflação e redução do crédito, o consumo das famílias deve registrar, em 2015, o primeiro recuo anual desde 2003, quando caiu 0,7%. Este ano, no entanto, o tombo deve ser maior: a projeção é de perda de até 2,5%. Caso se confirme, será a menor taxa de toda a série histórica, iniciada em 1996. O indicador responde por 62,5% do PIB.

As famílias agora realmente sentiram o impacto da crise no dia a dia. O consumo caiu 2,1% no segundo trimestre, frente ao primeiro trimestre, a segunda queda seguida. Esta é a pior taxa desde o terceiro trimestre de 2001, quando recuara 3,2%. Na comparação com igual período de 2014, o recuo foi de 2,7%. Antes disso, o consumo das famílias tinha subido por pouco mais de 11 anos: 45 trimestres seguidos, ou desde o último trimestre de 2003.

“O grande determinante disso é o mercado de trabalho, que vinha segurando seu desempenho, mas agora capotou. Consumo é emprego, renda e crédito. O emprego ainda vai piorar, a inflação ao longo desse ano vai comer o salário e o crédito continua caindo”, afirma o professor de Economia da FEA/USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Para Rodolfo Margato, economista do Santander, o indicador terá um tombo de 2,5% este ano. “O mercado de trabalho vem piorando de forma expressiva. Isso é observado nos dados do Caged [cadastro do Ministério do Trabalho que contabiliza a criação de vagas com carteira assinada.”

Coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis destaca que o recuo no consumo familiar se deu especialmente em bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos.

Investimento cai pelo 8.º trimestre seguido

  • rio de janeiro

A queda dos investimentos no 2.º trimestre superou os recuos vistos no fim de 2008 e início de 2009, auge da crise internacional, emplacando a maior sequência negativa da série histórica do IBGE para o PIB, iniciada em 1996. Incertezas em relação à demanda interna e à crise política fazem as empresas adiarem a decisão de investir, enquanto os efeitos da operação Lava Jato atrapalham os investimentos tanto das empreiteiras na construção civil quanto da Petrobras.

A formação bruta de capital fixo (FBCF, conta de todos os investimentos no PIB) caiu 11,9% em relação ao 2.º trimestre de 2014. O recuo de 8,1% sobre o 1.º trimestre foi o 8.º seguido nessa base de comparação.

Para a LCA Consultores, o “tombo na construção civil” foi o maior destaque negativo no PIB do 2.º trimestre. “Significa dizer que talvez o impacto da Lava Jato seja maior do que a gente estava esperando”, afirmou o economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges.

Corrupção

Segundo ele, as investigações que envolvem corrupção entre a Petrobras e as maiores empreiteiras do país afetam a economia de duas formas: diretamente, ao tirar o fôlego das construtoras para investir; e indiretamente, ao dar combustível à crise política. Inicialmente, a LCA estimava que a Lava Jato poderia tirar de 0,5 a 1,0 ponto porcentual do PIB, mas poderá rever esse número para cima.

Além disso, há um quadro de “tempestade perfeita” no cenário de investimentos. Outros fatores por trás da queda na FBCF, citados por Borges, são a ociosidade de capacidade de produção na indústria (“a mais alta desde 2009”), que torna aportes em expansão desnecessários; o aumento do custo dos investimentos, pois a alta do dólar torna mais caros itens como maquinário importado; e as restrições no crédito, inclusive com aperto nos empréstimos do BNDES.

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