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Capriles, opositor de Chávez, terá a ajuda de Renato Pereira | Leo Ramirez/AFP
Capriles, opositor de Chávez, terá a ajuda de Renato Pereira| Foto: Leo Ramirez/AFP

Dificuldade

Maior desafio é empolgar os eleitores jovens

A oposição na Venezuela cresce, principalmente entre a juventude. Publicitários consultados pela reportagem explicaram que o marqueteiro brasileiro João Santana terá dificuldade de empolgar essa geração, que desde criança conhece o país governado por Hugo Chávez e não está contente com sua gestão em questões como segurança, economia e liberdade de expressão. Nas primárias da semana passada, havia muitos jovens nos centros de votação, o que certamente beneficia Henrique Capriles, que tem 39 anos e anda de motocicleta por todo o país.

Os filmes de campanha do candidato da oposição carregam na emoção: mostram seu lado humano, como o governador energético que esteve ao lado da população com água até os joelhos durante as enchentes que devastaram o estado de Miranda, em 2010.

Por outro lado, a comunicação chavista é considerada por profissionais como confusa, e caberá a Santana organizá-la. Opiniões dão conta de que se o lado humano, "mítico" e carismático de Chávez vier melhor à tona, aliado a um discurso mais moderado, ficará mais difícil para a oposição vencê-lo nas urnas em outubro. Se a saúde ajudar e ele resolver aparecer como um vencedor do câncer, então...

O analista Carlos Romero conta que, assim como muitos venezuelanos, gostaria de ver Chávez sentado à mesa, frente a frente com Capriles, num debate televisionado pelas emissoras de tevê, inclusive as estatais. "É isso o que aconteceria em qualquer democracia. Mas aqui é muito difícil, a não ser que Chávez caia muitos nas pesquisas e se desespere. Os profissionais brasileiros que fazem campanha aqui precisam entender as particularidades da política venezuelana", acredita.

  • João Santana durante a campanha presidencial de Dilma Rousseff
  • Chávez contratou João Santana, marqueteiro de Lula e Dilma

A democracia consolidada, uma estrela chamada Luiz Inácio Lula da Silva, os bons profissionais e os anos de possibilidade de se adquirir know-how veiculando propaganda eleitoral gratuitamente fizeram o Brasil começar a exportar marketing político para a América Latina. E na Venezuela, que deve enfrentar até o dia 7 de outubro a campanha presidencial mais agitada e incerta do ano na região, duelarão dois brasileiros: o baiano João Santana, marqueteiro de Lula e Dilma, e o carioca Renato Pereira, responsável pelas campanhas do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes.

Santana deve desembarcar em Caracas nesta semana para fechar contrato e começar a trabalhar com o presidente Hugo Chávez. O rival, Henrique Capriles, contratou a dupla Renato Pereira e Chico Mendez para criar sua estratégia de comunicação. "O slogan escolhido foi ‘Há um caminho’, para frisar que os venezuelanos têm uma alternativa a Chávez. Nossa estratégia é a da não confrontação: Henrique valoriza o que o presidente fez de bom, mas diz que ele pode fazer melhor", conta Pereira.

Relatos vindos de Caracas dão conta das dificuldades que qualquer opositor tem para enfrentar o forte aparato chavista de comunicação, que controla dezenas de emissoras de tevê e rádio, além de contar com milhões de dólares excedentes toda vez que o preço do barril do petróleo aumenta.

Na semana passada, Chávez falou sobre o rival. Disse que iria "varrê-lo" e chamou-o de "porco". Declarações como esta, segundo especialistas, representam um desafio para Santana, pois atraem apenas os já fiéis ao chavismo, e não os indecisos que escolherão o próximo presidente do país.

Transparência

O desafio mais importante, no entanto, é esclarecer a condição de saúde do líder venezuelano, que desde o ano passado se trata de um câncer que, segundo fontes diversas, teria evoluído para uma metástase. Chávez é acusado de não tratar a doença com transparência.

Outro ponto polêmico é a projeção nacional e internacional de Chávez. Em campanhas recentes, como a do presidente de El Sal­vador, Maurício Funes (eleito em 2009), e de Medi­na, na República Dominicana (as eleições ocorrem em maio), João Santana ajudou a construir a imagem de candidatos modernos, conciliadores, muito parecidos com o Lula apresentado nas campanhas eleitorais, assim como a própria Dilma. Essa versão "lulinha" tem repercutido nas campanhas da América Latina, como na eleição de Ollanta Humala, no Peru. Brasileiros que fizeram a campanha peruana se esforçaram para apontar as diferenças entre Humala e Chávez e suas semelhanças com o ex-presidente petista.

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