O Brasil voltou a importar energia da Argentina para fazer frente ao consumo intenso no país. Nesta quarta-feira (21), pelo segundo dia consecutivo, uma carga do país vizinho foi enviada por uma interligação no Rio Grande do Sul.

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Na última terça (20), um dia depois do apagão que atingiu 11 Estados e o Distrito Federal, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) autorizou a transferência de energia. Foi a primeira vez que o governo Dilma Rousseff usou um acordo firmado em 2006 com o país vizinho, projetado para funcionar em situações de emergência. As últimas importações ocorreram em novembro e dezembro de 2010.

Na importação desta quarta, o volume foi menor, de 90 MW médios ao longo do dia, mas que chegou no horário de pico em 798 MW. O demanda por energia no horário de pico, registrado às 15h29, foi de 84.292 MW em todo o país.

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A região Sudeste/Centro-oeste, considerada uma só pelo ONS, mais uma vez bateu o recorde de consumo no horário de pico na última quarta-feira, de 51.864 MW, superando a marca alcançada no dia do apagão, segunda-feira (19), de 51.596 MW. As informações constam do IPDO (Informativo Preliminar Diário de Operação), boletim feito diariamente pelo ONS, de quarta (20), publicado na manhã desta quinta (22).

O calor intenso registrado desde 2014 fez mudar o horário de pico de consumo de energia no país, antes no início da noite, para entre 14h e 15h.Na terça, o país chegou a importar 998 MW no horário de pico -o suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas-, registrado naquele dia às 14h48. Ao longo do dia, a importação média foi de 165 MW.

A transferência de energia entre os dois países ocorre por meio de contrato firmado em 2006. Há acordos do mesmo tipo com o Uruguai e o Paraguai. A energia da Argentina entra por meio de uma interligação em Garruchos (RS).

Em nota divulgada na última quarta-feira (20), o ONS explicou que o intercâmbio "vem sendo adotado em diversos momentos ao longo da vigência do acordo" entre os países.

As últimas vezes em que o país importou da Argentina, porém, foram em novembro e dezembro de 2010. Desde então, não houve transações de nenhum dos dois lados.

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A operação chama a atenção porque, além de a Argentina viver atualmente um problema energético mais grave que o do Brasil, tanto o ONS quanto o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, afirmaram, depois do apagão, que havia folga de energia no sistema brasileiro.

"Estão buscando alternativas para ampliar a oferta de energia, em vez de falar para a população economizar no consumo. Essa importação corrobora a hipótese de que o sistema não está com essa folga toda", disse o doutor em energia elétrica e professor titular da Universidade Federal de Itajubá (MG) José Wanderley Marangon.

A carga foi destinada especificamente ao sistema Sudeste/Centro-Oeste, que, tanto no dia do apagão quanto no dia seguinte, o da importação da carga argentina, não tem produzido energia suficiente para atender a sua demanda.

Histórico

Nesta terça-feira (20), apesar da importação de energia, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, afirmou que não houve apagão. "O que houve foi um corte preventivo feito pelo operador para evitar o desligamento de maiores proporções", disse.

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E o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) voltou a afirmar também terça que o apagão não ocorreu por falta de energia, mas por uma sequência de desligamentos.

A posição do ministro tentou se sobrepor ao fato de que, segundo o próprio ONS, houve um recorde de consumo de energia minutos antes de o desligamento ocorrer.

A alegação também foi feita em um momento em que os reservatórios estão historicamente mais baixos para um mês de janeiro e diante desta nova temporada de seca em meio ao período chuvoso.

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