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| Foto: José Patrício/ AE

O Brasil conta com um bom arsenal para evitar os efeitos da crise internacional. Porém não consegue destravar o investimento, fundamental para garantir crescimento da economia no médio prazo. A opinião é de André Loes, economista-chefe do HSBC para a América Latina, que na sexta-feira ministrou uma palestra no clube de negócios WTC em Curitiba. Para ele, o Brasil "joga retrancado" na economia mundial. O país se defende bem, mas tem dificuldade para fazer gol.

Como o Brasil está se saindo em relação à crise internacional?

Estamos relativamente bem. Temos boas reservas internacionais, uma economia voltada para o seu mercado interno, juros em queda e um superávit primário semelhante ao do governo anterior, o que significa que podemos sacrificar um pouco esse superávit para poder estimular investimentos. Também não temos, como anteriormente, grandes empresas expostas a derivativos. Mas é lógico que estamos bem porque nos comparamos com as outras economias em crise. Ou seja, estamos menos pior. O Brasil tradicionalmente joga na retranca, é como aquele time pequeno que vai bem em dias de chuva. Não é muito brilhante quando todo mundo vai bem, mas também não vai tão mal quando as coisas estão piores.

Nas últimas semanas, parece que acabou a lua-de-mel do mercado internacional com o Brasil. O país deve registrar uma taxa de crescimento inferior à do ano passado (2,7%). A percepção geral é de que o país frustrou algumas expectativas, principalmente em relação a reformas mais estruturais.

Esse sentimento é real. O Brasil se tornou um país caro para investir, com a alta dos salários, o câmbio apreciado, além da carga tributária elevada, o problema da logística. Na hora de decidir onde investir, as empresas avaliam essas questões. A impressão é de que o país prometeu mas não entregou. Um exemplo disso é a execução das obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] abaixo do esperado. O governo poderia sacrificar até 0,5% do superávit primário e incentivar o investimento como forma de fazer a economia crescer. Além disso, o país está sendo visto, mais do que protecionista, como intervencionista – que muda as regras para alguns setores de uma hora para outra –, o que não é um bom sinal. A nossa projeção é de um crescimento de 2,5% para o PIB [Produto Interno Bruto] em 2012.

Esse desânimo pode prejudicar que tipo de investimento no país?

Ele influencia o investidor de portfólio, mas o problema é que ele afeta principalmente o investimento direto, aquele que vai para o setor produtivo. Já há uma queda no investimento estrangeiro direto no país. Sem saber como a situação vai ficar, as empresas preferem adiar.

De tempos em tempos, o mercado internacional elege seus "queridos". O Brasil e a Índia, por exemplo, eram "eleitos" e agora estão ficando de lado. Até que ponto essa avaliação não é subjetiva?

Eu posso dizer que fiquei dez anos dizendo que o Brasil não era tão ruim quanto parecia e os últimos dez anos dizendo que não era tão bom como se imaginava. Mas, independentemente dos exageros, se não fizer seu papel, o Brasil corre o risco de ficar fora da lista desses investimentos quando as economias desenvolvidas voltarem a crescer. É preciso estar atento a isso.

O governo tem adotado basicamente as mesmas medidas que em 2008 para combater os efeitos da crise internacional, com foco principalmente no estímulo ao consumo.

As medidas vão ter efeito em melhorar a economia, mas são de efeito de curto prazo e limitadas, porque as famílias estão mais endividadas e a inadimplência está mais alta. É natural que as famílias segurem um pouco o ritmo de compras, que é o que está acontecendo. Além disso, depois de seis anos de crescimento real dos salários, esse movimento deve se acomodar. Os efeitos dessas medidas serão menores agora.

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