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O Brasil político pode ter amanhecido mais agrícola que nunca. Nas eleições de ontem eram mais de 37 mil produtores rurais disputando uma vaga das mais de 5.500 prefeituras ou então uma das 57.434 cadeiras nos legislativos municipais, de Norte a Sul, de Leste a Oeste do país. Na relação direta, entre vagas e candidatos, havia quase um agricultor na disputa de cada cinco prefeituras. Conforme levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 998 agricultores concorreram ao posto de prefeito e pouco mais de 36 mil reforçaram à ofensiva do campo às câmaras de vereadores.

Na disputa pelas vagas do legislativo, a classe dos agropecuaristas só perdeu para a dos servidores públicos, que somou mais de 37 mil postulantes. Já a concorrência no Executivo é liderada pelos empresários, com mais de 1.800 candidaturas. Depois aparecem os comerciantes, com mais de 1 mil, seguidos pelos agricultores. Por questões óbvias, é mais comum identificar os produtores rurais à frente das campanhas políticas em regiões tradicionais de produção, onde a vocação econômica do município, estado ou região é sustentada em cima dos números do setor. Eles também estão mais presentes em municípios do interior, com menos força nas capitais.

É o agronegócio buscando seu lugar ao sol, ou melhor, na política brasileira. Os agricultores/candidatos querem aumentar e qualificar sua representação. A diferença, agora, claramente explicitada nessa disputa, é que eles querem mais se representar do que serem representados. Uma tentativa talvez de legitimar as chamadas bancadas ruralistas com um efetivo mais genuíno e puro do agronegócio. Os ruralistas se orgulham, por exemplo, de ser uma das maiores representações no Congresso Nacional. Boa parte desta bancada, porém, não vem do campo, mas engrossam esse coro porque se identificam com a causa, por conveniência política ou simplesmente porque dá voto. O que não é ruim para o setor. Quanto mais representado, melhor. Mas quanto mais qualificada for essa representação, melhor ainda.

Assim, vamos acreditar que com a presença de pessoas com mais propriedade na discussão e na defesa dos interesses do agro, mais efetivo e assertivo serão os encaminhamentos das matérias pertinentes ao setor. Mais do que isso, quanto mais diversa for a composição dos executivos e legislativos, também são maiores as chances do equilíbrio entre o técnico e o político, entre as demandas do Estado e da sociedade. Ter mais agricultores, assim como médicos, professores, empresários e comerciantes é saudável, plural e democrático, qualifica o debate, credencia seus agentes e valida suas discussões, no público e no privado.

No momento em que a economia agrícola assume papel relevante no desenvolvido do país, é justo e necessário que o setor participe de forma mais ativa das decisões políticas e econômicas que afetam a nação. Cada vez mais presente no discurso da presidente Dilma Rousseff, o agronegócio se constitui hoje no principal indutor da economia brasileira, capaz inclusive de conter uma queda ainda maior no Produto Interno Bruto (PIB). Se o crescimento econômico brasileiro aferido pelo PIB será menor que 2% em 2012, o desempenho do agronegócio pode superar os 2%. Ou seja, se não fosse a produção agrícola e pecuária, o recuo poderia ser ainda maior, assim como a balança comercial, sem o resultado do agronegócio, seria altamente deficitária.

A disposição dos agricultores/candidatos então é bem-vinda. O setor agradece, a sociedade reconhece e o governo também. Mas não vamos pensar que a experiência na gestão de pessoas, do plantar e colher, mais dentro do que fora da porteira, é suficiente para posicionar e representar o setor no ambiente do interesse ou da utilidade pública. É a composição do técnico e do político, do agricultor e da experiência política que vai fazer a diferença. Somente esse equilíbrio será capaz de promover as mudanças necessárias não apenas no ambiente da agricultura, como no espaço político, na percepção e na vida da sociedade organizada, independente da sua relação, direta ou indireta, com o agronegócio, com a política ou o Estado.

Hoje, então, é dia de conferir o resultado do primeiro turno, checar se a sua escolha saiu vitoriosa, quem foram e quem são os demais candidatos eleitos e fazer o seu papel agora não como eleitor, mas como cidadão. Sugerir, acompanhar e fiscalizar, defender seus interesses e também da sociedade, sem esquecer que as afinidades deste ou daquele candidato só faz aumentar suas responsabilidades para com o setor que representam.

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