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Diversos indicadores e pesquisas mostram como a falta de conscientização financeira atrapalha a vida dos brasileiros. Este ano começou com 61 milhões de brasileiros com o nome negativado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Segundo o Banco Mundial, apenas 3,64% da população economiza para a aposentadoria, um dos índices mais baixos do mundo: a média na América Latina é de 10,6%, enquanto outros países emergentes, como México (20,85%), África do Sul (15,93%) e Rússia (14,56%), apresentam números melhores. Além disso, apenas 28% dos brasileiros declaram ter poupado algum dinheiro nos últimos 12 meses, o 14.º pior índice do mundo.

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Esses números não são coincidência: um dos parâmetros de avaliação da educação do Pisa é o alfabetismo financeiro, em que o Brasil ocupou a última posição entre as 17 nações avaliadas nesse quesito em 2015.

Naquele ano, o escore médio brasileiro foi de 393, enquanto a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi de 439. A nota dos estudantes brasileiros nesse quesito foi 43 pontos pior do que em matemática e leitura.

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O economista e mestre em finanças comportamentais Gerson Caner acredita que a qualidade ruim da educação de base se reflete na baixa conscientização financeira.

“Temos uma dificuldade muito grande das questões lógico-matemáticas e de leitura e interpretação de texto, e nas questões de educação financeira estão contidas interpretações de texto para as tomadas de decisão. Se não ocorre boa interpretação, a tendência é não decidir de forma correta”, explica.

O índice apontou que muitos estudantes brasileiros não alcançam nem a proficiência nível 1. Isso significa que no máximo conseguem discernir a diferença entre necessidades e desejos e tomar decisões simples sobre os gastos do dia a dia.

Mas mesmo entre quem tem dinheiro guardado no Brasil, a poupança continua como investimento preferido de nove em cada dez brasileiros, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Porém, com a queda da Selic, a caderneta deve render menos do que a inflação em 2020, o que significa uma perda no poder de compra.

A Manager da TC School Roadshow Isabela Lima aponta que a ideia de que investimentos são “coisa de gente rica” se dá porque o Brasil ainda carece de informação sobre investimentos. “O mais importante é a linguagem acessível à todo o tipo de público, o que falta muito no país. As pessoas não investem por que não sabem que é possível fazer isso com pouco dinheiro”, afirma.

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Caner afirma que a educação financeira vai muito além de dinheiro e finanças. “Pesquisas comprovam que ela reforça a convivência familiar, estreita vínculos com outros temas relevantes compartilhados em família, ensina a lidar melhor com frustrações e cria consumidores conscientes e compatíveis com uma economia mais sustentável”, conta.

Ele analisa que os brasileiros em geral têm muita propensão ao consumo e baixa consciência sobre a necessidade de poupar. “Mesmo aqueles que teriam possibilidade de poupar não o fazem, pois têm pouco estímulo social e coletivo”, diz.

“Entender mais de finanças pessoais contribuiria para evitar escolhas terríveis, como a de utilizar o limite do cheque especial, pagar apenas parcialmente o cartão de crédito ou emprestar o nome para amigos e parentes”, afirma.

Educação financeira na Base Curricular

Em 2020 a educação financeira passa a integrar a base Nacional Comum Curricular, o que Caner vê como avanço. “Os países com melhores resultados no teste, não coincidentemente, já têm educação financeira nas escolas desde o início deste século. No futuro próximo, uma escola que não forneça a disciplina de educação financeira será vista da mesma forma que uma escola que não ofereça educação física, artes ou idiomas”, afirma.

Ele cita que há muitas “crenças limitantes” sobre finanças, como “dinheiro é a raiz de todo mal”, “só fica rico quem fez coisa errada, “dinheiro não traz felicidade” e que esses dogmas contribuem para dificuldade em lidar com finanças ao longo da vida.

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“A disseminação de educação financeira nas escolas e a conscientização de sua importância deve produzir efeitos de longo prazo no sentido de minimizar essas crenças limitantes, tão prejudiciais para o indivíduo e a comunidade que o cerca”, analisa.

Isabela Lima, da TC School Roadshow, concorda sobre a importância de educação financeira ser ensinada nas escolas públicas e privadas desde o ensino infantil. “Hoje existem muitos jogos infantis que incentivam as crianças a aprender de maneira simples e divertida sobre finanças, então também é papel dos pais incentivarem essas práticas e acompanharem de perto a educação financeira dos filhos”, diz.

Ela aponta que o novo cenário econômico pode estimular a procura por maior conhecimento para quem já poupa algum dinheiro. “Com o cenário de juros baixos e a poupança não estar mais ‘rendendo’, muitas pessoas estão procurando mais informação. Hoje há investimentos para todos os bolsos. Precisamos focar em educação financeira acessível para todos”, afirma.

Caner acredita que o cenário macroeconômico atual, com os juros mais baixos da história brasileira e uma inflação controlada, pode representar o início de uma importante "era de empreendedorismo no país". Algo possível apenas com educação financeira.