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A insistência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em manter a previsão de crescimento da economia brasileira entre 4% e 4,5% em 2009 já é interpretada por economistas de fora do governo apenas como uma tentativa de manter aceso o otimismo no país. As estimativas no mercado são de no máximo 3,5%. E têm sido revisadas para baixo conforme o cenário de recessão nos EUA e Europa se consolidam. Não é para menos: um histórico das últimas recessões americanas mostra que o Brasil sempre perde crescimento quando há crises no hemisfério norte.

Nesta semana, o jornal britânico Financial Times mostrava que a recessão na qual os EUA estão entrando, na companhia de Europa e Japão, será no mínimo tão dura quanto a de 1980-1982. Aquela crise foi a reação da economia americana a uma década problemática. Nos anos 70, a produtividade estava em queda, a inflação, pressionada por duas crises do petróleo e por salários em alta, e o sistema financeiro estava comprometido com bilhões de dólares emprestados para países em desenvolvimento.

Em três anos, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA registrou duas retrações, com um alívio em 1981. Em grande parte, a recessão foi causada por uma escolha do Fed (o banco central norte-americano), que preferiu subir os juros para controlar a inflação. A recuperação começou somente em 1983, após o desemprego bater em 10%. Para países emergentes, o tranco foi ainda mais forte. Os juros altos fizeram as dívidas dispararem, causando um desequilíbrio imenso nas contas externas. No Brasil, esse foi o fim do milagre econômico e o início da década perdida. O desempenho do PIB saiu de 9% em 1980 para -4% em 1982.

Depois disso, a economia americana entrou oficialmente em recessão apenas outras duas vezes. No período 1990-1991, a recessão foi resultado dos desequilíbrios evidenciados no crash da Bolsa de Nova Iorque em 1987. A crise financeira foi aos poucos se espalhando para outros países e bateu na produção industrial no início dos anos 90. A retração se consolidou quando o preço do petróleo subiu com a Guerra do Golfo. O Brasil foi afetado já em 1990. A crise externa reforçou a política contracionista adotada no Plano Collor e a economia encolheu mais de 4%.

A última recessão veio em 2001, quando estourou a bolha das ações de tecnologia nos Estados Unidos. Também foi o ano dos atentados de 11 de Setembro e dos balanços micados de empresas como Enron e Tyco. A crise internacional, aliada ao apagão energético, roubou pontos do crescimento brasileiro, que vinha bem em 2000 e ficou em míseros 0,8% em 2001. Logo depois, a contração no crédito no mercado externo aumentou o estresse no câmbio durante a campanha eleitoral de 2002.

Previsões

"As chances de haver crescimento de 4% estão caindo muito", diz o economista Roberto Troster, sócio da consultoria Integral Trust. "As empresas vão sentir a contração no crédito, as exportações certamente vão crescer menos no primeiro semestre e o impacto da alta do dólar na inflação ainda é uma incógnita", completa.

A recessão nos EUA levou a LCA Consultores a formar dois cenários de análise para o ano que vem. No primeiro, a recuperação econômica no mundo rico começaria no segundo semestre de 2009 e o crescimento econômico americano seria de 0,5%. Neste caso, o Brasil teria chances de crescer entre 3,5% e 4%. "Considero ainda o cenário mais provável", diz Francisco Pessoa Faria, economista da LCA. Caso a recuperação dos EUA comece apenas em 2010 e a economia americana se retraia 0,5%, a variação do PIB brasileiro ficaria em torno de 2%.

Outra consultoria, a MB Associados, também trabalha com dois cenários. No primeiro, levando em conta uma crise rápida, o crescimento do Brasil seria de 3,5%. Neste caso, a valorização do dólar seria revertida, com impactos pequenos sobre a inflação. Em caso de crise longa, com recessão mais profunda nos EUA, a expansão do PIB brasileiro cairia para 2,3%. O dólar ficaria acima de R$ 2, pressionando a inflação, e jogaria os juros para cima.

Em seu último relatório de cenários macroeconômicos, o Bradesco alterou a previsão de crescimento para 2009 – ela caiu de 3,5% para 3,3%. O texto destaca os últimos dados da economia real americana, que mostram forte desaceleração. (GO)

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