Segundo a Firjan, os feriados saem caro para a indústria: prejuízo será ainda maior se houver folga em dias de jogos da Copa| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

Opinião

Um chutaço para fora

Fernando Jasper, editor-assistente de Economia

O levantamento da Firjan sobre a perda provocada pelos feriados é um chutaço, e para fora. É tão preciso quanto as estimativas que a Associação Comercial do Paraná divulgou ao se insurgir contra o feriado da Consciência Negra e eventuais paralisações na Copa. Para calcular quanto a indústria deixa de ganhar, a Firjan faz o seguinte: 1) projeta o PIB industrial do ano; 2) divide o valor pelo número de dias úteis; e 3) multiplica a média diária pela quantidade de feriados.

É uma estimativa simplista, que parte de premissas ingênuas. Presume que as fábricas não se planejam, sendo surpreendidas pelos feriados, e que são incapazes de calibrar o ritmo de produção de acordo com as circunstâncias.

Não é assim. Como passa por tempos bicudos, a indústria está pegando leve. Tanto que em 2013 usou em média 82,4% da capacidade, segundo a CNI. Ou seja, máquinas e trabalhadores fabricaram 82,4% do que são capazes. Não deixaram de produzir os 17,6% restantes por culpa de feriados, e sim porque não há demanda para tanto.

O caso da fábrica da Volkswagen no Paraná é exemplar. Ela pode produzir até 870 veículos ao dia, mas, como o mercado está ruim, só tem feito 640, ou 74% da capacidade. Assim, a cada cinco dias está fabricando menos carros do que poderia produzir em quatro. Um feriado a mais não faz a menor diferença.

A estimativa da Firjan, portanto, só serve para quem já opera a toda e não tem como produzir mais nos dias úteis de forma a compensar os feriados. É o caso de uma minoria, infelizmente.

A federação diz defender a revisão "de todos os feriados" em nome da competitividade. Fará sentido quando a indústria tiver solucionado sua defasagem tecnológica e contar com trabalhadores altamente qualificados. E, mesmo nesse dia, terá de debater o assunto com quem se beneficia dos feriados, a começar pela indústria do turismo.

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A indústria brasileira pode perder até R$ 45,5 bilhões neste ano por causa dos feriados, segundo pesquisa divulgada ontem pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Em 2014, oito dos 12 feriados nacionais vão ocorrer em dias de semana, assim como no ano passado. Nos estados, 30 dos 44 feriados vão cair em dia útil, seis a mais que em 2013.

INFOGRÁFICO: Veja quanto o setor deixa de ganhar com feriados

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Segundo a Firjan, as regiões mais industrializados sofrerão as maiores perdas. O impacto pode chegar a R$ 15,6 bilhões em São Paulo, R$ 5,5 bilhões no Rio de Janeiro e R$ 4,5 bilhões em Minas Gerais.

Além do nível de industrialização, o número de feriados em cada estado e a incidência destes em dias de semana são fatores determinantes. Nesse sentido, Acre, Alagoas e Amazonas, que em 2014 terão três feriados estaduais em dias de semana, apresentam a maior perda relativa: o prejuízo para esses estados pode chegar a 4,4% do PIB industrial.

Paraná

Em termos absolutos, a indústria do Paraná deixará de ganhar até R$ 2,57 bilhões, o equivalente a 3,6% de seu PIB neste ano, estimado em R$ 72 bilhões pela Firjan. É a quinta maior perda em todo o país. Em termos relativos, a perda de 3,6% está em linha com a da média nacional.

Revisão

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Para a Firjan, suas estimativas "não deixam dúvidas a respeito do elevado custo dos feriados para a indústria brasileira". E, segundo ela, os custos devem subir se forem decretados feriados durante a Copa do Mundo, o que pode ocorrer em Curitiba. Nesse caso, a federação defende o estabelecimento de "mecanismos compensatórios" para reduzir os custos.

"Na busca pela redução do ‘custo Brasil’ e pelo aumento da competitividade da indústria brasileira, o Sistema Firjan sugere a revisão de todos os feriados e o fim dos ‘feriadões’", diz o comunicado. "Dessa forma, alguns feriados poderiam ser considerados como datas comemorativas e aqueles que caírem no meio de semana poderiam ser deslocados para segunda-feira ou sexta-feira."

Metodologia

A metodologia usada para calcular as perdas causadas pelos feriados no Brasil foi criada pela Firjan em 2008. O método considera o Produto Interno Bruto Industrial diário como valor máximo que poderia ser perdido pela indústria em um dia paralisado.

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