Curitiba As conversas nos corredores de Brasília ficaram tão dominadas por denúncias de corrupção em estatais e pelos caminhos do mensalão que deixaram em segundo plano a economia. Para muitos analistas, isso ocorreu porque a gestão da política econômica vai bem, os fundamentos estão sólidos e os mercados têm reagido com certa apatia. Mas é difícil saber até que ponto essa calmaria resiste aos solavancos do governo Lula.
Por mais isolada que a crise tenha ficado das decisões do mercado, o risco de vazamentos é grande. O comportamento da economia real, já baqueada com o aumento da taxa básica de juros nos últimos meses, dá mostras de refletir de perto o desenrolar das investigações em Brasília. A última Sondagem da Indústria da Transformação, feita pela Fundação Getúlio Vargas, revela que o setor empresarial ficou mais pessimista com a perspectiva de desempenho para o segundo semestre. Outra pesquisa da mesma instituição mostra que o índice de confiança do consumidor sofreu uma queda no último trimestre.
Para quem acompanha o setor industrial, esse "mau-humor" é reforçado por uma tendência de congelamento de projetos. "No fim do ano passado havia uma perspectiva muito boa de investimentos. Depois, subiram os juros e veio a crise política, o que fez o setor produtivo segurar alguns planos", diz o economista Júlio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Os segmentos mais afetados são aqueles que exigem muitos recursos, como infra-estrutura. O efeito do adiamento de obras será um crescimento econômico menor nos próximos dois anos.
Outro dado ligado à economia real vem da Bolsa de Valores de São Paulo. O índice Ibovespa, calculado com o desempenho das ações mais negociadas, caiu quase 6% do dia 6 de junho, quando saiu no jornal Folha de S. Paulo a primeira entrevista do deputado Roberto Jefferson sobre o mensalão, até a última sexta-feira. "A bolsa pode ter sentido menos a crise do que em situações anteriores, mas ela está atenta ao que vem de Brasília", afirma o estrategista-chefe da Fator Corretora, Cláudio Monteiro. A instabilidade da Bovespa, segundo ele, é fruto de avaliações diárias dos acontecimentos políticos e de novos cálculos sobre o potencial dos papéis negociados.
A calmaria se concentra no lado financeiro da economia. Alimentado por superávits comerciais recordes, o mercado de câmbio parece nem sentir que há suspeitas em torno do governo. As agências de rating, que calculam o risco de se investir em títulos de um país ou empresa, não pensam em rebaixar a avaliação do Brasil. "Os fundamentos da economia brasileira se fortaleceram nos últimos anos", explica a analista da agência Standard & Poors, Lisa Schineller.
A estabilidade do câmbio é a melhor notícia do momento, de acordo com analistas. Hoje o real está apreciado em relação ao dólar e, num cenário mais grave, voltaria para um nível em que não prejudica a rentabilidade das exportações. O que não significa que a economia do país passaria ilesa por um tiroteio mais acirrado em Brasília. O atraso nos investimentos poderia se transformar em decisão por tempo indeterminado e a previsão de crescimento baixo em uma recessão.
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