• Carregando...
Representante do segundo centro financeiro mundial, Cameron disse que taxar as transações financeiras seria “insano” | Fabrice Coffrini/AFP
Representante do segundo centro financeiro mundial, Cameron disse que taxar as transações financeiras seria “insano”| Foto: Fabrice Coffrini/AFP

Opinião

Após 41 anos, Davos finalmente reconhece seu fracasso

Fernando Jasper, editor-assistente de Economia

A eficácia do Fórum Econômico Mundial, que completa 41 anos, é semelhante à da avassaladora maioria dos congressos realizados mundo afora. Embora atraia os protestos de sempre e algumas das mais enfadonhas celebridades engajadas (Bono Vox à frente), seu resultado prático para os rumos da economia mundial costuma ser quase nenhum.

Vez ou outra o Fórum tem o mérito de reunir lideranças que precisavam ter uma boa conversa e dar declarações de efeito. Mas vários outros encontros cumprem esse papel, e até com mais frequência, caso das incontáveis cúpulas de G20, União Europeia, Mercosul e afins.

Agenda oficial à parte, a expectativa era de que a edição deste ano fizesse avançar a articulação em torno da crise das dívidas da Europa. Pois logo no discurso de abertura, na quarta-feira, a chanceler alemã tratou de aconselhar os colegas a tirar os cavalinhos da neve que caía lá fora. A maior economia da União Europeia, avisou, não está disposta a assinar mais cheques em branco em nome da recuperação da região.

Com a agenda paralela esvaziada já na largada, restou a Davos contentar-se com a programação oficial, que, para manter o hábito, tem um nome pomposo e vazio: "A grande transformação: desenhando novos modelos". Em entrevista dias atrás, o presidente do Fórum, Klaus Schwab, explicou o que quis dizer com o título. Disse que "o capitalismo, na sua atual forma, não serve para o mundo à nossa volta"; que "não investimos o bastante no futuro"; que "não demos atenção suficiente à coesão social"; e que, bem, é preciso dar um jeito nisso. Ontem, a firme recusa do premiê britânico em discutir uma reforma financeira digna desse nome apenas reforçou o óbvio: se houver uma solução para a crise de confiança mencionada por Schwab, não é por Davos que ela vai começar.

O Fórum diz ter o objetivo de "melhorar o mundo por meio do engajamento de empresas, líderes políticos, acadêmicos e outros setores da sociedade". Foram necessários 41 invernos suíços para que Schwab e seus pares percebessem que não chegaram nem perto de cumprir o objetivo. Restou a eles adotar o discurso padrão do Fórum Social Mundial – um discurso oposto ao convencional de Davos, mas tão eficaz quanto.

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, afirmou ontem que o Banco Central Europeu (BCE) "poderia fazer mais" para solucionar a crise de endividamento que assola alguns países da zona do euro. Em seu discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, Cameron defendeu a adoção de medidas de curto prazo para restaurar a confiança e incentivar o investimento na zona do euro.

O premiê aconselhou os líderes da União Europeia (UE) a serem mais ousados com o intuito de cessar os problemas econômicos no que chamou de momento "trabalhoso" para a região. As prioridades do bloco, segundo ele, são a Grécia, o setor bancário e os programas de resgate. "A verdade é que não podemos mais esperar muito tempo por isso", alertou.

O premiê britânico criticou também a intenção da UE de impor uma taxa sobre transações financeiras. "Implementá-la em um momento de crise seria insano", defendeu. Segundo Cameron, é justo que o setor financeiro pague sua parte e a Inglaterra já faz isso por meio de suas taxas sobre bancos e ações.

A ideia apresentada pela Comissão Europeia poderia reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) da UE em 200 bilhões de euros por ano, provocar o corte de 500 mil funcionários e forçar 90% dos mercados a sair da UE, argumentou o premiê.

Enquanto Cameron citou a Grécia como prioridade, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que "talvez haja um foco excessivo nos temores com a Grécia". "Sei que há muita atenção na Grécia, mas o país representa apenas 2% da zona do euro", afirmou. Para ele, o foco na Itália e na Espanha é mais importante.

O executivo-chefe do JPMor­gan, Jamie Dimon, foi pela mesma linha. Não querendo diminuir os problemas da Europa, Dimon disse que Grécia, Portugal e Irlanda não são a principal questão. "O verdadeiro problema é a Espanha e a Itália", disse.

Segundo Dimon, o impacto de um possível default da Grécia nos bancos dos Estados Unidos seria insignificante e, embora existam chances de um desfecho ruim na Europa, ele não está preocupado com surpresas desagradáveis na região. "O impacto direto de um default da Grécia é quase zero, não é algo que derrubará o mundo ocidental", afirmou.

Sem China

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, negou que estejam ocorrendo negociações em Davos entre a Europa e a China sobre a compra da dívida soberana europeia. Os endividados europeus têm pedido à China, dona de US$ 3,2 trilhões em reservas, para que invista no fundo de resgate europeu; os chineses, no entanto, limitam-se a afirmar que "continuarão apoiando" os esforços da UE.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]