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A inadimplência do cartão de 90 dias ou mais atingiu 29,5% em maio, a maior em 12 anos | Bobby Yip/Reuters
A inadimplência do cartão de 90 dias ou mais atingiu 29,5% em maio, a maior em 12 anos| Foto: Bobby Yip/Reuters

Outro lado

Empresas de crédito contestam pesquisa

Marcelo Noronha, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), contesta a conclusão da Boa Vista Serviços de que os cartões são os vilões da inadimplência.

Segundo ele, a pesquisa consultou só o público que ficou inadimplente e deixou de avaliar os demais. Ele afirma que houve migração entre meios de pagamento, o que ampliou a base dos cartões e, consequentemente, a chance de inadimplência. "Os carnês e os boletos estão sumindo para a pessoa física". De acordo com Noronha, o meio cartão responde por 27% do consumo das famílias no Brasil e 70% do saldo dos cartões, que em maio era de R$ 125,6 bilhões, são sem juros. "As pessoas usam cada vez mais o cartão e cada vez mais a modalidade sem juros". Em maio de 2004, mais da metade do crédito no cartão era com juros e a maior parte no rotativo.

O cartão sem juros responde por 10% do estoque de crédito para pessoa física, o cartão com juros representa 4,1% e o rotativo, apenas 1,6% do total. "Matematicamente é impossível o cartão ser o vilão da inadimplência."

O cartão de crédito é apontado pelo consumidor brasileiro como o principal meio de pagamento que o levou ao calote. No mês passado, 31% dos inadimplentes indicaram o cartão como o vilão da crise de suas finanças pessoais, revela pesquisa da Boa Vista Serviços, que administra o Serviçoa Central de Proteção ao Crédito (SCPC) . Em março deste ano, esse indicador para os cartões estava em 29% e, seis meses antes, em 23%.

O resultado de junho para os cartões supera de longe a importância dos carnês e boletos bancários (22%) e dos cheques (24%) como vilões da inadimplência. Em março, o cartão já havia desbancado o carnê e passou a liderar o ranking dos meios de pagamento que levaram o consumidor a engrossar a lista da inadimplência.

Especialistas ressaltam que o avanço do uso do cartão sobre outros meios de pagamento e a multiplicação dos plásticos explicam parte do resultado.

Este ano deve fechar com 193,2 milhões de cartões de crédito, segundo projeções da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). A marca supera a população do país: 190,7 milhões de pessoas, segundo o Censo 2010 do IBGE. Significaria que cada brasileiro, do bebê de colo ao idoso, carrega mais de um cartão de crédito na carteira.

Juros

Além da multiplicação dos plásticos, a elevada taxa de juros cobrada pelos cartões joga mais lenha na inadimplência dessa linha de crédito. Dados do Banco Central mostram que o calote do cartão acima de 90 dias atingiu 29,5% em maio, a maior marca em 12 anos. Durante 28 meses seguidos, de fevereiro de 2010 a junho deste ano, a taxa média de juros do cartão ficou estacionada em 10,69% ao mês, revela pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A resistência da taxa de juros do cartão, a mais alta entre as várias linhas de crédito ao consumidor, vai na contramão até da taxa básica de juros, a Selic, que já caiu três pontos porcentuais entre dezembro de 2011 e a semana passada.

O diretor do SCPC, Fernando Cosenza, diz que a facilidade de se obter crédito no cartão, que é pré-aprovado e está na carteira do consumidor, combinada à falta de informações centralizadas do sistema financeiro sobre os limites totais de crédito concedido a cada consumidor por cartão, agravam o quadro da inadimplência.

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