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A alta histórica nos juros do cheque especial registrada em março, que alcançou uma taxa de 300,9% ao ano, o maior índice desde o início do Plano Real, reflete o encarecimento generalizado do crédito livre para a pessoa física no país.

De acordo com o Banco Central, o rotativo do cartão de crédito também teve um aumento histórico, de 449,06% ao ano, enquanto o custo do crédito pessoal não consignado foi de 126,1%.

INFOGRÁFICO: A escalada do aumento do custo do crédito

Mais do que um efeito da taxa básica de juros (Selic), que se mantém estável em 14,25% ao ano desde setembro de 2015, o encarecimento das carteiras dos bancos se deve ao maior risco assumido pelas instituições na concessão dos empréstimos.

“Desde 2013 os bancos estão preocupados com a inadimplência e se tornaram mais seletivos no crédito. Mesmo com a Selic inalterada, as taxas vêm subindo porque o risco de inadimplência está maior”, avalia o diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira.

A forte recessão, com alta nos níveis de inflação e de desemprego, piora o cenário e carrega os juros para cima, afirma Oliveira. Como resultado do aumento do risco, os bancos elevam as suas provisões – dinheiro reservado nos balanços para cobrir possíveis perdas – e o valor das taxas cobradas.

No primeiro trimestre do ano, o Itaú reservou R$ 7,23 bilhões, alta de 31% na comparação com o período anterior. O Bradesco seguiu o mesmo caminho e guardou R$ 5,44 bilhões nos três primeiros meses do ano, aumento de 30%.

Menos subsídios

Para o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas Lívio Ribeiro, o aumento do spread – ganho dos bancos sobre as operações realizadas – não indica necessariamente uma elevação no lucro, mas sim um ajuste diante do atual cenário econômico.

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Segundo o pesquisador, o encarecimento do crédito subsidiado dos bancos públicos é um outro ponto a ser considerado na alta geral da carteira. O Banco Central indica que em março de 2013, ano de aumento nos subsídios das linhas das instituições públicas, a média de juros do crédito direcionado para pessoa física era de 6,86%. No mesmo mês de 2014, as taxas saltaram para 8,31%; no ano seguinte, tiveram queda de 7,87%; mas, neste ano, atingiram 10,07%.

Nesta categoria, encontram-se os empréstimos para financiamento imobiliário e rural, entre outros. “Nos últimos anos os bancos públicos adotaram uma gestão com spreads menores, principalmente em 2012 e 2014. Mas, com o fim dos subsídios, os custos e os spreads voltaram a se elevaram”, afirma.

Maus investimentos pesam sobre o balanço

O cenário econômico não é a única razão para as perdas dos principais bancos do país. Os investimentos em negócios que trouxeram prejuízos, como a empresa de sondas marítimas Sete Brasil, que pediu recuperação judicial em abril, também tiveram o seu papel nas provisões, consideram fontes ligadas ao mercado.

Ao divulgar o balanço do primeiro trimestre de 2016, o Bradesco informou que R$ 836 milhões foram destinados a possíveis perdas com um “caso corporativo” específico. A instituição, porém, não confirma que a provisão esteja ligada a Sete Brasil.

De acordo com analistas, devido ao aumento da verba para cobrir os calores, os bancos tendem a reduzir o volume de crédito, o que tem efeito direto sobre os valores cobrados.

Além disso, o analista de instituições financeiras da Austing Ratings, Miguel Santacreu, aponta que a concentração no setor bancário brasileiro observada nos últimos anos é outra razão para a elevação do crédito. “Antes havia mais bancos estaduais e de varejo. Mas, com menos instituições na praça, há redução na concorrência e aumento dos spreads.”

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